Carmen Postigo.
Roma, 12 nov (EFE).- Um dos mais polêmicos líderes europeus – acusado de corrupção, abuso de poder e incitação à prostituição de menores -, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, apresentou sua renúncia ao cargo neste sábado.
Filho de uma família de classe média e, como a maioria dos italianos, muito apegado à mãe – Rosa -, o jovem Berlusconi chegou a vender eletrodomésticos na Milão do pós-guerra para pagar a faculdade de Direito.
Como descrito no filme ‘Silvio Forever’, de Roberto Faenza e Filippo Macelloni, Berlusconi foi um jovem dinâmico, ambicioso e simpático que decidiu embarcar em cruzeiros como cantor e animador. Aos 23 anos, dedicou-se com sucesso ao setor imobiliário e à construção civil, edificando o complexo MilanoDue, na época um revolucionário conceito de moradia para famílias de baixa renda.
Com 29 anos, Berlusconi casou-se com Carla Elvira Dall’Oglio, com quem teve dois filhos: Maria Elvira (1966), mais conhecida como Marina, hoje presidente do grupo editorial Mondadori, e Pier Silvio (1968), vice-presidente do grupo de telecomunicações Mediaset.
Em 1990, subiu novamente ao altar, desta vez com a atriz Veronica Lario, que conheceu quando esta interpretava ‘Il Magnifico Cornuto’, e com a qual teve três filhos: Barbara (1984), Eleonora (1986) e Luigi (1988). Berlusconi, que já era um famoso empresário, teve como padrinho o político socialista Bettino Craxi.
Em meados da década de 80, entrou no ramo da televisão, passando a contar com três emissoras (‘Italia 1’, ‘Rete 4’ e ‘Canale 5’) que acabaram com o domínio da rede estatal ‘RAI’. Seu poder só aumentou com a compra do clube de futebol Milan e a do grupo editorial Mondadori.
Com a cena política devastada com a operação anticorrupção ‘Mãos Limpas’, e no auge de sua carreira empresarial, Berlusconi preparou seu salto à política no final de 1993 com a criação do Força Itália, um partido de caráter popular no qual fez uso de seus dotes de comunicador.
Suas habilidades com marketing pessoal seduziram o eleitorado, e em março de 1994 o Força Itália foi o partido mais votado das eleições daquele ano, embora o primeiro mandato de Silvio Berlusconi tenha durado pouco tempo.
Contudo, Berlusconi, que aos 75 anos é um dos homens mais ricos da Itália, chegou a ser primeiro-ministro em outras duas ocasiões: de 2001 a 2006 e de 2008 até sua saída, neste ano, e sempre aspirou à presidência.
Durante os anos de seu último mandato, viu sua popularidade cair pelas acusações de promover festas envolvendo mulheres, algumas delas menores de idade, em suas residências em Sardenha, Roma e Arcore (Milão), que foram reveladas por fotos e declarações de jovens à imprensa e pelas investigações judiciais.
Berlusconi foi objeto de estudos de psicólogos, sociólogos e analistas que tentaram explicar o fenômeno de sua permanência no poder apesar do descontentamento popular e dos escândalos nos quais se viu envolvido e dos quais sempre se esquivou graças ao seu enorme talento e à criação de leis favoráveis a suas causas.
Os votos de confiança para seu governo na Câmara dos Deputados aconteciam em meio a exibição de uma enorme jovialidade do líder político que, em sua condição de homem que cresceu por conta própria, se orgulhava e brincava sobre suas conquistas amorosas.
Segundo o psicólogo Alessandro Amadori, autor de ‘Madre Silvio’, Berlusconi apresentava ‘uma incapacidade clara de abandonar a cena pública, também porque a centro-esquerda italiana não consegue articular uma alternativa’.
Sua verborragia o levou a dizer, entre outras pérolas, que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, era ‘bronzeado’, o que gerou diversas críticas tanto na Itália como em outros países, mas de maneira alguma se sentiu afetado por elas. ‘Sou assim. Sou de caráter brincalhão’, dizia.
Dessa maneira, Berlusconi se manteve no poder até que a crise econômica que castiga a Itália, que tem uma dívida pública de 120% do PIB, despertou antigos rancores até em seus partidários, que começaram a desertar à medida que ‘Il Cavaliere’ perdia a confiança de outros países da União Europeia por seu fracasso na gestão das reformas econômicas que o país precisa.
O jornalista Beppe Severgnini, autor do livro ‘Mamma Mia’, sobre o premiê, acredita que Berlusconi se manteve tanto tempo no poder porque representava bem o povo italiano.
‘Ele fala de sua mãe, entende de futebol, saber fazer dinheiro fácil, gosta de coisas novas, odeia convenções, conta piadas, promete um pouco, é mulherengo e adora festas’, disse. EFE