O governo dos Estados Unidos justificou o ataque que resultou na morte do general iraniano Qassem Soleimani como meio de evitar um conflito maior com o Irã. Independentemente do mérito dessa explicação, o Irã de fato exerce influência sobre milícias e grupos formais espalhados pelo Oriente Médio e norte da África e há suspeita de manter células em outras regiões, como a tríplice fronteira do Brasil, Paraguai e Argentina.
Do Líbano ao Iraque, os grupos paramilitares xiitas combatem os Estados Unidos e seus aliados, como Israel, ao mesmo tempo em que atuam em operações antiterroristas contra grupos sunitas, como o autointitulado Estado Islâmico e Al Qaeda.
A façanha de alinhar os grupos xiitas com objetivos diferentes veio do próprio Soleimani. Os Estados Unidos já o acusou de querer exportar a ideologia da Revolução Islâmica em 1979 a outros países, e o general estaria fazendo justamente isso, valendo-se dessas milícias.
No Iraque, o principal grupo apoiado pelo Irã é o Forças de Mobilização Popular, uma organização guarda-chuva que abrange diversas milícias, como Asaib Ahl Haq, Kataib Hezbollah, Harakat Hezbollah al-Nujaba e a Organização Badr.
Jamal Jaafar Ibrahimi, fundador do Kataib Hezbollah mais conhecido como Abu Mahdi al-Muhandis, morreu no ataque de drone em Badgá que eliminou Soleimani. Ambos estavam no mesmo veículo bombardeado.
Soleimani desempenhou um papel-chave na guerra civil da Síria, na qual atuou para manter o regime do presidente Bashar Assad, e na luta contra o Estado Islâmico no Iraque.
No Líbano, o Hezbollah é o maior aliado de Teerã e jurou vingar e seguir os passos do general iraniano assassinado. O grupo foi criado com a ajuda da Guarda Revolucionária iraniana, em 1982. Nos anos recentes, sua atuação ultrapassou as fronteiras do país e alcançou, entre outros, o Iraque e a Síria.
Estabelecido com a meta de combater as forças israelenses que haviam invadido seu país, o Hezbollah continuou sendo um inimigo jurado de Israel, que o vê como a maior ameaça junto às suas fronteiras. Recentemente, o Hezbollah realizou um ataque contra o país judaico que alimentou temores de um novo conflito entre as partes.
Já no Iêmen, o grupo rebelde houthi se alinha ao Irã por conta de outro inimigo em comum: a sunita Arábia Saudita. A guerra devasta o país há cinco anos e aparenta não ter fim. A tragédia humanitária do conflito é vista como uma das maiores do mundo.
Um recente ataque contra as refinarias da estatal de petróleo saudita foi apontado como de autoria do Irã, apesar de Teerã negar responsabilidade e de os rebeldes houthis terem assumido a autoria.
Grupos palestinos
Apesar do grupo Hamas ser de maioria sunita, o que o colocaria como adversário de Teerã, a aliança somente é possível por terem em Israel o seu inimigo em comum. Por meio de Soleimani, o grupo palestino que comanda a Faixa de Gaza tem uma divisão armada poderosa graças ao amparo financeiro e militar da República Islâmica. Estima-se que o grupo possua cerca de 30.000 combatentes e um arsenal com milhares de foguetes.
Já o grupo Jihad Islâmica é visto como uma organização mais comprometida com a pauta oficial do Irã do que o Hamas, apesar dos poucos combatentes e armas. Recentemente, Israel matou o comandante do grupo em um ataque à Gaza. A ação foi retaliada com foguetes, mas sem nenhuma morte israelense.
(Com Reuters)