Miguel Bas.
Moscou, 2 mar (EFE).- Vladimir Putin, o homem forte da Rússia nos últimos 12 anos, tenta conseguir nas urnas seu retorno formal ao Kremlin já no primeiro turno das eleições de 4 de março, apesar da notória queda de sua popularidade.
De acordo com as últimas enquetes dos principais institutos de pesquisa, Putin vencerá no primeiro turno com uma percentagem próxima a 60%.
A Fundação da Opinião Pública (FOP) indica que no pleito presidencial Putin obterá 58,7% de apoio, com uma participação de 61,8% do eleitorado da Rússia.
O Centro de Estudo da Opinião Pública da Rússia (VTSIOM), por sua vez, revelou que 55% das pessoas ouvidas para a produção da pesquisa estão dispostas a votar em Putin, o que poderia configurar sua vitória já no primeiro turno com o resultado de 58,6%.
Apesar disso, outras fontes e consultas independentes não descartam que no próximo dia 4 Putin não consiga superar a barreira de 50% e seja preciso um segundo turno para determinar o vencedor entre os dois candidatos mais votados.
Uma enquete realizada entre 10 e 19 de fevereiro no marco do projeto ‘Opinião Aberta’, que agrupa várias organizações independentes, revelou que apenas 48% dos eleitores ouvidos estariam dispostos a apoiar Putin.
Desta forma, a incógnita não é quem será o vencedor do pleito, mas se Putin ganhará já no primeiro turno ou se terá de disputar o segundo.
Embora os opositores mais radicais afirmem que as autoridades falsificarão os resultados para obter o triunfo já em 4 de março, parece mais provável que as eleições sejam as mais limpas da história da Rússia, pois pela primeira vez as autoridades estarão interessadas em alcançar um triunfo irretocável.
Além disso, ao contrário das votações anteriores, a oposição centrou todos seus esforços na luta por eleições limpas, e a quantidade de observadores voluntários promete superar todas as expectativas.
No entanto, o fator principal será o firme propósito das autoridades em conseguir que a indubitável vitória de Putin não possa ser questionada por ninguém.
Este objetivo marcou toda a campanha de Putin, que pela primeira vez em seus 13 anos de carreira política promoveu uma autêntica campanha eleitoral.
Ainda que, assim como em algumas ocasiões anteriores, tenha se negado a participar dos debates eleitorais, a Rússia viu pela primeira vez grandes mobilizações organizadas em favor de Putin, que assumiu a condição de político em campanha, com discursos marcadamente populistas.
Em seu principal discurso, Putin foi ouvido em 23 de fevereiro por mais de 100 mil pessoas concentradas dentro e em torno do estádio de Luzhniki, em Moscou.
As chamadas nacionalistas a um ‘povo geneticamente vencedor’, de continuar ‘a batalha pela Rússia’ e de impedir qualquer ‘ingerência estrangeira’, acompanhadas das perguntas retóricas ‘Nós amamos a Rússia?’ e ‘Permitiremos que alguém se meta em nossos assuntos?’, tomaram as dimensões do famoso ‘Eu tenho um sonho’, de Martin Luther King.
É claro que também não faltaram as chamadas para pôr fim à injustiça, à corrupção e à pobreza.
Sem dúvida alguma, o discurso nacionalista, assim como as promessas sociais, encontra terreno fértil em uma população pobre e humilhada.
Mas nada que ameace a oligarquia e o conjunto de funcionários públicos, que são a verdadeira base de apoio de Putin, visto por uma arrasadora maioria como a garantia de ‘estabilidade’.
Também fica à margem do discurso de Putin a crescente classe média, consciente da premente necessidade de reformas e cada vez mais identificada com a oposição. EFE