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“Se sentisse que meu partido incentiva radicais como Breivik, pediria seu fechamento”, diz porta-voz do FrP

Morten Hoglund, parlamentar da sigla de direita à qual o atirador já pertenceu, explica as ideias extremistas de Breivik e atesta: 'não concordamos com ele'

Por Nana Queiroz
29 jul 2011, 23h49

“O que Breivik fez será um sinal de alerta para partidos que estão se inclinando a princípios mais extremos. Eles verão onde isso pode parar. Contudo, há uma grande distância entre o que Breivik defendeu em seu manifesto e o programa de qualquer partido europeu”

Morten Hoglund, parlamentar norueguês e porta-voz do Partido do Progresso (FrP), ao qual pertenceu Breivik

Há pelo menos uma vítima não contabilizada dos tiros que Anders Behring Breivik disparou na ilha de Utoya no último dia 23: o norueguês Partido do Progresso (FrP). Em 2002, a sigla de direita aceitou o jovem como um de seus membros. Hoje, sofre um grande abalo em suas estruturas e tem que vir a público explicar-se sobre a origem das ideias radicais e anti-islâmicas do atirador.

Em entrevista ao site de VEJA, Morten Hoglund, parlamentar norueguês e porta-voz do partido, esforça-se por desvincular seu grupo político das atitudes de Breivik. “Muitos partidos europeus, como o nosso, defendem que temos que frear as imigrações, o que é um debate natural e aceitável. Discutir essas questões está muito distante de pregar o ódio a imigrantes”, afirma. Ele ainda promete: “Se eu sentisse, por um minuto sequer, que meu partido incentiva radicais como Breivik, pediria seu fechamento imediato”. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Breivik foi afiliado a seu partido por alguns anos. Como ele se comportou durante este período? Ele foi membro de nosso partido de 2002 a 2006. Ou seja, há cinco anos ele não é mais relacionado conosco. Nós contamos com 25.000 membros. Ele era apenas mais um deles. Naquela época, o partido precisava tanto de ajudantes que qualquer pessoa que aparecesse em uma reunião seria admitido. Não me lembro dele, acho que nunca o encontrei. Aqueles que se recordam, dizem que Breivik era tímido. Nunca manifestou esse furor que tem hoje. Ele deixou o partido por conta própria, por achar que não correspondia às suas expectativas pessoais – e estamos gratos por isso. Não acreditamos nas ideias que ele defende.

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O que seu partido defende, então? Somos um clássico partido liberal, a favor do livre mercado e que prega uma posição dura no combate ao crime. Temos assistido a um aumento na imigração e queremos que esses números sejam reduzidos para evitar conflitos. Defendemos a integração dos imigrantes e tentamos não pregar atitudes extremas a esse respeito. Como é normal em toda sociedade europeia moderna, temos pessoas de várias etnias e nacionalidades em nosso partido. Não temos um problema com o islamismo ou quem segue essa religião. Pregamos, pelo contrário, a liberdade de culto. Queremos que existam muçulmanos e mesquitas na Noruega. Porém, há algumas culturas, como a do islamismo radical, que podem ser problemáticas no que se refere à igualdade entre os gêneros, Direitos Humanos ou respeito aos homossexuais. Nós criticamos pessoas que têm essas visões extremistas. Acreditamos que todos que vivem na Noruega devem aceitar a lei norueguesa, os valores noruegueses, nossa liberdade e nossa democracia.

Com que partidos da direita europeia sua legenda se identifica? Somos parecidos com os conservadores britânicos e o partido governista da Dinamarca. No Parlamento da Noruega, somos o partido mais à direita, mas de maneira alguma somos o partido mais à direita no país. Há legendas radicais – essas, sim, anti-imigração – que nem sequer estão representadas no Congresso. Não temos vínculos com os principaís partidos da extrema direita europeia.

Quem são esses partidos ultranacionalistas europeus a que o senhor se refere? Na França, a Frente Nacional. Os dois Partidos da Liberdade, o da Holanda e o da Áustria; os Verdadeiros Finlandeses, na Finlândia; o Democratas da Suécia. Repito, não pertencemos a essa família política. Temos algumas semelhanças com esses partidos, assim como temos semelhanças com partidos de esquerda.

