O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reuniu com seu homólogo vietnamita, To Lam, nesta quinta-feira, 20, em Hanói, capital do Vietnã, após assinar um pacto de segurança e defesa mútua com Kim Jong-un na Coreia do Norte. O chefe do Kremlin declarou a intenção de aprofundar os laços com a nação do sudeste asiático, dizendo que essa era uma das suas prioridades.
Lam elogiou muito o colega russo, felicitando-o pela sua recente reeleição, que foi marcada por questionamentos da comunidade internacional pela falta de transparência. “Parabéns ao nosso camarada por receber um apoio esmagador durante as recentes eleições presidenciais, sublinhando a confiança do povo russo”, disse o presidente vietnamita após receber Putin com tapete vermelho.
Passado e presente
A viagem do líder russo ao Vietnã, na sequência da visita à Coreia do Norte, foi interpretada por analistas como uma demonstração do apoio diplomático que a Rússia ainda desfruta na Ásia. O governo vietnamita ainda valoriza os laços históricos que tem com o antigo aliado da Guerra Fria, que na década de 1950 apoiou o pequeno estado comunista do Vietnã do Norte militar, econômica e diplomaticamente.
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Em Ba Dinh, o bairro político da capital, uma estátua de cinco metros de altura de Lênin, um presente da antiga União Soviética, ainda é palco de homenagens anuais. O governo do Vietnã descreveu sua relação com a Rússia como “cheia de lealdade e gratidão”, rememorando a assistência soviética depois da nação ter invadido o Camboja, em 1978, e ser isolada e sancionada pela China e pelo Ocidente.
Ao mesmo tempo, hoje em dia, o país do sudeste asiático trabalha para melhorar a sua relação com a Europa e os Estados Unidos. A economia vietnamita foi transformada pela sua integração nos mercados globais. A Rússia ficou muito atrás da China, da Ásia, dos Estados Unidos e da Europa como parceiro comercial. Mas o Vietnã ainda usa muito equipamento militar fabricado em solo russo e depende de parcerias com petrolíferas do país de Putin para a exploração de petróleo no Mar da China Meridional.
Washington criticou fortemente a visita de Putin a Hanói, por considerar que o país asiático ofereceu uma plataforma para ele promover e defender a guerra na Ucrânia. A Casa Branca alegou que a presença do líder russo no estrangeiro prejudica os esforços internacionais para isolá-lo.
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“Diplomacia bambu”
A invasão representou um desafio diplomático para o Vietnã, que optou por se abster das várias resoluções das Nações Unidas que condenaram as ações da Rússia, mas manteve boas relações com o governo ucraniano e até enviou alguma assistência a Kiev – na era soviética, milhares de vietnamitas trabalharam e estudaram na Ucrânia.
Isso está de acordo com a tradição da política externa vietnamita, que se assemelha de certa forma à brasileira: ser amigo de todos, evitando as alianças formais. A liderança do partido comunista no governo chama a prática de “diplomacia de bambu”, planta conhecida por sua flexibilidade para dobrar, sem se quebrar, diante dos ventos fustigantes da rivalidade entre grandes potências.