Pentágono vai revisar formação ética de altos oficiais
Caso extraconjugal provocou escândalo que afundou carreira de dois generais
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, pediu uma revisão nos programas de formação ética dos altos comandos do exército. Ele ordenou ao chefe do Estado-Maior das forças armadas, general Martin Dempsey, que examine os programas de treinamento sobre o tema, para verificar se estão “adequados”.
O pedido é uma consequência do escândalo que custou o cargo do sucessor de Panetta no comando da CIA, David Petraeus, e respingou em outro general, John Allen.
“Os escândalos que sacodem as forças armadas têm o poder de minar a confiança da opinião em nosso comando e nosso sistema para a aplicação de nossos mais elevados princípios éticos”, escreveu Panetta em um documento dirigido a Dempsey. “Ainda pior é que podem comprometer nossa missão para defender o povo americano”.
O chefe do Pentágono pretende enviar um relatório ao presidente Barack Obama sobre o assunto até o início de dezembro.
Escândalo – A divulgação de um caso extraconjugal do chefe da CIA prejudicou a carreira militar de dois importantes generais que atuaram no Afeganistão e levantou suspeitas sobre o vazamento de informações confidenciais. Na sexta-feira passada, Petraeus, que comandou as tropas no Iraque e no Afeganistão, renunciou ao cargo depois de admitir um caso extraconjugal com uma mulher identificada posteriormente como sua biógrafa, Paula Broadwell, 20 anos mais nova, casada e mãe de dois filhos.
O caso veio à tona durante uma investigação do FBI sobre e-mails enviados por Paula a Jill Kelley, de 37 anos, que é amiga de Petraeus e sua família. Apesar de morar em Tampa, na Flórida, ela é amiga de fontes governamentais importantes da capital Washington. Aparentemente, Paula tinha ciúmes de Jill, e teria mandado mensagens à suposta rival em tom ameaçador.
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O escândalo aumentou depois que surgiu a informação de que o agente do FBI responsável pela investigação, identificado pelo jornal The New York Times como Frederick W. Humphries II, de 47 anos, enviou uma foto sua sem camisa a Jill. Lawrence Berger, advogado da associação de agentes, disse que os dois são amigos de longa data e que a foto não era ‘sexual’.
Na terça-feira, um segundo general americano foi envolvido no escândalo. John Allen está sendo investigado por um suposto vínculo com Jill Kelley. O FBI teria descoberto entre 20.000 e 30.000 páginas de correspondência entre os dois. Depois que a controvérsia respingou em Allen, Obama suspendeu a nomeação do general para o comando das forças americanas na Europa e para o comando supremo aliado da Otan, duas funções que assumiria depois de ter seu nome confirmado pelo Senado.
Segredos – Ex-oficial do Exército americano, Paula realizou seus estudos na Universidade de Harvard, especializando-se em comando militar, e dedicando-se depois a uma biografia do general Petraeus.
Na segunda-feira, agentes do FBI revistaram a residência de Paula em Charlotte (Carolina do Norte, sudeste dos EUA), levando várias caixas com documentos, segundo o jornal The Washington Post. Ontem, funcionários da segurança nacional americana disseram à agência Reuters que um computador usado por ela continha informações “substanciais” que deveriam ter sido armazenadas “em condições mais seguras”. Depois disso, Paula teve impedido seu acesso a segredos da defesa.
Em sua primeira entrevista coletiva como presidente reeleito, o presidente Barack Obama afirmou, na quarta-feira, que o escândalo envolvendo Petraeus não teve consequências sobre a segurança nacional dos Estados Unidos. “Não há prova alguma no momento, de acordo com o que vi, de que informações secretas tenham sido divulgadas com consequências negativas para a nossa segurança nacional”, declarou.
Segundo ele, se as informações sobre Petraeus não foram divulgadas antes da campanha presidencial, foi porque o FBI seguiu suas regras tradicionais de sigilo. “As pessoas são inocentes até ser comprovado que são culpadas, não devemos pré-julgar uma situação”, explicou, dizendo que tem muita confiança no FBI e que, até o fim das investigações, não haverá interferências da Casa Branca.
(Com agência France-Presse)