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Pesquisadores criam atlas do trabalho escravo no Brasil

Por Da Redação
26 jun 2012, 12h14

Carlos A. Moreno

Rio de Janeiro, 26 jun (EFE).- As modernas formas de escravidão no Brasil ganharam um atlas que pode ajudar às autoridades a identificar a possível localização e as modalidades deste problema que afeta milhares de pessoas, principalmente nas zonas mais remotas do país.

O ‘Atlas do Trabalho Escravo no Brasil’, de 82 páginas, publicado na internet pela ONG Amigos da Terra: Amazônia Brasileira, foi elaborado por geógrafos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

‘Trata-se de uma ferramenta que as autoridades podem usar para detectar trabalho escravo sem esperar que alguém apresente uma denúncia’, explicou à Agência Efe o francês Hervé Théry, um dos autores do Atlas e pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, que há sete anos trabalha na USP.

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O Atlas foi elaborado a partir de dois indicadores desenvolvidos pelos pesquisadores: o Índice de Probabilidade de Trabalho Escravo e o Índice de Vulnerabilidade ao Recrutamento.

O primeiro identifica os lugares em que os trabalhadores geralmente costumam ser obrigados a realizar atividades difíceis e precárias, e o segundo localiza as zonas em que vivem as pessoas com maior probabilidade de cair na rede dos exploradores.

Os dois instrumentos foram elaborados a partir de um banco de dados que registra denúncias de trabalho escravo em todo o país, assim como as estatísticas das 3.165 operações realizadas entre 1995 e 2011 por fiscais do Ministério do Trabalho que permitiram liberar 41.451 pessoas.

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‘Um cruzamento dessas informações nos permitiu descobrir que existem lugares em que deve ocorrer trabalho escravo mas que os fiscais não foram’, explicou Théry.

‘O mecanismo também nos permitiu identificar os municípios que devido ao baixo nível de renda, pobreza generalizada e altas taxas de analfabetismo concentram a população mais vulnerável ao recrutamento das redes de exploração’, acrescentou o pesquisador francês.

O Atlas despertou o interesse das autoridades responsáveis pelo combate ao trabalho escravo no Brasil, assim como dos dirigentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que pretendem usá-lo para aumentar a atenção sobre a concessão de crédito.

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‘Eles não querem ser surpreendidos nem denunciados por financiar atividades ilegais’, assegurou o especialista.

O estudo também interessa outras ONG’s que trabalham nesta área, que desejam utilizá-lo para determinar os lugares nos quais concentrarão sua vigilância e as campanhas de prevenção.

Segundo o Índice de Vulnerabilidade ao Recrutamento, o trabalhador submetido a trabalho escravo em áreas rurais no Brasil é homem (95% dos casos), jovem, analfabeto funcional, de baixa renda, migrante e procedente dos municípios com pior Índice de Desenvolvimento Humano do país, especialmente dos estados do Maranhão, Tocantins e Piauí.

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‘Isso ocorre pois os exploradores necessitam trabalhadores com força física para realizar tarefas pesadas, que não são atrativas para quem já tem uma renda mínima’, explicou o pesquisador, que assegura que o Atlas ‘demonstra que há uma profunda relação entre a escravidão e a pobreza extrema’.

Os trabalhadores são atraídos por promessas de salários que nunca obterão e obrigados a realizar tarefas pesadas, muitas vezes por homens armados, ou para pagar supostas dívidas de transporte e alimentação que nunca conseguirão saldar.

Os locais que utilizam este tipo de trabalho são fazendas de difícil acesso e de definição de posse nebulosa em municípios recém-criados na fronteira agropecuária da Amazônia.

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As distâncias não só dificultam a fiscalização mas também as fugas, já que muitas vezes os trabalhadores não sabem em que lugar estão.

Nestes locais, eles são obrigados a trabalhar em carvoarias, na abertura de áreas para a pecuária por meio da devastação floresta e na extração de madeira.

O estudo mostrou que o trabalho escravo não é tão comum como se pensava em fazendas de soja e cana-de-açúcar pois estes cultivos possuem um alto grau de modernização no país.

‘Isso não quer dizer que não existam trabalhadores que morrem de cansaço nessas plantações. Eles existem, mas não podem ser considerados escravos porque não são mantidos à força ou por uma dívida’, disse Théry. EFE

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