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Quem pode ser o sucessor de Chávez? Há dez candidatos

Nem os aliados do ditador conhecem seu verdadeiro estado de saúde - que, se estiver tão ruim quanto dizem fontes do país, pode mudar o rumo das eleições

Por Cecília Araújo
15 jan 2012, 09h31

“Superar a era Chávez já será de alguma forma algo positivo para a Venezuela. Melhor ainda seria se Chávez concorresse com a oposição e perdesse as eleições.”

Mark Jones, professor do departamento de Ciências Políticas da Universidade Rice

Faltando pouco menos de um mês para as prévias da oposição que escolherão o candidato para enfrentar Hugo Chávez nas eleições de outubro, o futuro democrático da Venezuela ainda é uma incógnita. Quando o ditador anunciou estar com câncer, em junho do ano passado, e entregou (em partes) o comando do país ao vice-presidente para se tratar em Cuba, começaram a surgir dúvidas sobre sua permanência no poder. Para abafar os boatos, quatro meses depois, ele voltou a público para dizer que estava curado. Contudo, fontes venezuelanas apoiadas em exames médicos, afirmam que Chávez não deve ter forças sequer para concorrer no próximo pleito – conforme publicou em novembro reportagem de VEJA, que teve acesso a um conjunto de relatos detalhados sobre a evolução do seu câncer. Com metástases até nos ossos, a sobrevida do caudilho dificilmente superaria um ano. Diante desse cenário, o coronel de 57 anos pode ter de abrir mão do quarto mandato (confira a linha do tempo abaixo), o que obrigaria todo o país a se reorganizar sem o homem que sempre fez questão de centralizar em si todo o poder.

Analistas ouvidos pelo site de VEJA acreditam, porém, que dificilmente o tirano desistirá de concorrer, o que deve complicar todo o processo. “Chávez se considera tão invencível, que não entrega os pontos nem para a própria doença. O maior motivo de esconder o câncer é deixar tanto a oposição quanto o seu próprio partido despreparados para sua sucessão”, diz Vanessa Neumann, conselheira sênior do instituto de pesquisa Foreign Policy. Tudo porque ele faz questão de continuar sendo visto como um “líder” até o último dos seus dias – ora no papel de opressor, ora como um mártir. E para não perder nenhum apoio, ele se esforça ao máximo para passar uma aparência saudável, mesmo que algumas fotos o flagrem em expressões de sofrimento. “Caso o ditador chegue a se candidatar e ganhar o pleito, tudo continuará como antes: seu poder se manterá consolidado e centrado na sua figura, e novas alianças serão formadas até a sua morte”, afirma Mark Jones, professor do departamento de Ciências Políticas da Universidade Rice.

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O presidente venezuelano Hugo Chávez participa de uma cerimônia militar em Caracas, no dia 6 de novembro
O presidente venezuelano Hugo Chávez participa de uma cerimônia militar em Caracas, no dia 6 de novembro (VEJA)

Nem seus aliados conhecem detalhes sobre a doença e seu verdadeiro estado de saúde. A intenção de Chávez é evitar que, prevendo seu afastamento, divisões já comecem a ser planejadas. O Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) tem uma ala militar e outra civil que certamente tentarão bloquear uns aos outros. Temendo que os militares tomem o poder, por exemplo, os civis podem se filiar a outros partidos para terem mais chances na sucessão. “Se isso começar desde agora, Chávez terá problemas de governabilidade”, ressalta Vanessa. E diante de chavistas fragmentados por uma forte disputa pelo poder, a oposição se uniria (mais) em torno de uma real chance de vencer. “Se perceberem que ele está doente e talvez não consiga concorrer ou ganhar as eleições, mesmo os chavistas podem não confiar em outro candidato apontado pelo próprio Chávez e acabar apoiando a oposição.”

Aliados – Vanessa aposta em Diosdado Cabello como o aliado que tem mais chances de ganhar as próximas eleições. “É um confidente antigo de Chávez e tem muitos apoiadores militares. O único aliado que pode emergir como líder”, justifica. Anteriormente, a indicação do próprio tirano era outra: o chanceler Nicolás Maduro que, na visão de especialistas, tem pouca (ou nenhuma) força política no país. “Ele é, basicamente, um porta-voz de Chávez”, resume a conselheira sênior do instituto de pesquisa Foreign Policy. Outro nome bem cotado, o do vice-presidente Elias Jaua, também não tem uma liderança real na Venezuela, motivo pelo qual o coronel o nomeou para um cargo tão relevante no governo – porque jamais conseguiria ameaçá-lo. “Se Maduro e Jaua tivessem características de liderança fortes, Chávez teria receio de colocá-los em suas posições. Eles são chavistas leais”, avalia Jones. “Nenhum deles tem poder político. A única base política para que falam é o círculo chavista. Sem Chávez, eles não existem”, acrescenta o professor, que vê Adán Chávez como o único capaz de manter o discurso bolivariano. “Maduro e Jaua, sozinhos, não conseguirão.”

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Opositores – Mesmo com prévias à vista, a oposição segue unida na coligação Mesa da Unidade Democrática (MUD), no intuito de construir uma alternativa consolidada ao chavismo. Nas últimas eleições parciais, os partidos da MUD elegeram 65 deputados, contra 95 do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV). Os dissidentes chavistas do PPT (Pátria Para Todos) obtiveram duas cadeiras e três são destinadas a partidos indígenas. Com o resultado, o oficialismo perdeu a maioria de dois terços e a oposição se declarou vencedora com o argumento de que, apesar de ter menos deputados, teve mais votos. A alegação foi rejeitada por Chávez, como já era de se esperar. Além disso, as campanhas de Henrique Capriles, Leopoldo López, Pablo Perez passam uma mensagem que também pode agradar a chavistas. “Eles não adotaram um discurso radicalmente anti-chavista, defendem um modelo político moderado. Com isso, tornam-se muito competitivos em relação a Maduro, Jaua ou Adán Chávez”, compara Jones, que arrisca até uma ideia mais ufanista: “Superar a era Chávez já será algo positivo para a Venezuela. Melhor ainda seria se o ditador concorresse com a oposição e perdesse as eleições.” Mas enquanto o caudilho resistir, essa hipótese parece só devaneio.

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