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Um jesuíta chega ao trono de São Pedro

No Brasil, os jesuítas fundaram a cidade de São Paulo em 1554. Conhecidos pela educação, escolheram um colégio para dar origem ao povoado

Por Branca Nunes
13 mar 2013, 20h05

“É uma ordem preocupada com a formação cristã, fiel aos ensinamentos da igreja e que busca o diálogo com a cultura e a articulação entre o antigo, o atual e o novo”. Essa é uma das definições do que é ser jesuíta, segundo o padre Vicente Zorzo, ocupante do cargo de provincial da província do Brasil Meridional da Companhia de Jesus – ou Ordem dos Jesuítas. Ele ressalta que há muitas definições sobre o que significa ser jesuíta, mas essa é a sua preferida para apresentar em poucas palavras a ordem fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade Sorbonne e aprovada por bula papal em 1540.

Liderados por Iñigo López de Loyola, conhecido como Inácio de Loyola, os jesuítas têm como votos, além da pobreza e da castidade, a “obediência ao sumo pontífice quanto às missões”.

“O papa pode nos enviar a qualquer lugar do mundo”, explica padre Neto, do Colégio dos Jesuítas de Juíz de Fora, em Minas Gerais. Esse trabalho missionário é a principal particularidade dos membros da ordem. “Não temos a característica monástica, pelo contrário, somos missionários. Temos a missão de evangelizar o mundo. Se o papa precisar de alguém em algum lugar do planeta, sabe que pode contar conosco”.

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Embora o novo papa provavelmente não tenha sido escolhido por pertencer à ordem, os jesuítas têm características que condizem com as mudanças que a Igreja busca atualmente. Além do diálogo entre passado e presente, uma excelente formação intelectual, o olhar voltado para os que sofrem e a simplicidade.

“O nome escolhido pelo papa Francisco já indica como será o seu papado”, acredita padre Vicente. “São Francisco de Assis, conhecido pela simplicidade, tem aceitação universal – até os não cristãos o admiram – e São Francisco Xavier (um dos companheiros de Santo Inácio na fundação da Companhia de Jesus) é o padroeiro dos missionários. A união desses dois homens é um exemplo de energia e vitalidade”.

No Brasil, os jesuítas chegaram em 1549, quando começaram a catequizar os índios, e, em 1554, os padres Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e Manoel de Paiva iniciaram as atividades em Piratininga, onde seria fundada a cidade de São Paulo. Conhecidos pela educação e cultura, os jesuítas escolheram um colégio para dar origem ao povoado. Atualmente existem cerca de 670 jesuítas no Brasil e 22.000 espalhados pelo mundo, formando uma das ordens cristãs mais numerosas.

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Em 1773, quando a congregação foi suprimida pelo papa justamente pela grande influência que exercia no mundo, os jesuítas brasileiros foram expulsos do país por Marquês de Pombal, voltando apenas em 1814.

Nas décadas de 1960 e 1970, muitos jesuítas se envolveram com a teologia da libertação, corrente da igreja católica que buscava interpretar os ensinamentos de Jesus Cristo em vista dos problemas sociais. “Não foram os jesuítas como instituição, mas muitos membros da ordem se envolveram com a teologia da libertação”, afirma o padre João Batista Libânio, professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte (Faje).

Os integrantes da ordem são conhecidos pela valorização da cultura, tendo fundado inúmeras universidades e colégios pelo mundo. “Temos a preocupação de formar homens e mulheres no serviço da fé e da Justiça”, afirma padre Vicente.

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Fiéis aos ensinamentos da Igreja, os jesuítas ganharam bastante reconhecimento no papado de Bento XVI, que recorreu à congregação principalmente para atividades missionárias. “Ele sempre nos demonstrou muita estima e confiança”, afirma padre João Batista.

“Hoje, há jesuítas muito conservadores e jesuítas muito liberais. Acho que o cardeal Bergoglio tem os dois jeitos. Em assuntos da Igreja, ele é conservador e tradicional, mas, em assuntos sociais, ele é liberal. Parte do trabalho da comunidade religiosa é fazer da terra um lugar um pouco mais justo, um pouco mais pacífico e igualitário e é nesse sentido que Bergoglio é liberal”, analisa William Cook, professor de história da Igreja Católica da Universidade Estadual de Nova York.

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Uma das particularidades dos jesuítas são os exercícios espirituais de 30 dias, “um processo de reflexão que busca mostrar o que Deus quer para você”, ensina padre Vicente. Nesse retiro espiritual, os fiéis permanecem 30 dias em silêncio absoluto. Segundo o provincial, o papa Francisco deve ter passado por essa experiência de duas a três vezes durante a vida.

O retiro é inspirado no livro Exercícios Espirituais, escrito por Santo Inácio a partir de sua experiência de conversão. Enquanto esteve isolado preparando este trabalho, Inácio, segundo padre Vicente, percebeu “que Deus fazia parte da sua vida e passou a encontrá-lo em todos dos lugares”.

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