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Restaurante mais antigo do mundo luta para sobreviver em meio à pandemia

O Botín, localizado em Madri, tem quase 300 anos de idade e nunca havia fechado – até este ano. Agora, enfrenta dificuldades e periga falir

Por Amanda Péchy 15 ago 2020, 09h00

O Restaurante Botín, o mais antigo do mundo segundo o Guinness World Records, acumula quase 300 anos de história. Fundado em 1725 em Madri, na Espanha, o nome do estabelecimento veio importado da França, quando o cozinheiro Jean Botín mudou-se com a esposa asturiana para a cidade. O prédio onde fica situado, ainda mais antigo, fica na rua de Cuchilleros (Cuteleiros, claro), nomeada assim em 1620. 

Em 1765, o pintor Francisco de Goya trabalhou lá como lavador de pratos, quando ainda adolescente. O ano de 2020 adiciona um novo capítulo à fábula: pela primeira vez em sua vida centenária, que coleciona uma série de guerras e outras epidemias, o restaurante fechou as portas, devido ao novo coronavírus. Agora, a família González, que administra o Botín desde 1930, luta para erguer das cinzas esta instituição humana.

“Foi um golpe inesperado e devastador. O restaurante nunca havia fechado, funcionou até mesmo durante a Guerra Civil Espanhola, quando meu avô seguiu alimentando militares e civis enquanto bombas caíam”, diz Antonio González, gerente do restaurante. Sob determinação do governo espanhol, o Botín fechou em meados de abril, para evitar a disseminação do coronavírus.

Mesmo assim, ele não desanima. Segundo o dono do restaurante, ele e muitos de seus funcionários estão em casa, mas não ficaram passivos.

“Minha família e eu somos muito lutadores e otimistas, então estamos usando esse tempo parados para refletir sobre o que podemos fazer para melhorar nosso serviço”, diz. 

As diversas salas do restaurante são de diferentes períodos históricos, atraindo passeios turísticos, e seus pratos são referência da cozinha tradicional de Madrid – 20/02/2019 (Facebook/Reprodução)

Desde o início desta crise, a coalizão de esquerda que lidera a Espanha proibiu empregadores de demitir trabalhadores por causa da pandemia. Por isso, simplificou o procedimento de acesso a um mecanismo de desemprego temporário, subsidiado, e ampliou as possibilidades de concessão do seguro-desemprego. Assim, Antonio pôde manter todos os 75 funcionários.

No dia 1º de julho, depois que as restrições contra a propagação da Covid-19 foram relaxadas, o restaurante reabriu as portas com esperança, mas muita cautela. No pitoresco ambiente que remete a uma taverna, apenas 12 dos 75 contratados estão trabalhando. Já a clientela mal chega aos 10% de um período normal – especialmente durante o verão europeu, quando a cidade de Madri está inundada de turistas.

“O primeiro mês de volta aos negócios foi muito fraco, mas isso era esperado”, afirma Antonio. Isso porque o centro de Madri é ocupado por hotéis, albergues, pousadas e prédios turísticos: poucos residem na região. Além disso, lá há uma restrição à circulação de veículos por razões ecológicas. Sem turismo e com madrilenhos presos em seus bairros, o centro – e por consequência o Botín – permanecem vazios.

Contudo, o dono do restaurante afirma estar confiante de que vai conseguir sobreviver às dificuldades financeiras geradas pela pandemia e sequer consegue imaginar um mundo sem o Botín. “Meu desejo é que ele continue passando de geração a geração até o fim dos tempos”, explica. O plano é que até 2025, quando completar 300 anos de idade, o novo gerente seja seu filho.

“Nós somos responsáveis por uma tradição histórica”, diz Antonio.

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Há algo romântico sobre manter o Botín aberto, principalmente devido ao comprometimento da família González com o conceito de “restaurante museu”. As diversas salas do restaurante de quatro andares são de diferentes períodos históricos, atraindo passeios turísticos, e seus pratos são referência da melhor cozinha tradicional de Madrid – desde cordero asado, ao cochinillo (leitão) asado.

Além disso, o Botín aparece em diversas obras célebres da literatura, curiosidade pela qual Antonio é muito apaixonado. Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Benito Pérez Galdós, Graham Greene e María Dueñas, entre muitos outros, usaram o restaurante como pano de fundo para seus romances. O fim do aclamado “O sol também se levanta”, de Hemingway – que na Espanha leva nome de “Fiesta” –, se passa lá:

“Almoçamos escada acima na casa Botín. É um dos melhores restaurantes do mundo. Comemos leitão assado e bebemos rioja alta. (…) Descendo a escada, saímos da sala de jantar do primeiro andar para a rua. Um garçom foi buscar um táxi. Estava quente e claro.”

Antonio também enfatiza que vai lutar com unhas e dentes para salvar o restaurante porque sabe que 75 famílias dependem diretamente de sua existência. O Botín, afinal, não faz parte apenas do passado, nem representa só o legado do futuro: ele é formado por pessoas de carne e osso, e importa no presente.

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