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Pequim oculta o Nobel da Paz dos chineses

Autoridades colocaram o serviço secreto para silenciar os dissidentes que poderiam alertar a sociedade sobre o prêmio

Por Le Monde
12 out 2010, 17h09

Praticamente detida em sua própria casa em Pequim, de onde não pode nem atender ao telefone ou receber visitas, Liu Xia, a mulher de Liu Xiaobo, foi levada no sábado para visitar o marido na prisão de Jinzhou, pequena cidade da província de Liaoning, onde o dissidente premiado com o Nobel da Paz deste ano cumpre sentença de 11 anos por incitação à subversão.

Assim, ela pode falar com o marido. Os funcionários da penitenciária o haviam informado no mesmo dia que havia recebido o Nobel. Liu Xiaobo disse à mulher que o prêmio era dedicado “ao espírito dos mortos” de Tiananmen. “Eles pagaram com sua vida por colocar em prática o espírito da paz, da democracia, da liberdade e da não-violência”, citou ela em uma mensagem transmitida a um de seus defensores, acrescentando que “depois de dizer essas palavras, Liu Xiaobo começou a chorar”.

O anúncio do prêmio, na sexta-feira, foi totalmente censurado na China. Somente um porta-voz do ministério das Relações Exteriores fez referência a ele ao dizer que dá-lo ao “delinquente” Liu Xiaobo equivalia a uma “profanação”. Os agentes da Gubao, a agência de segurança interna, lançaram uma grande operação de neutralização nos meios que puderam dar mostras de agitação.

Assim, se impediu a realização de vários encontros entre amigos em homenagem a Liu Xiaobo, anunciados com antecedência no Twitter. Zhuo Duo, que negociou junto com Liu Xiaobo a evacuação pacífica da praça de Tiananmen, foi convencido a cancelar um café da manhã previsto para o domingo com várias personalidades dos meios democráticos.

Em um jantar na sexta-feira em um restaurante, a intelectual Cui Weiping recebeu a exortação das autoridades de sua universidade para que voltasse à sua casa. O advogado Pu Zhiqiang, que tinha um encontro no domingo à tarde com o jornalista do Le Monde em café próximo de sua casa, foi impedido de comparecer. Em uma mensagem no Twitter, ele assinalou: “Os agentes da Gubao chegaram a me pedir que ficasse em casa. Me disseram: ‘Já sabe como essas coisas funcionam, nossos chefes virão falar com você’. Respondi que seus problemas com os chefes não me diziam respeito. E perguntei por quanto tempo tinham a intenção de ocultar a premiação do Nobel e de comportar-se como gângsters”.

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Na China, o bloqueio total da informação dissipou o efeito do anúncio: a informação do prêmio a Liu Xiaobo se filtra lentamente, de maneira distinta, em um silêncio tanto mais estrondoso quanto o que os meios chineses haviam dedicado nos últimos dias às diversas categorias do Nobel. O reconhecimento internacional outorgado ao dissidente encarcerado poderia representar uma nova etapa de um movimento democrático chinês cada vez menos tímido.

O fantasma que assusta Pequim, assinala o historiador americano Perry Link, conhecido por sua participação na obra Arquivos de Tiananmen, é que na China se desenvolva uma “revolução de cor”, como as que na Europa do leste fizeram que os regimes autoritários se inclinassem para a democracia. Nestes eventos sempre se destacou a figura de um líder carismático.

Ao contrário de Aung San Suu Kyi, de Nelson Mandela ou de Lech Walesa, que estiveram – ou estão – à frente de movimentos estruturados, Liu Xiaobo é “um intelectual sem freios”, sem organização que o apoie. Mas, adverte Perry Link em um ensaio publicado pelo Wall Street Journal, “ao recompensá-lo com o Prêmio Nobel da Paz, o Comitê do Nobel e o Partido Comunista contribuem sem saber para criar o que mais precisam os democratas e dissidentes chineses: um líder com estatura moral transcendente, em torno do qual podem se unir”.

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