‘Pode ser o começo do fim das Farc’, diz especialista
Morte de número 2 do grupo atinge o coração dos terroristas, o narcotráfico
Enfraquecidos e sem o chefe da atividade criminosa que mantém o grupo de pé, as Farc ficam sem saída. Terão, mais que nunca, de ceder e negociar a rendição
Ao matar o segundo chefe militar mais importante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), na quinta-feira, o Exército colombiano atingiu o coração do grupo terrorista. Víctor Julio Suárez Rojas, o “Mono Jojoy”, era o responsável pelo que mantém a guerrilha de pé: o narcotráfico. Agora, sem Jojoy no cenário de combate, a situação tem tudo para mudar radicalmente. “Pode ser o começo do fim, o início de um eventual processo de paz no país”, disse ao site de VEJA Sandra Borda, cientista política da Universidad de Los Andes, de Bogotá. “Eles receberam a mensagem do governo, de que continuarão a ser enfrentados, e sabem que já perderam a guerra.”
“Mono Jojoy” fazia parte de uma célula das Farc que lidava diretamente com o tráfico de drogas. Distintos grupos da guerrilha agem em diferentes partes do país, tanto nas selvas como nas cidades. Os sequestros, a luta armada e a violência são comuns a todos, assim como a dependência dos rendimentos do tráfico. Há uma parte das Farc, contudo, que não executa diretamente as tarefas ligadas ao comércio de drogas. Não era o caso de Jojoy, que vivia de matar e comandar o tráfico. Sua morte desmantela a estrutura de “negócios” que sustenta a guerrilha. Não à toa, tanto o governo colombiano quanto o Departamento de Estado dos EUA ofereciam recompensas milionárias por sua captura.
Depois da morte do fundador das Farc, Manuel “Tirofijo” Marulanda, e dos líderes Raúl Reyes e Iván Rios, em 2008, a morte de Jojoy é o o principal golpe desferido pelas forças do governo contra o grupo. “Não é simples colocar alguém no lugar dele”, explica Sandra Borda. “Será difícil retomar todos os contatos que ele mantinha com o mundo do tráfico. As Farc, que já estavam sufocadas, perdem o oxigênio financeiro.” Para a especialista, as condições são excepcionais para que o país dê início a um processo bem sucedido de desmantelamento das Farc. Surgidas em 1964, elas se descrevem como “guerrilha marxista”, mas o narcotráfico ocupou o lugar da ideologia há muito tempo. Sem Jojoy, o grupo, já derrotado na questão política, perde fôlego até em sua condição de quadrilha de traficantes.