Maribel Izcue.
Tóquio, 14 dez (EFE).- A tragédia tripla com terremoto, tsunami e acidente nuclear obrigaram o Japão a mobilizar todos os seus recursos para enfrentar sua maior crise desde o pós-guerra, que deixou quase 20 mil mortos, abateu a economia e abriu uma dúvida sobre a segurança das centrais atômicas.
No dia 11 de março, o arquipélago foi atingido com força por um terremoto de 9 graus na escala Richter, o quarto maior registrado na história, com epicentro a 130 quilômetros do litoral da província de Miyagi, no nordeste.
O Japão, um país acostumado com os tremores, nunca tinha vivido nada semelhante: comunicações, eletricidade e transportes foram bloqueados em toda a faixa do nordeste, enquanto foram disparados os alarmes por um potente tsunami, que menos de uma hora depois do terremoto alcançou com força devastadora a costa oriental.
A grande quantidade de água varreu povoados inteiros e carregou edifícios, veículos e infraestruturas nas províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima, onde a tragédia matou pelo menos 19.447 pessoas e deixou pela frente um trabalho de reconstrução avaliado em cerca de 180 bilhões de euros.
Na província de Fukushima, ondas de até 15 metros atingiram com violência a central de energia atômica de Daiichi, paralisaram os sistemas de refrigeração e abriram a pior crise nuclear desde Chernobyl.
Nos arredores da central, cerca de 80 mil famílias tiveram que deixar precipitadamente suas casas sem data de retorno, enquanto foi declarada uma zona de exclusão em um raio de 20 quilômetros por causa dos elevados níveis de radioatividade.
O acidente foi catalogado como nível 7, o mais alto da escala INES da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e transbordou todos os protocolos de segurança da central, que não tinha considerado possível um cenário como o que aconteceu.
Nos meses seguintes, milhares de operários, bombeiros, militares e funcionários terceirizados trabalharam em condições extremas, até que em junho foi instalado um circuito fechado de refrigeração, que nos meses seguintes permitiu controlar paulatinamente a situação, embora não tenha sido possível resolvê-la.
A expectativa é de que no início de 2012 seja alcançada a parada fria dos três reatores danificados com uma temperatura estável abaixo dos 100 graus centígrados, mas as feridas de Fukushima continuarão abertas muito além, pois acredita-se que desmantelar a central levará mais de três décadas.
O medo da radioatividade danificou seriamente a indústria da região, pois a detecção de elevados níveis de césio na carne bovina causou a proibição temporária de sua venda, e o mesmo aconteceu no final do ano com o arroz de mais de 4 mil fazendas de Fukushima.
Milhares de toneladas de água contaminada foram jogadas ao mar desde o início da crise em um revés para as comunidades pesqueiras da região, que tiveram sua atividade restringida após ser detectada uma quantidade excessiva de césio em algumas capturas.
As consequências do acidente também foram sentidas no restante do arquipélago em forma de restrições energéticas, já que a crise obrigou a paralisar por segurança dois terços dos 54 reatores nucleares do país.
O calor da crise nuclear reavivou o debate internacional sobre as centrais atômicas, e a Alemanha se comprometeu a abandonar este tipo de energia até 2020, enquanto o Governo japonês assegurou que reduzirá sua dependência desta fonte, embora não ofereceu um programa concreto nem deteve suas exportações neste setor.
Além das consequências humanas e da fatura econômica, a catástrofe se refletiu em uma nova virada política no Japão. A avalanche de críticas pela gestão da crise obrigou o primeiro-ministro Naoto Kan a apresentar sua renúncia no final de agosto.
Kan foi substituído por seu companheiro de partido Yoshihiko Noda, um ex-ministro de Finanças que se comprometeu a enfrentar a reconstrução do país sem afogar, ainda mais, suas deterioradas contas públicas. EFE