Atahualpa Amerise.
Seul, 4 fev (EFE).- O sonho da reunificação das Coreias, que existe desde que a Guerra Fria separou os dois países, há 60 anos, está desaparecendo no Sul, ondeas as novas gerações são cada vez mais contrárias a se integrarem a seus vizinhos comunistas do Norte.
‘Pode parecer egoísta, mas não quero a reunificação porque seria muito caro e reduziria nosso status econômico, que teria que ser equlibrado com o dos norte-coreanos’, disse à Agência Efe a jornalista Kwon Ji-un, de 29 anos.
A opinião de Kwon é cada vez mais comum entre os jovens sul-coreanos, apesar deles serem ensinados desde a infância que a Coreia, um povo homogêneo com mais de 4 mil anos de história, deve recuperar o mais rápido possível sua unidade, num debate reavivado com a recente morte do líder norte-coreano Kim Jong-il.
Vestida com roupas de uma marca europeia, internauta, cliente de restaurantes ocidentais, assídua espectadora dos sucessos de Hollywood e atenta a todo instante a seu ‘smartphone’, Kwon possui o perfil de uma jovem sul-coreana média.
Sua imagem contrasta com a dos jovens da Coreia do Norte, um país estagnado desde os anos 50, onde as novas gerações não têm alternativa e vivem bombardeados pelas incessantes mensagens políticas nas escolas e universidades e no único canal de televisão disponível.
Em 2007, 53% dos sul-coreanos entre 20 e 30 anos achavam a reunificação necessária. Quatro anos depois, esse número caiu para 41%, segundo relatório do Instituto de Estudos para a Paz e a Reunificação (IPUS) da Universidade Nacional de Seul.
Os crescentes temores dos sul-coreanos estão ligados à imensa desigualdade econômica entre as Coreias, evidenciada em dados como o Produto Interno Bruto (PIB), 40 vezes maior no Sul do que no Norte, e a renda per capita, cerca de 20 vezes maior no Sul.
Esses números, somados à incapacidade econômica do obsoleto sistema comunista norte-coreano, em crise há duas décadas, levam a pensar que a reunificação só poderia ser feita por meio da absorção do Norte pelo Sul.
Na área social, as enormes diferenças educacionais e culturais entre os cidadãos do Norte comunista, dirigidos e controlados pelo Estado, e o Sul capitalista, marcado pela feroz concorrência individual, também geram receio entre os jovens sul-coreanos.
Para o doutor Song Young-hoon, pesquisador do IPUS, as diferenças culturais e de identidade poderiam ser ‘um grande fator de instabilidade’ na futura Coreia unificada.
O especialista lembrou, no entanto, o lado positivo da reunificação, como o desaparecimento da ameaça de guerra, a redução da despesa militar e a suspensão do serviço militar obrigatório, de dois anos no Sul e de dez na Coreia do Norte.
A expansão demográfica de cerca de 73 milhões de habitantes – soma dos atuais 49 milhões do Sul e 24 do Norte – também favoreceria a consolidação da Coreia como potência asiática frente a seus grandes concorrentes, a China e o Japão.
‘Eu sou a favor da reunificação porque os gastos em defesa poderiam ser usados para melhorar a vida do povo e a possibilidade de uma guerra desapareceria’, afirma Oh Soo-min, comerciante de 25 anos, que também lembrou que milhares de famílias estão separadas desde a Guerra da Coreia (1950-53).
Ciente de que os jovens como este são minoria, o ministro da Unificação sul-coreano, Yu Woo-ik, considerou meses atrás a situação como ‘preocupante’.
‘A reunificação não é uma escolha, mas algo que devemos fazer. Evitá-la por uma questão de dinheiro seria um ato histórico covarde’, sentenciou. EFE