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Problemas do Vaticano na Itália devem influenciar escolha do novo papa, diz historiador da Igreja

Para José Oscar Beozzo, do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, Vaticano pode voltar a ser comandado por um italiano

Por Jean-Philip Struck
12 fev 2013, 08h58

Depois de mais de três décadas, o Vaticano pode voltar a ser comandado por um italiano, retomando uma tradição que dominou a maior parte da sua história – em mais de 2.000 anos, a Igreja Católica já foi comandada por mais de 200 papas nascidos na península italiana. Essa é a avaliação do padre José Oscar Beozzo, coordenador-geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, após o anúncio de que Bento XVI deixará o pontificado no próximo dia 28. Doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP), ele faz parte do Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe (CEHILA-Brasil). Segundo o padre, os problemas enfrentados atualmente pela Igreja na Itália, o país em que está localizado o enclave do Vaticano, devem pesar na escolha do próximo papa. Nos últimos meses, o Banco Central da Itália tem acusado o Vaticano de não ser transparente em sua contas e, recentemente, a Igreja passou a pagar imposto de propriedade no país.

Perfil

José Oscar Beozzo

Coordenador-geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Cesep)

Beozzo é mestre em Sociologia da Religião pela Université Catholique de Louvain (Bélgica) e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Faz parte do Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe (CEHILA-Brasil). É autor dos livros A Igreja do Brasil (1993) e a A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965 (2005).

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Para o padre e historiador, não foi só a idade de Bento XVI, que está com 85 anos, que pesou para sua decisão. O escândalo envolvendo o roubo de documentos por parte de seu mordomo também influenciou. “Foi uma violação da sua intimidade. Bento é uma pessoa tímida.” Em 2002, Beozzo escreveu um artigo em que discorreu sobre as questões legais do direito canônico no caso de uma renúncia de João Paulo II, que à época estava com a saúde muito debilitada.

Você escreveu sobre a possibilidade de renúncia de um papa há dez anos. Ficou surpreso com a decisão de Bento XVI? O mecanismo da renúncia é previsto no direito canônico. O papa é livre para sair do cargo. Houve casos anteriores, mas praticamente só na Idade Média. Um dos casos aconteceu em 1.294. A situação, claro, chama a atenção. Mas o próprio Bento tinha demonstrado sinais de cansaço e deu indicações de que poderia tomar essa decisão. A idade deve ter pesado, mas houve outros fatores, como a violação da sua intimidade no caso do mordomo que roubou documentos no ano passado. Bento é uma pessoa tímida. Ele também tinha visto o exemplo de João Paulo II, que ficou muito debilitado no cargo, precisando de ajuda para tarefas mínimas. Bento não quis repetir isso, ter um destino semelhante. Também deve ter pesado o exemplo do ex-arcebispo de Canterbury Rowan Williams (o líder espiritual da Igreja Anglicana que renunciou no ano passado após dez anos no cargo). Williams tem só 62 anos e se dava muito bem com Bento XVI.

Quais mudanças devem ocorrer na Igreja? Bento XVI já tinha 78, 79 anos quando assumiu. Também não se esperava um papado longo. O próprio Ratzinger ocupa posições de destaque desde a década de 80. O então cardeal Joseph Ratzinger foi a figura mais influente e poderosa do Vaticano no pontificado de João Paulo II. Ele também foi o último papa a ter participado do Concílio do Vaticano II, nos anos 60. Nenhum dos prováveis candidatos teve essa experiência. Portanto, é o fim de um período.

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Bento XVI deve influenciar o processo de escolha do próximo papa? Ele não deve influenciar diretamente o processo de escolha, como um eleitor, mas é lógico que sua opinião vai pesar. Ele nomeou 58% dos cardeais que vão votar.

E qual deve ser o perfil do próximo papa? Dos 210 cardeais que existem, 118 devem votar no conclave. Eles vão levar em conta questões como os problemas políticos na Itália. É possível que o próximo escolhido seja um italiano, que teria mais familiaridade com os problemas. O próprio Ratzinger parece ter dado a indicação nesse sentido. Em 2011, ele transferiu o cardeal Angelo Scola do patriarcado de Veneza para o de Milão. Essa mudança é interessante. Veneza é uma cidade com importância histórica e cultural para a Igreja, mas é um posto confortável. Já Milão é a arquidiocese mais importante da Itália. Vários dos seus chefes se tornaram papas no século XIX e no XX. Paulo VI (1892-1963) foi arcebispo lá.

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