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Robinson Crusoé italiano enfrenta despejo de sua ilha deserta

Desde que seu barco quebrou em 1989, Mauro Morandi vive em Budelli, perto da Sardenha; Itália pretende transformar ilha em 'observatório ambiental'

Por Amanda Péchy Atualizado em 15 jul 2020, 20h37 - Publicado em 15 jul 2020, 19h23

No século XVII, o personagem Robinson Crusoé, um inglês estabelecido como fazendeiro de cana-de-açúcar no Brasil, decide comandar um navio até a África para comprar escravos. Uma forte tempestade faz o navio naufragar no mar do Caribe, na Ilha do Desespero. Morrem todos os tripulantes, exceto Crusoé, seu gato e o cachorro. O aventureiro passa a viver na ilha e ali permanece por vinte anos, na companhia de apenas um nativo, chamado Sexta-feira.

Mauro Morandi, fez de Budelli, uma ilha na Itália, o seu lar também por obra do destino. Durante uma viagem em que se dirigia para o Pacífico Sul, em 1989, seu catamarã quebrou perto de Sardenha. Desde então, ele vive sozinho como zelador da ilha paradisíaca, conhecida pelas praias de areia cor-de-rosa, o que lhe rendeu o apelido de “Robinson Crusoé italiano”.

Ao contrário do famoso personagem, Morandi nunca tentou voltar para sua terra-natal em Modena, mas agora, aos 81 anos, ele pode ser obrigado fazê-lo por imposição do governo italiano, que pretende transformar a região em um “observatório ambiental”, até o fim do ano.

Nas últimas 3 décadas, esse Crusoé moderno viveu em um antigo abrigo da Segunda Guerra Mundial e se dedicou a cuidar da ilhota, limpando suas trilhas, protegendo as praias intocadas e ensinando veranistas sobre seu ecossistema – ele conhece todas as espécies de rochas, árvores e animais.

Itália vai transformar Budelli em um centro de educação ambiental: turistas foram proibidos em 1990 de visitar as praias cor-de-rosa, cuja areia era repetidamente colhida como souvenir- 15/07/2020 (Instagram/Reprodução)

Há quase uma década, a empresa privada dona da ilha faliu. Também naufragaram os planos de vendê-la ao empresário neozelandês, Malcom Harte, que havia prometido manter Morandi como zelador. Em 2016, um juiz de Sardenha determinou que Budelli voltasse a ser de propriedade pública, e agora a ilha é gerenciada pelo parque nacional La Maddalena, arquipélago do qual a ilhota faz parte.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Morandi disse que está beirando o desespero. Voltar para a terra famosa pelo vinagre balsâmico, a ópera e por ser o local de nascimento do designer de automóveis Enzo Ferrari, não parece má ideia, mas ele não consegue imaginar-se voltar a viver em uma cidade grande. A última vez que deixou Budelli foi em 2018, para visitar os filhos em terra firme.

“O pensamento de voltar a viver em uma sociedade que trata mal a natureza é muito angustiante. A natureza precisa ser amada e respeitada”, disse ao Guardian. O Crusoé italiano afirma que não tem nenhuma outra casa e gostaria de continuar zelando pela ilha.

Sua comida chega de barco da ilha principal do arquipélago de Maddalena. A energia vem de um sistema solar, com direito até a conexão à internet. A conta no Instagram (@mariodabudelli) tem mais de 50.000 seguidores.

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Durante a pandemia de coronavírus, que atingiu violentamente a Itália durante o mês de março, o distanciamento social obviamente não foi um problema. Sem turistas para guiar, ele passa seus dias coletando lenha, lendo e dormindo. Turistas foram proibidos, em 1990, de visitar as praias cor-de-rosa, cuja areia era repetidamente colhida como souvenir, mas podem fazer passeios de barco e caminhar por uma trilha.

Quando os rumores sobre o despejo de Morandi surgiram em 2017, uma petição para ajudá-lo foi assinada por milhares de pessoas. Dessa vez, a imprensa local reportou, na terça-feira 14, que a expulsão parece inevitável, com a justificativa de que o italiano fez alterações na casa histórica sem a autorização do governo.

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