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Uma vitória triunfal do povo chileno

Além de unir o país, o sucesso do resgate dos mineiros é uma demonstração da competência e organização de que o Chile é capaz

Por Da Redação
14 out 2010, 00h52

O presidente Piñera percebeu que estava diante de uma dessas raras oportunidades que se apresentam aos governantes: a de reverter uma tragédia quase certa em uma vitória histórica

O resgate dos 33 mineiros da Mina de San José é um daqueles raros episódios que os países registram em seus livros de história e aos quais recorrem quando querem celebrar o “caráter nacional”. Quando o último trabalhador desceu da cápsula Fênix 2, às 21h55 desta quarta-feira, os chilenos estufaram o peito para cantar o hino nacional do país, felizes e orgulhosos da demonstração de coragem, organização e capacidade que o povo chileno acabava de dar ao mundo.

O final triunfal de um episódio que tinha tudo para terminar em tragédia só foi possível porque todos os envolvidos foram virtuosos nas tarefas que assumiram. Do presidente da República, Sebastián Piñera, que em meio a uma crise de popularidade assumiu perante o país o compromisso de salvar os trabalhadores enclausurados a 622 metros de profundidade, aos próprios mineiros, que jamais esmoreceram diante das dificuldades enfrentadas ao longo dos 69 dias de isolamento e utilizaram os vídeos produzidos para estimular a esperança do povo chileno no sucesso da empreitada.

Oportunidade única – O exemplo de união e capacidade que o Chile deu ao mundo começou a ser construído dezessete dias depois do desmoronamento, quando chegou a notícia de que os 33 desaparecidos estavam vivos. O presidente Piñera percebeu que estava diante de uma dessas raras oportunidades que se apresentam aos governantes: a de reverter uma tragédia quase certa em uma vitória histórica. Precisava, para isso, tirar aqueles trabalhadores com vida da mina e entregá-los em perfeita saúde às famílias. Piñera se deslocou de seu gabinete em Santiago até Copiacó, no Atacama. Foi mostrar pessoalmente aos fotógrafos e cinegrafistas de todo o mundo o bilhete enviado das profundezas da terra. Nele, em letras de forma grafadas com caneta vermelha, se lia: “Estamos bien em el refugio los 33”.

Sem chances para o acaso – A operação de resgate foi também um feito técnico considerável, coordenado pelos ministros chilenos da Mineração, Laurence Golborne, e da Saúde, Jaime Mañalich.

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A primeira tarefa enfrentada pelo ministro da Saúde foi alimentar corretamente os trabalhadores isolados. Até a descoberta de que estavam vivos, eles vinham se alimentando apenas de duas colheres de atum e meio copo de leite por dia. Racionavam as provisões existentes no refúgio em que se encontravam, à espera do salvamento.

Confinados a 622 metros de profundidade, sem iluminação e com pouca ventilação, eles viviam uma situação semelhante à enfrentada pelos astronautas em missões espaciais. Mañalich pediu, então, ajuda aos especialistas da Nasa, a agência espacial americana, que orientaram os chilenos na elaboração das rações, formadas por pequenas doses de alimentos condensados e com alta concentração de proteínas. Os mineiros também passaram a receber concentrações de glicose e medicamentos para combater possíveis danos ao estômago em função da pouca quantidade de comida.

Uma rotina de tarefas foi estabelecida para mantê-los ocupados, numa estratégia que pretendia evitar quadros depressivos e maiores danos psicológicos. Com a abertura de novos dutos de comunicação pelos engenheiros, foram instaladas câmeras e linhas telefônicas, o que ajudou o trabalho de monitoramento feito pela equipe médica designada pelo ministério.

A cápsula de Dhalbusch – Na frente técnica, o Ministério da Mineração reuniu seus melhores técnicos para estudar o plano de resgate. Concluiu-se que o modelo utilizado na mina alemã de Dahlbusch, em 1955, era o mais adequado. Lá, três trabalhadores foram resgatados de uma profundidade de 855 metros em cápsulas metálicas introduzidas no interior da mina por um duto. Em 1963, num novo acidente, outros onze foram retirados de uma profundidade de 58 metros com as mesmas cápsulas.

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Para que essa solução pudesse ser implantada, os técnicos abririam um duto de 58 centímetros de diâmetro no solo e por ele desceriam uma cápsula de salvamento semelhante àquela usada na Alemanha, só que aprimorada.

Novamente os técnicos da Nasa entraram em campo e auxiliaram os engenheiros chilenos no desenvolvimento da Fênix 2. Seguindo o projeto, a Marinha chilena fabricou três modelos da cápsula. A Fênix 1 foi usada nos primeiros testes, antes que fosse anunciada ao mundo a data de resgate. Já melhorada com os aprimoramentos determinados a partir dos testes, a Fênix 2 foi designada como cápsula principal de retirada. A terceira ficaria na reserva, caso a principal não agüentasse os 46 quilômetros que teria de percorrer nas 37 viagens de subida e descida pelo duto.

A comunicação – Assim que os engenheiros conseguiram instalar linhas de telefone e câmeras no interior da mina, a equipe de comunicação do La Moneda iniciou seu trabalho. O próprio presidente conversou com os mineiros, por telefone, em rede nacional de televisão. Vídeos de contato com as famílias, em que os mineiros demonstravam boa disposição física e psicológica, foram amplamente divulgados pela imprensa nacional e internacional. O país começava a se unir em torno da causa, o mundo voltava sua atenções para o Chile.

A cautela foi adotada quase como um mandamento pela equipe. A começar pela definição das datas de resgate divulgadas inicialmente, sempre mais distantes do que se comprovou depois. Antecipar prazos é sempre razão de alívio; descumpri-los, é fracasso. Outras questões, como os custos da operação, estimados pela imprensa chilena em 20 milhões de dólares, jamais foram colocadas em primeiro plano. O mais importante era salvar os 32 conterrâneos mais o trabalhador boliviano, a qualquer custo.

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Quando chegou a hora do resgate, Piñera colheu os frutos de todo o esforço feito para mudar o final que se desenhava trágico para aquele episódio. Plantado na boca da mina, recebeu familiares e os novos heróis nacionais à medida em que saíam da Fênix 2, devidamente decorada com a bandeira chilena. Nas ruas do país, gritava-se “Chi Chi Chi, Le Le Le” – brado que se tornou marca registrada deste momento de celebração.

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