Rússia propõe cessar-fogo para retirada de civis; Kiev ainda não aceitou
Uma medida similar, com efeito em quatro cidades, já havia sido anunciada para esta segunda-feira, mas foi criticada pela Ucrânia
O governo da Rússia anunciou um cessar-fogo para às 10h, horário local, da próxima terça-feira (8) e disse estar pronto para implementar corredores humanitários para auxiliar na retirada de civis da Ucrânia, relatou a agência de notícias russa, Interfax. O anúncio acontece poucas horas depois da terceira rodada de negociações entre os dois países terminar com “pequenos desenvolvimentos positivos”, de acordo com um negociador ucraniano.
“Para fins de uma operação humanitária eficiente, a Federação Russa anuncia um ‘regime de silêncio’ e está pronta para fornecer corredores humanitários em Kiev e cidades próximas para Belarus, com posterior ida à Rússia, e no sul, mediante acordo com a Ucrânia”, disse o governo em um comunicado.
A Ucrânia ainda não concordou oficialmente com a proposta de cessar-fogo.
Além da capital, Kiev, corredores semelhantes também serão fornecidos a partir das cidades de Chernihiv, Sumy, Poltava, Kharkiv, Lviv, Uzhhorod, Ivano-Frankivsk, Mariupol, Novoazovsk e Zaporizhzhya. Em todas elas, serão fornecidos posteriormente transportes aéreo ou ferroviário em direção à Rússia.
Uma medida similar, com efeito em quatro cidades ucranianas, já havia sido anunciada para esta segunda-feira, mas foi criticada pela Ucrânia.
“Essa é uma proposta completamente imoral. O sofrimento das pessoas está sendo usado para criar uma imagem televisiva. São cidadãos ucranianos, eles deveriam ter o direito de ir para território ucraniano”, diz o texto.
O subsecretário-geral das Nações Unidas para assuntos humanitários, Martin Griffiths, reforçou a necessidade de corredores de ajuda humanitária seguros em zonas de conflito na Ucrânia. “Civis em lugares como Mariupol, Kharkiv, Melitopol e outros precisam desesperadamente de ajuda, especialmente suprimentos médicos que salvam vidas”, disse o funcionário da ONU em uma reunião de emergência, segundo a agência France-Presse.
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Após dois encontros na semana passada que renderam entendimentos escassos para proteção de civis, uma terceira rodada de negociações entre Moscou e Ucrânia terminou nesta segunda-feira, 7, com “pequenos desenvolvimentos positivos”. Apesar da fala do representante ucraniano, a implementação de corredores humanitários, que têm objetivo de facilitar a retirada de civis e a entrada de itens básicos como remédios, tem se mostrado difícil em cidades afetadas pela guerra.
Durante o fim de semana, duas tentativas de retirada de civis fracassaram. Grupos separatistas pró-Rússia e a Guarda Nacional da Ucrânia trocaram acusações de violações à ordem de interromper momentaneamente o conflito.
A Rússia acusa nacionalistas ucranianos de impedir a saída de civis da região, usando a população como ‘escudo humano’. “Devido à falta de vontade do lado ucraniano de influenciar os nacionalistas ou de estender o cessar-fogo, as operações ofensivas foram retomadas”, disse o major-general Igor Konashenkov.
As autoridades da cidade de Mariupol, por sua vez, disseram que a retirada de civis foi adiada porque militares russos não estariam respeitando a trégua. As prefeituras de Mariupol e Volnovakha disseram que as cidades são alvos de bloqueios e ataques russos, impedindo a saída segura dos civis. Mesmo após o acordo, a Ucrânia vinha alegando desrespeito dos russos ao acordo com as regiões sendo alvos de constantes ataques. As duas cidades foram as únicas autorizadas a funcionar como um corredor de fuga para os civis.
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Mais de 2.000 civis foram mortos desde o início da invasão russa à Ucrânia, segundo Kiev, e centenas de estruturas, como instalações de transporte, hospitais, jardins de infância e prédios residenciais foram destruídos, relatou o serviço de emergência ucraniano na quarta-feira. Nesta segunda-feira, a Organização das Nações Unidas relatou que há mais de 1.200 pessoas afetadas, sejam mortas ou feridas, desde o início da guerra na Ucrânia. Ao todo, 406 pessoas teriam morrido, segundo levantamento da organização.