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Tunísia: o principal partido eleito precisará formar parcerias

País depende economicamente da Europa e deve se manter aberto ao Ocidente

Por Da Redação
25 out 2011, 11h00

O partido islamita Ennahda, grande vencedor das primeiras eleições livres da Tunísia, tornou-se ator principal no cenário político, mas terá que fazer o dever de casa para assegurar um país aberto que é ainda dependente economicamente da Europa, acreditam os analistas. O partido declarou vitória na segunda-feira, enquanto os resultados oficiais serão divulgados apenas na noite desta terça-feira. Porém, já afirmou que formará uma ampla coalizão na Assembleia, encarregada de redigir a nova constituição e designar o novo Poder Executivo.

“Ennahda deve ter cuidado para não alienar seus parceiros políticos e seus jovens eleitores, que deram seus votos por ainda estarem ligados a um modo de vida”, disse Issaka Souare, especialista em África do Norte, que defende a abertura do país para o Ocidente. Para o historiador tunisiano Fayçal Chérif, Ennahda não quer dar a impressão de que procura impor suas vontades a uma sociedade tunisiana que não está pronta para abrir mão de suas liberdades, nove meses após uma revolução popular.

O partido não falhou e imediatamente se dirigiu na direção de investidores e das mulheres. “Queremos assegurar nossos parceiros: esperamos que muito em breve retornemos à estabilidade com condições favoráveis ao investimento”, declarou na segunda-feira Abdelhamid Jlassi, diretor executivo do partido. Para Issaka Souare, está claro que Ennahda “não pode permitir que as relações da Tunísia com os outros países ocidentais se deteriorem”, já que o turismo representa aproximadamente 10% do PIB. Entre janeiro e setembro de 2011, o setor deixou de arrecadar 780 milhões de euros, uma queda de 39,4% em relação ao mesmo período de 2010.

Na segunda-feira, com o anúncio das primeiras projeções das eleições, todos os valores da bolsa de Túnis estavam em baixa. Durante a tarde, o movimento islamita repetiu que está aberto a todos os partidos “sem exceção” para formar uma “aliança política estável”. Nada de sharia (lei islâmica) na Tunísia, destacou, enquanto a vizinha Líbia diz que adotará a lei islâmica como nova base legal, três dias após a morte de Muamar Kadafi.

Temores – Um dos motivos de preocupação quanto ao futuro da esquerda é a indefinição deste movimento: esmagada pelo presidente Zine el Abidine Ben Ali, manteve sua força intacta nas eleições com um discurso público moderado, mas mais consistente nas mesquitas. Seja na situação ou na oposição, a esquerda questiona sobre a nova face – moderada ou radical – do Ennahda, que será descoberta apenas após seu congresso previsto para novembro.

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Para Pierre Vermeren, a eleição por si só é reveladora quanto à nova realidade política: os tunisianos colocaram Ennahda na frente, mas com uma retarguarda. “Se juntarmos a voz dos partidos liberais, de esquerda e laicos, alcançamos 25/30%, o que é bastante. Não encontramos isso em nenhum outro país do Maghreb. Mesmo sem estar ainda estruturada, será uma força importante na Assembleia”, afirmou.

Já o líder do Ennahda, Rachid Ghannouchi, declarou publicamente que não acreditava num estado secular, preferindo a imposição de uma versão “branda” da sharia – o que não se sabe exatamente o que significa. “O que é entendido como secularismo é diferente no mundo árabe e na Turquia. No mundo árabe, o secularismo está ligado a ditaduras e opressão, enquanto na Turquia está ligado à democracia e à liberdade de escolha”, disse Ghannouchi ao jornal turco Hürriyet Daily New. “A sharia não é um alienígena nas nossas sociedades”, acrescentou.

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Constituição – Independentemente de seu programa, “não há nenhuma chance de o Ennahda ditar sua lei na redação da nova Constituição, mesmo no quadro de uma coalizão”, afirmou Sherif, lembrando que a sociedade tunisiana foi por muito tempo secularizada. O partido deverá negociar com formações de esquerda, principalmente com o Congresso pela República (CPR) de Moncef Marzuki e o Ettakatol de Mustafah Ben Jaafar, partidos dirigidos por antigos opositores e que disputam o segundo lugar nas eleições.

“Uma aliança com um partido como o Ettakatol ofereceria uma garantia forte, pois este é um movimento democrático que continuará extremamente vigilante em realação as liberdades fundamentais”, acredita o historiador francês Pierre Vermeren, especialista do Maghreb. Será necessário, contudo, monitorar qual será “o quorum necessário para futuras modificações na constituição. Se for aplicada maioria simples, deixará o campo livre para o Ennahda e seus aliados”, ressaltou.

(Com agência France-Presse)

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