Reprovação a Maduro ultrapassa 70% na Venezuela
Apenas 24,5% dos venezuelanos aprovam a gestão chavista, mostra pesquisa
Por Da Redação
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2 dez 2014, 20h29
O presidente Nicolás Maduro (Prensa Miraflores/EFE)
O apoio ao governo do presidente Nicolás Maduro está erodindo na Venezuela por causa da escassez de produtos, hiperinflação, criminalidade alta e cerceamento da liberdade. Nesta terça-feira, um levantamento realizado pelo instituto Datanalisis mostrou que a reprovação ao governo alcançou 72,2%. Uma alta de 5,7 pontos percentuais em relação à última pesquisa, divulgada no fim de outubro.
Apenas 24,5% aprovam a gestão de Maduro, percentual bem abaixo dos 55,2% de avaliação positiva que o presidente teve quando assumiu o cargo, em abril do ano passado. A queda já ultrapassa 30 pontos.
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A pesquisa aponta ainda que 85,7% dos entrevistados consideram a situação do país negativa. E enquanto Maduro perde apoio, o governador Henrique Capriles, que perdeu a eleição para Maduro em 2013, aumentou sua popularidade em 3,7 pontos percentuais, subindo para 45,8%, a mais alta taxa de qualquer um dos líderes da oposição do país. No último levantamento, 42,1% dos entrevistados eram favoráveis ao político.
A enquete foi realizada entre 4 e 20 de novembro com 1.293 pessoas. A margem de erro é de 2,66 pontos percentuais.
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1. Criminalidade alta
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(Juan Barreto/AFP/VEJA) A criminalidade disparou na Venezuela ao longo dos 14 anos de governo Chávez. Em 1999, quando se elegeu, o país registrava cerca de 6.000 mortes por ano, a uma taxa de 25 por 100.000 habitantes, maior que a do Iraque e semelhante à do Brasil, que já é considerada elevada. Segundo projeção da ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV), em 2014, foram cometidos 24.980 assassinatos do país, em um índice de 82 homicídios por 100.000 habitantes. Desde 2004, o Executivo proibiu órgãos oficiais de divulgar estatísticas sobre criminalidade no país.
Os números da ONG, no entanto, colocam a Venezuela como o segundo país com o maior número de homicídios no mundo, atrás apenas de Honduras. Entre as razões para tanto está a baixa proporção de criminosos presos. Enquanto no Brasil a média é de 274 presos para cada 100 000 habitantes, na Venezuela o índice está em 161. De acordo com uma ONG que promove os direitos humanos na Venezuela, a Cofavic, em 96% dos casos de homicídio os responsáveis pelos crimes não são condenados.
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2. Inflação galopante
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(Carlos Garcia Rawlins/Reuters) A economia venezuelana tem um histórico de inflação alta, desde antes de Chávez chegar ao poder. Contudo, a gastança pública aliada a uma política expansionista e estatizante fez com que a alta dos preços atingisse níveis absurdos. Segundo o FMI, a inflação anual venezuelana fechou 2012 a 26,3%. Em 2013, o índice fechou em 56%, a mais alta taxa do continente americano e mais do que o dobro da registrada no país no ano anterior. Em 2014, o índice bateu nos 68,5%. Os números poderiam ser muito piores se não fosse o
controle de preços exercido pelo governo. No entanto, essa regulação afetou a produção e levou a escassez de alimentos básicos como leite, carne e até papel higiênico.
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3. Desmonte das instituições
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(Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA) Em 1999, Chávez aprovou uma nova Constituição que eliminou o Senado e estendeu seu mandato para seis anos, além de conseguir uma lei que lhe permitia governar por decreto. A concentração de poderes promovida pelo caudilho, no entanto, não se restringiu ao Legislativo. O Judiciário foi tomado por juízes alinhados ao chavismo. A cúpula das Forças Armadas também demonstrou lealdade ao coronel logo depois de anunciada sua morte, quando as tropas foram colocadas nas ruas com o objetivo declarado de "manter a ordem". "Vida longa, Chávez. Vida longa, revolução", bradou o ministro da Defesa, Diego Alfredo Molero Bellavia. A oposição em várias oportunidades pediu a obediência à Constituição.
A imprensa também não escapou do controle imposto por Chávez. Em 2007, o governo não renovou a concessão do maior canal de televisão venezuelano, a RCTV. A Globovisión, única emissora que ainda mantinha uma linha crítica ao governo, também foi vendida.
