Tiros são ouvidos na Praça da Independência e televisão mostra corpos de manifestantes carregados em macas. Clima segue tenso na capital ucraniana
Por Da Redação
20 fev 2014, 05h33
A trégua anunciada pelo presidente ucraniano Viktor Yanukovich para interromper o derramamento de sangue nos conflitos entre a polícia e manifestantes em Kiev não durou sequer um dia. Poucas horas depois do acordo com a oposição ser divulgado, a Praça da Independência, ponto nevrálgico dos protestos contra o governo, voltou a ser o cenário de enfrentamentos. Pelo menos 25 manifestantes morreram nesta quinta-feira no centro de Kiev, reportam jornalistas da agência France-Presse. Um repórter viu oito corpos diante da sede dos correios na Praça da Independência e outros dez nas proximidades, em frente ao hotel Kozatski. Outro jornalista contou sete corpos na entrada do hotel Ukraina, do outro lado da praça. As mortes de hoje elevam o número de fatalidades nos choques desta semana para mais de cinquenta.
Não está claro qual lado deu início ao confronto, mas tiros foram ouvidos e corpos de manifestantes foram mostrados pela televisão sendo carregados em macas. Ambulâncias foram enviadas ao local. Enquanto isso, os opositores do presidente lançavam coquetéis molotov contra a polícia, que respondia com jatos d’água. O recrudescimento da violência começou nesta terça-feira, com ao menos 26 mortes em confrontos entre forças policiais e manifestantes. A violência no país se alastra como jamais havia acontecido desde o início das manifestações, três meses atrás.
Mesmo com novo surto de violência, a União Europeia (UE) decidiu manter uma reunião entre os ministros das Relações Exteriores de França, Alemanha e Polônia com o presidente Viktor Yanukovich. Os ministros deixaram Kiev e voaram para Bruxelas. O encontro serviria para a discussão de medidas para interromper a crise no país, que foi ameaçado com sanções econômicas pela União Europeia – tais sanções, contudo, não estariam em pauta nesta quinta-feira.
Acordo com oposição – Rompido em poucas horas, o acordo de trégua havia sido anunciado por Yanukovich depois de uma reunião com três lideranças opositoras. O comunicado do governo afirma que serão iniciadas negociações “com o objetivo de acabar com o derramamento de sangue e estabilizar a situação, no interesse da paz social”. Arseniy Yatsenyuk, ex-ministro da economia e líder do partido Pátria, confirmou que “uma trégua foi declarada”. “O principal é proteger a vida humana”, diz a nota divulgada na página do partido na internet. Yatsenyuk participou da reunião ao lado do ex-campeão mundial de boxe Vitali Klitschko, líder do partido Udar (“soco”, em ucraniano) e membro do Parlamento, e do nacionalista Oleh Tyahnibok.
Horas antes do anúncio, Yanukovich substituiu o chefe do Exército, o coronel-general Volodymyr Zamana. A Presidência ucraniana não informou o motivo da troca, feita depois que o Ministério da Defesa declarou que o Exército poderia ser acionado para participar de uma operação nacional “antiterrorista” para restabelecer a ordem no país.
Zamana havia sido apontado chefe do Exército há dois anos. Ele será substituído pelo almirante Yuriy Ilyin, que já comandou a Marinha ucraniana. Em uma declaração publicada pela agência France-Presse no início deste mês, o novo comandante defendeu que “ninguém tem o direito de usar as Forças Armadas para limitar os direitos dos cidadãos”.
Culpa – Em meio ao clima de tensão após os violentos choques de terça, o presidente fez nesta quarta um pronunciamento na TV culpando opositores pelos confrontos e ameaçando levá-los à Justiça por agirem de forma inconstitucional. “Os líderes da oposição negligenciaram o princípio da democracia segundo o qual se chega ao poder por meio das eleições, e não pelas ruas ou praças. Eles ultrapassaram os limites, apelando ao povo que recorra às armas”, disse.
A crise na Ucrânia começou em novembro do ano passado, quando Yanukovich desistiu de um acordo com a União Europeia em nome de uma maior aproximação com a Rússia e detonou uma onda de insatisfação popular que tomou as ruas, ganhou força após a aprovação de um pacote de leis antiprotesto e recentemente provocou a queda do primeiro-ministro.
Os manifestantes, liderados por três políticos oposicionistas, entraram em trégua com o governo no início de fevereiro, enquanto os dois lados iniciaram negociações. O presidente fez concessões, como a promessa de anulação das leis que limitavam a liberdade de expressão, mas a oposição exige mais reformas. Entre elas estão uma revisão constitucional que reduza os poderes do presidente, devolvendo prerrogativas ao Parlamento, ou que um novo governo seja formado.
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