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Recessão e greves também ameaçam aparente firmeza do regime sírio

Por Da Redação
12 jan 2012, 15h59

Javier Martín.

Damasco, 12 jan (EFE).- Seduzido pelo espetacular crescimento que a economia síria experimentava após décadas de ferrenho socialismo, Wael A., um rico empresário local, decidiu em 2009 tentar a sorte na então recém-lançada Bolsa de Valores de Damasco.

O risco parecia limitado, já que, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Síria crescia de forma sustentável a 5% por ano desde 2004, graças a um plano destinado a liberalizar o mercado e abrir o país aos investidores estrangeiros.

Em pouco menos de meia década, a anódina Damasco, onde mal se podia encontrar produtos ocidentais, encurtava distâncias com a moderna e vibrante Beirute. Dezenas de cafés, restaurantes e estabelecimentos comerciais abriram suas portas, e inclusive carros de luxo de grande cilindrada começaram a circular pelos bairros mais prósperos da capital e outras grandes cidades.

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Projetos imobiliários faraônicos e de infraestrutura geravam emprego, o que permitiu ao presidente, Bashar al-Assad, reduzir os subsídios que por décadas tinham sustentado a estrutura socialista.

As perspectivas eram de esperanças no início de 2011, embora já se perfilasse a sombra dos protestos na região. Prognósticos do FMI indicavam a manutenção do crescimento, e que as receitas por turismo e comércio bateriam recordes históricos.

Mas dez meses depois da eclosão da revolta, e encurralada pela violenta repressão policial, instabilidade nas províncias e pressão internacional, a frágil economia síria começa a se desaprumar e ameaça se transformar na rachadura do ainda firme regime.

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‘Muitos investidores decidimos tirar seu dinheiro e levá-lo a locais seguros. Existe muito risco e incerteza’, explica à Agência Efe o empresário Wael, que por razões de segurança prefere que seu nome completo não seja revelado.

Este retrocesso no investimento é admitido pelo diretor-executivo da Bolsa de Valores de Damasco, Mamoun Hamedan, que acredita, no entanto, que é um revés passageiro. ‘A queda é um efeito de correção pelo grande crescimento em 2010, mas também se deve a um certo clima de desconfiança’, destaca.

Outros dados indicam ainda uma rápida e ampla contração da economia síria que, segundo cálculos do Instituto Internacional de Finanças, poderia significar uma recessão de 10% em 2012 caso a violência se agrave.

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Analistas econômicos coincidem em afirmar que, desde o início das revoltas populares na Síria, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 20%, o desemprego superou 30% e as receitas do Estado com turismo e petróleo, pilares econômicos do país, despencaram.

A libra síria se desvalorizou em relação ao euro inclusive no mercado negro, com números que apontam que o Estado teria perdido 25% de sua capacidade aquisitiva.

Há analistas que falam de enormes dificuldades do regime sírio em pagar os salários do Exército, base que sustenta o poder nesses tempos de agitação civil.

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Ciente do problema, o governo buscou cercear a deterioração com medidas como a venda de divisas e a recuperação de alguns subsídios. ‘O regime ainda tem muitas reservas de moeda estrangeira, mas elas decrescem com rapidez. E ainda lhes restam aliados como o Irã e a Rússia, que o ajudam (financeiramente)’, afirma um acadêmico sírio que também pede para não ser identificado.

O agravamento da conjuntura contribuiu igualmente para a decisão de Washington e Bruxelas de aplicar sanções, que frearam o comércio petroleiro e suspenderam barreiras ao financiamento externo.

Resta ainda ver o impacto das medidas punitivas decididas pela Liga Árabe, que, caso se concretizem, representariam outra fonte de asfixia econômica.

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O problema é que a pujança econômica transformou a Síria numa ponte crucial de comércio para países como Jordânia, Líbano e Iraque, que se mostram reticentes em condenar Damasco até que não haja opções compensatórias.

Ciente de que a economia é uma das principais bases do regime, parte da oposição, através dos Comitês de Coordenação Local, instiga uma ambiciosa campanha de desobediência civil.

A iniciativa inclui o fechamento dos estabelecimentos comerciais, o bloqueio de estradas, a greve de servidores públicos, operários da indústria e estudantes, além da paralisação em setores determinantes, como o transporte.

Mas, embora os efeitos comecem a ser sentidos nas zonas rurais e localidades rebeldes como Sabqa e Idlib, os analistas coincidem em dizer que a crise não se precipitará enquanto a capital e importantes cidades como Aleppo se mantiverem leais ao regime.

‘Os grandes comerciantes de Aleppo e Damasco ainda se mantêm à espera, ao lado do regime, mas há cada vez mais críticas de como a situação (político-social) afeta seus negócios’, conclui o acadêmico. EFE

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