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Protestos na Venezuela têm exaltados, mas ação é isolada

Durante manifestações, minoria de jovens enfrenta a polícia e promove depredações

Por Diego Braga Norte 5 mar 2014, 14h51

Desde o início dos protestos contra o governo na Venezuela, em fevereiro, boa parte das passeatas foi pacífica, mas houve episódios em que alguns estudantes entraram em confronto com a polícia. A população mais pobre também faz protestos violentos e monta barreiras pela capital. O número de detidos se conta às centenas, mas entidades de defesa de direitos humanos afirmam que as prisões não decorrem da contenção a atos de vandalismo; na maioria dos casos, a alegação é de que a manifestação era proibida.

Se a oposição e os estudantes admitem a presença de manifestantes exaltados, ressaltam que pessoas ligadas ao governo são infiltradas nas passeatas especificamente para provocar tumultos. “O mais interessado em colocar em nós o rosto da violência é o governo”, afirmou o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, um dos líderes opositores. O ex-candidato presidencial e governador de Miranda, Henrique Capriles, também alertou para a presença de infiltrados. “Todos tenham calma, ninguém caia nas provocações de setores oficiais, atentos com infiltrados que andam promovendo conflitos”, disse o oposicionista em sua conta no Twitter.

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No dia 27 de fevereiro, um sargento das Forças Armadas que estava à paisana foi identificado pelos manifestantes, que o entregaram a policiais da Guarda Nacional, segundo o jornal El Universal. O infiltrado estava armado com uma pistola 9 milímetros. O presidente Nicolás Maduro afirmou que alguns funcionários das forças de inteligência cometeram excessos durante os protestos, mas tentou isolar o fato. “Esses funcionários são uma exceção dentro do disciplinado departamento do Sebin [Serviço Bolivariano de Inteligência]“, afirmou à rede britânica BBC. “Eles violaram ordens. Por que fizeram isso, não sabemos. Mas estamos investigando”. Ao mencionar infiltrados, o herdeiro de Chávez fala de pessoas diferentes das citadas por estudantes e oposição. O chavismo classifica os infiltrados de “fascistas” e “golpistas”, termos usados até para se referir a jovens segurando cartazes com palavras de ordem. (Continue lendo o texto)

Barreiras – Segundo a reportagem de VEJA apurou, os mascarados mais exaltados são tanto estudantes universitários como jovens de periferia. Apesar disso, não há – até o momento – indícios de uma ação coordenada por trás deles, como nos moldes do movimento black bloc no Brasil. Um fenômeno que se tornou comum nas ruas foi a formação de bloqueios. Com entulho, galhos, lixo e, às vezes, apenas com pessoas enfileiradas, ruas são interrompidas. Em Caracas, dezenas de barreiras foram montadas nas últimas semanas em pontos importantes da cidade, em bairros de classe média alta e também em regiões mais pobres.

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A reportagem de VEJA conversou com jovens que formaram uma barreira na avenida Francisco Solano López, uma importante rota em Chacao, município de classe média e alta do Distrito Federal. Praticamente todos eles eram moradores da própria rua, repleta de condomínios e edifícios residenciais, e muitos eram menores de idade. Contaram que fizeram as barreiras porque “outros lugares também estavam fazendo”. Questionados se havia ordem de comando ou um pedido específico para tal ato, todos foram unânimes em dizer que não. Perguntados se as barreiras não atrapalhariam seus próprios pais – alguns presentes no ato – e vizinhos, ele disseram que quando os carros são de conhecidos, eles deixam passar.

Apesar da aparente espontaneidade do surgimento das barreiras, nas redes sociais, houve uma mobilização entre opositores por uma “Gran Barricada Nacional”. Segundo o jornal espanhol El País, os organizadores desta forma de protesto são grupos de descontentes que não seguem a direção reunida na coligação Mesa de Unidade Democrática (MUD), que reúne os partidos opositores. Porém, a moda das barricadas pegou de tal maneira que hoje é desnecessária qualquer convocação, elas aparecem e somem, às vezes em um curto espaço de tempo. Já se tornaram um fenômeno totalmente descentralizado e fora do raio de controle dos líderes opositores. Para se organizar e evitar as barreiras, a população de Caracas vem usando a hashtag#NoHayPaso” (sem passagem, em tradução livre). É curioso e muito significativo notar que os usuários apenas informam, mas não criticam os bloqueios – pois esta foi a forma que eles elegeram para protestar.

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‘Estado de ebulição’ – Para José Carrasquero, professor de ciência política das sniversidades Católica Andrés Bello e Simón Bolívar, “a Venezuela está passando por um processo de ebulição social parecido com o de 1989. E quando a situação chega a esse ponto, praticamente incontrolável, as pessoas tendem a ser impacientes e muitas partem para ações violentas”. Em 1989, numa revolta que ficou conhecida como “Caracazo”, a população foi às ruas para protestar contra o governo de Carlos Andrés Pérez. Em 28 de fevereiro, a polícia de Caracas e as Forças Armadas reprimiram violentamente os manifestantes, numa ação que deixou, segundo números oficiais, mais de 300 mortos e cerca de 1.000 feridos.

Acervo digital: O ‘Caracazo’ nas páginas de VEJA

Na revolta contra Maduro, apesar das acusações governistas, a oposição venezuelana não está armada. Os cidadãos aderem às manifestações por não possuírem outros meios para se expressar. E os estudantes tentam conter ações violentas, como afirma o presidente da Federação dos Estudantes da Universidade Metropolitana de Caracas, Óscar Leandro, um dos líderes estudantis mais atuantes atualmente no país. Ele confirmou ter pedido aos universitários que adotassem uma série de medidas preventivas, como não cobrir os rostos durante as manifestações; não promover vandalismo; não protestar durante a noite e não provocar a polícia atirando pedras ou mesmo verbalmente. “Temos na Venezuela mais de 2,3 milhões de estudantes secundários e mais de 400.000 de nível superior. É impossível que todos que estão indo para as ruas acatem as nossas orientações, mas posso garantir que é a minoria que que está depredando a cidade e atacando a polícia”, disse Leandro.

O opositor Capriles disse, em entrevista coletiva, que houve excessos em alguns protestos por parte dos opositores, mas ressaltou que os atos de violência dos manifestantes foram sempre condenados pelos líderes e pelo movimento estudantil. Também se eximiu da culpa por depredações e barricadas que alguns manifestantes promovem em algumas cidades. “Não sou eu quem dirige os protestos. É a rua, é o povo. Não podem jogar a culpa por infrações em mim, no Leopoldo [López, dirigente político preso] ou em qualquer político da oposição”, defendeu.

Se Maduro adotou a estratégia de colocar nos ombros dos manifestantes o peso das mortes registradas nos protestos contra seu governo, duramente reprimidos…pelo governo. O que se vê nas ruas, no entanto, são tumultos isolados, que nem de longe serviriam para justificar a dura repressão a estudantes, à oposição e à imprensa, com o uso de milícias chavistas para combater o direito de protestar.

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