As ideias dos partidos de extrema-direita europeus estão propiciando terreno para que radicais como Breivik surjam? Espero que não. E também acho que o que ele fez será um sinal de alerta para partidos que estão se inclinando a princípios mais extremos. Eles verão onde isso pode parar. A maioria dos partidos de extrema-direita da Europa são muito nacionalistas, protecionistas e anti-internacionalistas. Nós não. Somos abertos à globalização e ao mercado global. Nós aceitamos que a cultura norueguesa vai mudar constantemente conforme nos ajustamos a pessoas de diferentes etnias. E isso é bom, não queremos manter nossas tradições em um museu. Só queremos preservar, com certeza, nossos valores de tolerância e liberdade. De toda forma, há uma grande distância entre o que Breivik defendeu em seu manifesto e o programa de qualquer partido europeu.

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Uma das fotos que acompanha o manifesto de 1500 páginas escrito por Anders Breivik
Uma das fotos que acompanha o manifesto de 1500 páginas escrito por Anders Breivik (VEJA)

A expulsão de muçulmanos na Noruega cresceu dramaticamente nos últimos seis anos. Em 2004, por exemplo, 15 afegãos foram deportados. Enquanto isso, em 2010, esse número foi de 267. Por que isso vem acontecendo? Está crescendo um sentimento anti-islâmico na Noruega e na Europa? É impossível dizer que não existe um sentimento desse tipo, mas não é uma emoção generalizada. O governo norueguês está começando a deportar, em grandes números, pessoas que estão aqui ilegalmente. Muitos partidos europeus também defendem que temos que frear essas imigrações, o que é um debate natural e aceitável. Discutir essas questões está muito distante de pregar o ódio a imigrantes.

Os imigrantes islâmicos têm mais dificuldades que os demais para se integrar às sociedades europeias? Na Noruega, a maioria deles se integra relativamente bem. Mas há algumas pessoas mais conservadoras que veem nossa sociedade como liberal demais. Elas se ofendem pela maneira como as mulheres se vestem e com a liberdade que os gays têm de viver sua orientação sexual. Na escola, há alguns problemas no que se refere a educar as garotas sexualmente. Contudo, na Noruega o choque não é tão forte quanto em outros países europeus, como a França. O número de imigrantes muçulmanos nesses países é maior que na Noruega, para começar.

Como seu partido sugere que seja resolvido o problema da imigração? Estamos focando agressivamente na questão da integração. Queremos nos assegurar que todas as crianças nascidas na Noruega saibam falar norueguês além da língua de seus pais. Há crianças que chegam à escola aos seis anos e não conseguem entender os professores. Isso é inaceitável. Alguns grupos étnicos, como os somalis, também tem muita dificuldade de se integrar ao mercado de trabalho. Isso é um problema porque se não têm emprego, eles se voltam a outras atividades, como o tráfico de drogas. O governo devia ser mais duro na hora de lidar com esse problema. Não temos muito desemprego, queremos os imigrantes trabalhando. Nós temos que nos ajustar para receber essas pessoas, mas eles também têm que se adaptar a uma sociedade aberta.

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Como os partidos de extrema-direita europeus podem evitar que seus membros apelem ao radicalismo e à violência? Todos nós queremos encontrar essa fórmula secreta. Se essas pessoas falassem abertamente sobre suas ideias, isso seria mais facilmente controlado. Poderíamos expulsá-los do partido ou mesmo denunciá-los à polícia. Se agirem sozinhos como Breivik, entretanto, isso se torna muito difícil. Também temos que avaliar se algo que estamos fazendo ou dizendo está alimentando esse tipo de pensamento. Contudo, a inspiração para Breivik parece ter vindo muito mais de escritores radicais internacionais – como o terrorista Timothy McVeigh, dos Estados Unidos – do que de mensagens partidárias. O que digo é que se eu sentisse, por um minuto sequer, que meu partido incentiva radicais como Breivik, pediria seu fechamento imediato

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