Pré-candidato à Presidência francesa é julgado por discurso de ódio
Em debate televisivo, Eric Zammour, da extrema-direita, afirmou que jovens imigrantes que entram de forma irregular no país são 'ladrões e estupradores'
Pré-candidato às eleições presidenciais da França e conhecido por comentários polêmicos sobre imigração, Eric Zemmour não compareceu nesta quarta-feira, 17, ao primeiro dia de um julgamento por incitação ao ódio racial, e afirmou que mantém sua posição de que jovens imigrantes que entraram de forma irregular no país são “ladrões e estupradores”.
O comentarista da extrema-direita, que de acordo com pesquisas de opinião pode chegar ao segundo turno em abril do ano que vem, afirmou que a acusação é parte de uma campanha para intimidá-lo.
Segundo pesquisa encomendada pelo jornal Le Monde, considerando que as candidaturas oficiais ainda não foram anunciadas por completo, Zemmour teria 16% das intenções de voto, à frente de Marine Le Pen, líder tradicional da extrema-direita, com 15%. Se a eleição fosse hoje, Zemmour enfrentaria o atual presidente francês, Emmanuel Macron.
O caso diz respeito às falas feitas por Zemmour, de 63 anos, em setembro do ano passado durante debate no canal francês CNews. Na ocasião, ele afirmou que crianças que viajam à França sem os pais ou responsáveis são “ladrões, assassinos, estupradores, isso que são. Precisamos mandá-los de volta”.
O julgamento iniciado nesta quarta-feira se dá por “insulto público” e “incitação ao ódio ou violência” contra um grupo de pessoas com base em etnia, nacionalidade, raça ou religião.
Ele já foi condenado duas vezes por discurso de ódio no passado, após tentar justificar em 2010 discriminações contra pessoas negras e árabes e por incitação ao ódio contra muçulmanos em 2016. Ele também foi julgado em outros casos, nos quais foi absolvido.
Se condenado pelo caso em andamento, ele enfrenta uma sentença de até um ano de prisão e uma multa de 45.000 euros.
Segundo Olivier Pardo, advogado do pré-candidato, as acusações são infundadas e os adversários de Zemmour tentam gerar um “julgamento por opinião pública”. Ele afirmou que Zemmour escolheu não comparecer porque não queria que o tribunal se tornasse uma “arena política”.
“Ele é procurado por ‘ódio racial’, mas até onde sei, um menor desacompanhado não é uma raça, uma nação ou uma etnia”, disse Pardo à rádio RMC.
A fala do pré-candidato, no entanto, foi condenada por diversas organizações antirracismo e de direitos humanos, incluindo a SOS Racisme, que apresentou uma queixa contra ele.
Em outubro, o pré-candidato foi criticado ao apontar uma arma para um grupo de jornalistas durante uma visita ao Militol, um dos maiores salões mundiais dedicados à segurança, nos arredores de Paris.
“Em uma democracia, a liberdade de imprensa não é uma piada e não deve ser nunca ameaçada”, declarou a ministra francesa encarregada da Cidadania, Marlène Schiappa.