Promotor mantido refém por grupo radical de esquerda em Istambul morre após tiroteio
Grupo que manteve promotor sob a mira de um revólver foi criado nos anos 1970 e é classificado como organização terrorista pelos EUA. Promotor investigava morte de jovem em protestos contra o governo
Um promotor turco que foi mantido refém por um grupo de extrema esquerda nesta terça-feira em Istambul morreu em consequência de ferimentos a bala. Ele ficou sob a mira dos radicais durante seis horas, dentro do Palácio de Justiça, até que a polícia invadiu o local, depois de ouvir disparos. Na operação, dois sequestradores foram mortos.
O presidente Recep Tayyip Erdogan informou que o promotor Mehmet Selim Kiraz foi atingido por cinco tiros e levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Kiraz investigava a morte de um jovem atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo durante as manifestações contra o governo de junho de 2013. Berkin Elvan, de 14 anos de idade, ficou nove meses em coma e faleceu em março do ano passado.
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A investigação do caso seria o motivo para o sequestro do promotor nesta terça. Em um comunicado publicado na internet, o grupo ameaçou matar o promotor se suas demandas não fossem atendidas. Um advogado envolvido nas negociações disse à rede britânica BBC que os sequestradores queriam que a polícia liberasse os nomes de quatro membros das forças de segurança que, segundo eles, estavam ligados à morte do jovem Elvan. Os radicais também queriam que os policiais fossem julgados por “tribunais do povo”.
O grupo marxista que assumiu a responsabilidade pela ação, a Frente Revolucionária para Libertação do Povo, tem origem nos anos 1970, e é considerado uma organização terrorista pela Turquia, Estados Unidos e União Europeia. Entre os ataques realizados pelo grupo está um atentado suicida contra a embaixada americana em Ancara, em 2013, que deixou um segurança morto. Em 2001, dois policiais e um turista australiano foram mortos em um ataque do DHKP-C em Istambul.
O ataque contra o promotor ocorreu em um dia de caos na Turquia devido a um apagão que interrompeu serviços de transporte e apagou sinais de trânsito em Istambul. O primeiro-ministro Ahmet Davutoglu disse que o blackout pode ter sido resultado de uma ação terrorista, o que levantou suspeitas de que os sequestradores conseguiram entrar no prédio oficial porque os detectores de metal não estavam funcionando. O presidente Erdogan afirmou que os dois homens armados entraram disfarçados de advogados. “Não podemos subestimar a seriedade desse incidente”, disse, ressaltando que a segurança nos tribunais será revista. O governo turco proibiu as emissoras de TV de fazerem cobertura ao vivo do caso, citando questões de segurança.
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Berkin tornou-se símbolo de jovens seculares que protestaram contra a escalada autoritária do governo Erdogan. No entanto, a imagem do jovem também foi apropriada por grupos de extrema esquerda que também são contra o governo. “Agora que o grupo realizou um ataque inspirado pela morte de Berkin, isso pode encorajar a retórica divisiva de Erdogan, que no ano passado enfureceu oponentes ao chamar o jovem de terrorista”, destaca o jornal The New York Times.
O pai do adolescente, no entanto, fez um chamado pela paz nesta terça. “Meu filho morreu, mas eu não quero que mais ninguém morra por isso. O promotor deve ser libertado. Sangue não pode ser lavado com mais sangue”, defendeu Sami Elvan em comunicado divulgado na imprensa turca. “Nós queremos justiça. Não queremos que mais nenhuma gota de sangue seja derramada. Não queremos que outras mães chorem”.
(Da redação)