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4. PDVSA em ruínas
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(Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
O petróleo, extraído quase inteiramente pela PDVSA, a Petrobras da Venezuela, é responsável por 50% das receitas do governo venezuelano. Além do prejuízo de uma economia não diversificada, Chávez demitiu em 2003 40% dos funcionários da companhia após uma greve geral e os substituiu por aliados. A partir daí, as metas de investimento não foram cumpridas e a produção estagnou.
O plano de investimentos da PDVSA divulgado em 2007 previa a produção de 6 milhões de barris por dia este ano, mas entrega menos da metade. A exploração de petróleo caiu de 3,2 milhões de barris diários (em 1998) para 2,4 milhões (dado de 2012). O caudilho foi beneficiado, no entanto, pelo aumento do preço do produto e usou a fortuna para financiar programas assistencialistas e comprar aliados na América Latina.
O presidente Nicolás Maduro deu continuidade às misiones, como são conhecidos os programas assistencialistas. O desafio será mantê-los e ainda investir na petrolífera e aumentar a produção.
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5. Crise elétrica
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(Juan Barreto / AFP/VEJA)
Entre o final de 2009 e início de 2010, a Venezuela sofreu uma crise no setor elétrico, agravada pela estiagem que reduziu drasticamente os níveis dos rios que alimentam as hidrelétricas. Preocupado em ajudar financeiramente os aliados latino-americanos, o governo Chávez deixou de investir em novas usinas. E as companhias do setor elétrico, sob a praga da gestão chavista, tiveram queda na produção por falta de manutenção, corrupção e aumento escandaloso do número de funcionários. A crise foi tão grave que paralisou vários setores da economia e obrigou o governo a declarar estado de emergência no país.
Para contornar a situação, Chávez propôs o "banho socialista" de três minutos, pediu para os venezuelanos usarem lanternas para ir ao banheiro no meio da madrugada e exortou as grandes empresas a gerar sua própria eletricidade. Em 2012, Chávez reconheceu que a Venezuela ainda sofria com problemas elétricos, mas disse que, se não tivesse chegado ao poder em 1999, o país se iluminaria com lanternas e cozinharia com lenha.
O fato é que ainda hoje apagões são registrados em todo o país. O discurso de Nicolás Maduro agora é colocar a culpa nos "inimigos da pátria", que estariam sabotando o sistema de energia.
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6. Exportação do bolivarianismo
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(REUTERS/Ueslei Marcelino/VEJA)
Boa parte dos recursos do petróleo venezuelano foi usada por Chávez para comprar aliados na região e ampliar o alcance de sua revolução bolivariana. O maior beneficiário é Cuba, cuja mesada vinda dos cofres venezuelanos equivale a 22% do PIB - a ilha foi o destino do coronel ao longo de todo o tratamento contra o câncer e a oposição venezuelana denuncia a interferência dos irmãos Castro na política do país. Chávez também abasteceu o caixa de campanha de candidatos presidenciais populistas na América Latina e Central, como Cristina Kirchner, na Argentina, Evo Morales, na Bolívia, e Daniel Ortega, na Nicarágua.
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7. Endividamento estatal
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(Jorge Silva/Reuters/VEJA)
Durante a era Chávez, o endividamento do governo subiu de 37% para 51% do PIB. A dívida pública externa oficial está em 107 bilhões de dólares, sem contar a dívida da PDVSA com fornecedores e sócios e os débitos do governo com empresas expropriadas. No total, a conta deve chegar a 140 bilhões de dólares.
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8. Falta de água
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(Reuters/VEJA) O governo da Venezuela anunciou no início de maio de 2014 um plano de racionamento em Caracas que deixa parte dos seis milhões de habitantes sem acesso à água por até três dias por semana. O plano de emergência é necessário para contornar a severa seca que o país enfrenta, disseram as autoridades. No entanto, o governo omitiu que nenhum reservatório foi construído durante os 15 anos de chavismo. Tampouco houve a elaboração de um plano de economia de água, necessário em regiões que sofrem com secas sazonais.
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9. Imprensa encurralada
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(Diego Braga Norte/Veja.com/VEJA) A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou a "deterioração do direito à liberdade de expressão” na Venezuela, após constante ataques do governo aos meios de comunicação e jornalistas, além do bloqueio de canais de televisão e sites de notícias. Não bastasse a perseguição oficial, a imprensa também é estrangulada pela crise econômica. Com as finanças do país arrasadas e em um cenário de tensão política, vários grupos de comunicação mudaram de controle no último ano, incluindo os jornais de maior circulação e o canal de televisão que era o mais crítico ao governo, o Globovisión. Os jornais também enfrentam uma dramática escassez de papel de imprensa – que depende da autorização do governo para a importação –, o que provocou o fechamento de algumas publicações e a redução do número de páginas de outras.
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