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Paraguaios vão às urnas neste domingo de olho na economia

Horacio Cartes, do Partido Colorado, e Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico, terão o desafio de conduzir o país de volta ao Mercosul e melhorar relacionamento com Brasil e Argentina

Por Cecília Araújo e Edoardo Ghirotto
21 abr 2013, 09h30

“O Paraguai é o presunto recheando dois poderosos países, o Brasil e a Argentina”, costuma dizer o chanceler paraguaio José Félix Estigarribia. A frase foi lembrada pelo então presidente interino Federico Franco, em entrevista a VEJA, em julho de 2012, pouco depois de assumir o poder, após a destituição de Fernando Lugo. Ela simboliza a dependência do país em relação aos vizinhos que, ao verem cair o amigo bolivariano e assumir um novo líder distante da ideologia populista de que são adeptos, juraram guerra contra o Paraguai. Apesar de o processo de impeachment ter ocorrido dentro da constitucionalidade, o pequeno país foi acusado pelas presidentes Cristina Kirchner e Dilma Rousseff, além de José Mujica (Uruguai), de ter “interrompido sua ordem democrática”. Como punição, foi suspenso do Mercosul, enquanto a Venezuela foi admitida no bloco sem que fossem contestados os traços ditatoriais do regime de Hugo Chávez.

Neste domingo, após dez meses sendo marginalizado no continente, o Paraguai realiza as eleições que vão lhe trazer de volta a “normalidade” – ao menos aos olhos dos governos argentino e brasileiro. No entanto, a disputa ideológica está longe de ter fim: os candidatos que estão à frente nas pesquisas, Horacio Cartes, do Partido Colorado, e Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico, pensam bem diferente de Fernando Lugo e seus companheiros bolivarianos. Qualquer um deles dificilmente aceitará as relações estreitas com a Venezuela impostas por Argentina e Brasil. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA dizem que o grande desafio do novo presidente será superar as diferenças políticas sem prejudicar o intercâmbio com seus maiores parceiros econômicos.

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“Os mesmos países que classificaram o Paraguai como um estado desarticulado aprovaram a entrada no bloco da Venezuela, onde a democracia simplesmente não existe”, acrescenta Sacchi. A eleição de Nicolás Maduro, herdeiro político de Chávez, para comandar a Venezuela até 2019, certamente será um dos pontos a serem superados pelo novo governante paraguaio no Mercosul. Maduro, cuja vitória no pleito realizado no último domingo é contestada pela oposição, deve fazer de tudo para dominar as cúpulas do bloco econômico e subordinar os interesses dos países-membros. Mas parece clara a determinação do povo paraguaio em varrer o chavismo para longe do país. “Horacio Cartes vem de um partido conservador e Efraín Alegre é um liberal. A eleição de qualquer um deles será um verdadeiro golpe para o bolivarianismo – movimento que está ficando enfraquecido com a ausência de Chávez”, diz.

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Por outro lado, os atritos diplomáticos entre Venezuela e Paraguai não deverão interferir nos acordos vigentes com os seus principais parceiros econômicos do continente. Para Francisco Doratioto, Maduro não deverá incomodar o novo governo paraguaio com o oportunismo chavista. “O modelo de governo do Chávez dependia em grande parte da enorme influência exercida na América Central e Cuba”, destacou. “A situação agora está zerada. Temos um novo processo eleitoral e creio que ao invés de arrumar novos problemas com o Paraguai, o Maduro terá muitos problemas para resolver na Venezuela.”

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Economia – Livre das amarras impostas pelo esquerdismo, o Paraguai terá a chance de, enfim, buscar incentivos para atrair multinacionais e promover a industrialização de sua economia. Não é à toa que o pleito deste domingo será observado de perto por Estados Unidos e União Europeia: o resultado poderá ser fundamental para a assinatura de novos acordos bilaterais. De qualquer forma, os especialistas são enfáticos ao afirmar que a integração regional ainda é essencial para o Paraguai continuar se desenvolvendo economicamente. “A relação do Paraguai com a Argentina, em particular, foi bastante desgastada. O governo de Cristina Kirchner impôs dificuldades para a exportação da soja paraguaia, por exemplo. Mas as elites do Paraguai sabem que o país precisa manter ligações perenes com os vizinhos”, diz Alberto Pfeifer, especialista em América Latina e membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo. “A história do Mercosul sugere que vai ser difícil para o Paraguai se afastar totalmente do bloco. Apesar de interesses mútuos no estreitamento das relações com os Estados Unidos e a China, o grosso do comércio paraguaio é com Argentina e Brasil”, diz Tullo Vigevani, professor do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Unesp.

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É verdade que as relações entre Paraguai e Mercosul serão retomadas de forma lenta e com dificuldades. A descontinuidade dos laços políticos e comerciais fez com que os paraguaios se sentissem injustiçados, e agora há um novo descompasso ideológico entre os outros membros e o Paraguai. Mas esse vazio precisa ser superado a partir de agosto, quando ocorre a posse do novo presidente. Doratioto cobra apoio de Dilma Rousseff em relação ao país vizinho. “Não interessa ao Brasil ter vizinhos pobres. A pobreza acaba ultrapassando fronteiras e uma industrialização do Paraguai é muito interessante, porque vai diminuir ações clandestinas e problemas sociais”, diz. “Nesse contexto, as diferenças ideológicas devem ficar em segundo plano”, pontua Pfeifer.

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