Montevidéu, 21 mar (EFE).- O Estado uruguaio assumiu nesta quarta-feira sua responsabilidade no desaparecimento em 1976 da argentina María Claudia García de Gelman, vítima do Plano Condor, em um ato em cumprimento de uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH) e qualificado pelo Executivo como ‘símbolo de reparação’.
Na sede do Parlamento uruguaio, em Montevidéu, o presidente José Mujica pronunciou um breve discurso no qual reconheceu a ‘responsabilidade institucional’ do Estado nesse caso e a participação do país no Plano Condor, como se denominam as ações repressivas coordenadas produzidas pelas ditaduras instaladas no Cone Sul nas décadas de 70 e 80.
O ato foi realizado após uma sentença imposta em 2011 pela CorteIDH que obrigava o Estado uruguaio a assumir sua responsabilidade pelo sequestro e desaparecimento de María Claudia García de Gelman e a supressão da identidade de sua filha Macarena.
Mujica, um ex-guerrilheiro que combateu a ditadura (1973-1985), afirmou que o Uruguai violou os direitos de María Claudia e de Macarena, cuja identidade foi recuperada no ano de 2000 graças aos esforços de seu avô paterno, o poeta argentino Juan Gelman.
O governante responsabilizou assim o Estado uruguaio pelo desaparecimento de María Claudia e de seu marido, Marcelo Gelman, que foi assassinado pouco depois.
‘María Claudia, grávida de oito meses, foi transferida a Montevidéu e levada ao centro clandestino de detenção que funcionava na sede do Serviço de Inteligência Militar, permanecendo até o dia de hoje desaparecida’, lembrou.
Juan Gelman e sua neta Macarena, que estiveram presentes no Parlamento durante a cerimônia, se mostraram comovidos e satisfeitos pelo reconhecimento.
Mesmo assim, Macarena assinalou que a atuação do Uruguai ‘não constitui nem o princípio nem o fim de absolutamente nada’ e que apenas marca ‘uma instância a partir da qual se pode construir algo melhor’. EFE