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Por que é tão difícil resgatar os jovens presos na caverna da Tailândia?

As chuvas de monções e o trajeto de mergulho desafiador podem fazer com que o resgate demore até quatro meses para ser concluído

Por Leticia Fuentes Atualizado em 3 jul 2018, 20h04 - Publicado em 3 jul 2018, 19h47

A imprensa de todo o mundo está voltada para a Tailândia, onde 12 crianças de 11 a 16 anos e o treinador de futebol delas, de 25 anos, estão presos em uma caverna alagada há dez dias. Sem água, sem comida, sem luz e com o nível da inundação subindo cada vez mais por causa das fortes chuvas desta época do ano, a descoberta de que todos do grupo estavam vivos foi encarada como um milagre.

Agora, um novo desafio deve ser enfrentado: como resgatar esses jovens da caverna. Mergulhadores militares de equipes de resgate, como a SEAL (a elite do Exército americano), conseguiram adentrar no local, atravessar seis quilômetros de um perigoso trajeto, quase completamente inundado, e levar suprimentos e primeiros-socorros aos meninos.

Porém, refazer esse percurso com as crianças desnutridas e enfraquecidas, depois de tantos dias sem alimentos e luz, pode não ser a melhor alternativa para tirá-las de lá. A caverna de Tham Luang, que fica ao norte da Tailândia, é a quarta mais extensa do país, com um total de 10 quilômetros, e apresenta frequentes mudanças de nível.

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“Essa é uma opção que só deve ser considerada em extremo caso de vida ou morte”, afirma o instrutor de mergulho Akira Matsuda, course director da Associação Profissional de Instrutores de Mergulho (PADI, na sigla em inglês) do Brasil. “As crianças já estão debilitadas, teriam de conseguir roupas adequadas para não sofrer hipotermia, precisariam aprender a respirar sob pressão debaixo d´água e usar máscaras que caibam perfeitamente em seus rostos para que não se encham de água.”

Segundo Matsuda, como a água da chuva está misturada à terra e forma uma espécie de lodo, a luz das lanternas não ilumina, e os mergulhadores têm de fazer o trajeto completamente no escuro, confiando apenas no tato para encontrar as passagens entre fendas. Somado ao fato de que as vítimas são crianças e que elas passaram mais de uma semana sem acesso a água e comida, pode-se concluir que a travessia seria a opção mais perigosa.

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Os mergulhadores profissionais levaram de quatro a seis horas para completar o percurso até alcançar os meninos. Provavelmente, ao arrastarem as crianças uma a uma, o tempo seria bem maior. “É um trajeto longo, é muito tempo dentro da água, há risco de a perda de calor levar a uma hipotermia”, afirma o especialista em mergulho de caverna Gabriel Vieira Costa, instrutor da Dive For Fun.

Costa ressalta que há trechos na caverna muito estreitos, em que os mergulhadores usam uma técnica que envolve tirar o equipamento, passá-lo pela fenda, e só depois passar o corpo. Para uma criança inexperiente, esse procedimento é extremamente difícil. “Por isso, geralmente, a idade mínima para fazer mergulho dentro de cavernas é 18 anos”, afirma.

Chuvas

(./.)

Há ainda um agravante. É época de monções no sul asiático, um fenômeno meteorológico anual que dura quatro meses e gera chuvas torrenciais e persistentes na região. As autoridades acreditam, inclusive, que foi por causa das fortes chuvas que o grupo entrou cada vez mais fundo na caverna, em busca de abrigo, e depois não conseguiu sair. A entrada ficou inundada.

“Não é uma chuva parecida com uma simples frente fria, que passa em dias. É uma chuva extremamente intensa e contínua, que pode durar meses, com poucos dias de trégua”, explica a meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo.

Pegorim explica que as monções são caracterizadas por uma inversão no fluxo das massas de ar, que normalmente fluem do continente para o oceano, e passam a circular do oceano para o continente. “Como é verão, e o continente está muito quente, as massas se chocam com o ar frio do oceano e vão formando, ao longo de semanas, uma enorme quantidade de nuvens muito carregadas”, diz.

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Para se ter uma ideia, durante o período de monções, em apenas quatro meses chove de 2.000 a 3.000 milímetros de água. Na Ilha de Marajó, o local que mais chove no Brasil, a média anual é de 3.140 milímetros. “Esse enorme volume de água é suficiente para inundar cavernas ou provocar desmoronamentos perigosos em terrenos íngremes”, afirma a meteorologista.

Complicações

Justamente por causa da persistência das monções, os especialistas estimam que o resgate pode levar até quatro meses, uma vez que as chuvas torrenciais tornam qualquer procedimento ainda mais complicado.

No caso de tentar sair da caverna mergulhando, as fortes chuvas podem formar uma corrente de água e levar as crianças para partes mais fundas da caverna. “Seria necessário nadar contra essa correnteza, o que exige um esforço e uma experiência muito maior”, diz Costa.

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A outra opção estudada é escavar um buraco na montanha que cobre a caverna até o local onde estão as crianças para tirá-las por cima. Mas essa alternativa também seria atrapalhada pela chuva, além de não ser comprovadamente segura. Ainda não se sabe quais impactos geológicos isso teria na estrutura da montanha.

Costa, que também é engenheiro, afirma haver diversos fatores a serem considerados, incluindo a diferença de pressão entre o sistema interno da caverna e o externo. “Uma das preocupações é que, dependendo de como o buraco for feito, pode elevar ainda mais o nível da água dentro do local e afogar as crianças”, afirma.

 

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