Televisões estatais dão pouco destaque a manifestações, diz brasileira
Já as estrangeiras mostram imagens da multidão e criticam proibições contra Al Jazira
“As televisões estatais estão exibindo mais imagens do novo gabinete ministerial do que das próprias manifestações”
Larissa Amorim, analista de relações internacionais
A brasileira Larissa Amorim, analista de relações internacionais e casada com um engenheiro egípcio há dois anos e meio, mora em um subúrbio perto do Cairo. Ela acompanha as manifestações contra o presidente, Hosni Mubarak, apenas pela televisão. Em entrevista por telefone ao site de VEJA, ela disse que só consegue ter uma ideia do que acontece no Egito graças às redes privadas de TV. Isso porque as televisões estatais estão exibindo mais imagens das cerimônia de nomeação dos novos integrantes do governo e as ações da equipe.
Segundo Larissa, os protestos têm pouco destaques na programação. “A cobertura das TVs públicas está focada na proposta de diálogo de Mubarak”, acrescentou, referindo-se à oferta do presidente de negociar com as forças políticas para realizar reformas constitucionais.
Ela conta que as redes do governo também têm colocado no ar cidadãos e até artistas para falar da situação. “Eles exibem depoimentos de pessoas sobre as manifestações por telefone, mas geralmente sem imagens”, enfatizou.
Já a cobertura mais crítica fica por conta das televisões privadas, especialmente as estrangeiras, como o serviço internacional da rede britânica BBC e os canais da Al Jazira. A segunda emissora, no entanto, teve suas operações proibidas, no último domingo, pelo ministério da Informação. Em um comunicado após a proibição, a rede de TV árabe informou que “interpreta esta decisão como um ato destinado a sufocar e reprimir a liberdade de imprensa da rede e de seus jornalistas”.
Depois disso, seis jornalistas do serviço em inglês da emissora foram presos e libertados logo em seguida. O grupo teve sua câmera confiscada. “Todo mundo ficou sensibilizado com a censura à Al-Jazeera. A BBC internacional tem apoiado a emissora árabe e falado sobre o assunto”, relatou Larissa.
Baseada no Catar, a Al Jazira foi fundada em 1996 e tem mais de 400 repórteres em cerca de 60 países, com operações em árabe e em inglês.