Sem Kim e armas nucleares, Coreia do Norte marca aniversário com desfile
Líder norte-coreano enfrenta talvez o seu momento mais tenso no poder, com duro lockdown contra Covid e peso de sanções internacionais
Com uma parada militar marcada pelo silêncio do líder Kim Jong-un, a Coreia do Norte comemorou seu 73º aniversário, relatou a mídia estatal nesta quinta-feira, 9, publicando fotografias de soldados perfeitamente enfileirados, carros militares e fogos de artifício.
Uma ala inteira foi dedicada a pessoas vestidas com trajes de proteção contra materiais tóxicos, como armas químicas e radiação. Segundo a agência de notícias estatal KCNA, as autoridades de saúde norte-coreanas “estavam cheias de entusiasmo patriótico para exibir em todo o mundo as vantagens do sistema socialista, enquanto protegia firmemente a segurança do país e de seu povo contra a pandemia mundial”.
Apesar da decisão de fechar fronteiras, a Coreia do Norte não confirmou oficialmente nenhum caso de Covid-19, apenas suspeitas.
Embora Kim tenha participado e saudado a população presente no evento, que começou na madrugada de quarta para quinta-feira na praça principal de Pyongyang, ele não discursou, algo frequente em outros anos.
Além da falta de uma fala à nação, o evento também foi marcado pela falta de exibição de mísseis balísticos, que não foram vistos ou mencionados em relatos da mídia estatal. No ano passado, em celebração anterior, o líder norte-coreano havia se gabado das capacidades nucleares do país e mostrado mísseis balísticos intercontinentais nunca antes vistos.
Mais tarde, em janeiro deste ano, às vésperas da posse do presidente americano, Joe Biden, outra parada militar exibiu projéteis semelhantes para submarinos, descritos pela KCNA como “a arma mais poderosa do mundo”.
De acordo com especialistas, Kim enfrenta talvez o seu momento mais tenso no poder, à medida que se aproxima de quase uma década no comando do país. Assim, a decisão de não fazer um discurso inflamado ou exibir armas nucleares podem ter sido calculadas para deixar espaço de manobra para futuras negociações com potências internacionais, sobretudo Estados Unidos e Coreia do Sul.
Negociações nucleares com os EUA estão em um impasse desde o fracasso da cúpula em Hanói entre Kim e o então presidente americano Donald Trump sobre alívio de sanções e o que a Coreia do Norte daria em retorno. O governo Biden, por sua vez, prometeu uma abordagem “prática e calibrada”, incluindo esforços diplomáticos, para persuadir o Norte a abandonar programas nucleares.
Como a Coreia do Norte fechou suas fronteiras para conter a disseminação da Covid-19, o comércio com a China despencou e o país é extremamente dependente de Pequim para alimentos, fertilizantes e combustível. Além disso, Pyongyang também luta contra sanções internacionais, impostas, no geral, por causa de seus programas nucleares.
A situação é tão complicada que, em junho, Kim reconheceu em um raro alerta que o país se prepara para uma possível crise alimentar nos próximos meses. Segundo o governante, o setor agrícola não conseguiu cumprir suas metas de grãos devido aos tufões no ano passado, que causaram inundações.
É altamente incomum para Kim Jong-un reconhecer publicamente a escassez de alimentos. Em janeiro, ele já havia admitido que sua estratégia de desenvolvimento econômico do país fracassou em “quase todos os âmbitos” Em discurso, o chefe supremo do país mencionou o fracasso do plano quinquenal de desenvolvimento econômico adotado no último congresso de 2016. Os resultados ficaram “muito abaixo de nossos objetivos em quase todos os âmbitos”, afirmou, de acordo com a agência oficial de notícias KCNA.