Palmira, joia arqueológica mundial, está ameaçada por jihadistas
Os combatentes do Estado Islâmico estão a apenas 1 quilômetro da cidade que abriga ruínas romanas de mais de 2.000 anos. Síria enviou tropas para tentar proteger o local
Por Da Redação
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10 dez 2018, 09h46 - Publicado em 15 maio 2015, 09h48
Camelos na cidade antiga de Palmira, Síria (DEA/C. SAPPA/De Agostini/Getty Images/VEJA)
O exército sírio enviou reforços às ruínas de Palmira para tentar repelir os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI), que nesta sexta-feira estavam a apenas um quilômetro do famoso sítio arqueológico que ameaçam destruir. Os fanáticos do EI consideram todas as representações antigas de culturas pré-islâmicas como uma “blasfêmia”.
O sítio arqueológico, conhecido por suas colunas romanas e suas torres funerárias, encontra-se no sul da cidade de Palmira. Segundo Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), ONG que monitor a guerra civil, os combates se desenvolvem ao norte, no leste e no sul da cidade, e neles 138 combatentes morreram – sendo 73 soldados e 65 jihadistas.
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Nos povoados situados perto de Palmira, onde não há presença do Exército, o EI executou ao menos 26 civis, dez deles por decapitação, por colaboração com o regime do ditador Bashar Assad. Nos últimos dias, o EI tomou todos os postos do Exército situados na estrada entre Palmira e a localidade de Al-Sujna, a 80 km.
O diretor de Antiguidades e dos museus sírios, Maamun Abdelkarim, convocou a comunidade internacional a se mobilizar para impedir uma eventual destruição de Palmira, que seria uma catástrofe internacional. Há mais de um mês combatentes do EI apareceram em um vídeo destruindo no Iraque o sítio arqueológico de Nimrod. Palmira foi um importante foco cultural do mundo antigo, e se desenvolveu após o Império Romano conquistar vastos territórios no Oriente Médico, no século I a.C.
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1. Minarete de Jam, Afeganistão
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(Tony Wheeler/Getty Images) O minarete de Jam, de 65 metros de altura, é uma das maravilhas arquitetônicas do Afeganistão. Mas corre o risco de desabar. O local já foi um destino turístico bastante frequentado, mas hoje raramente é visitado, por causa da
falta de segurança no país, que também impede sua preservação.
Desde que foi erguido, em 1194, o minarete não foi submetido a nenhum trabalho de restauração. Por estar localizado no vale de um rio, cercado de altas montanhas na província de Ghor, no centro do país, o minarete fica exposto à erosão e também é alvo de escavações ilegais. Nesta semana, membros do governo afirmaram à rede BBC que um novo muro de apoio foi construído, mas que ele não é suficiente para garantir a segurança da estrutura.
O Afeganistão já perdeu importantes exemplares históricos. Em 2001, o vandalismo dos fanáticos do Talibã transformou em pó as duas
imagens gigantes de Buda de Bamiyan, esculpidas há mais de 1 500 anos nos arredores da capital Cabul. Uma das imagens media 53 metros e era considerada a maior representação de Buda no mundo. Apesar dos apelos internacionais, inclusive de outros países islâmicos, elas foram arrasadas com explosivos. O Talibã cometeu o atentado após o chefe da organização, Mohamed Omar, ter ordenado a destruição de todos os símbolos religiosos do país que não fossem islâmicos.
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2. Cidade arqueológica de Ashur, Iraque
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(DeAgostini/Getty Images)
Datada do terceiro milênio antes de Cristo, a cidade arqueológica de Ashur está localizada às margens do Rio Tigre, ao norte da antiga Mesopotâmia. Entre os séculos XIV e IX antes de Cristo, Ashur foi a primeira capital do império assírio, uma cidade-estado de extrema relevância. Também serviu como a capital religiosa dos assírios, associada ao deus que levava seu nome. Destruída pelos babilônios, Ashur foi reconstruída durante o período em que o império Parta dominou a região, entre os séculos I e II depois de Cristo.
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3. Cidade arqueológica de Samarra, Iraque
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(Maya Alleruzzo/AP)
O cidade arqueológica de Samarra engloba os resquícios do que era a capital do poderoso califado islâmico de Abássida, cuja extensão ia da Tunísia até a Ásia Central. Localizada nas duas margens do Rio Tigre e a 130 quilômetros de Bagdá, o tem extensão de mais de 41 quilômetros e uma largura que varia de oito a quatro quilômetros, segundo a Unesco.
Mesmo com 80% da cidade sem ter sido escavada, arquólogos a consideram um exemplo único das inovações arquitêtonicas e artísticas que se espalharam pela região. A mesquita em forma de pirâmide data do período em que a cidade era a capital do Califado de Bagdá, entre 836 e 892.
Desde a invasão do Iraque em 2003, a cidade arquológica foi ocupada por forças multinacionais que a usaram como um teatro para operações militares. Samarra também sofre com a falta de trabalhos de conservação e restauro.
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4. Timbuktu, Mali
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(Michele Alfieri/Getty Images) Timbuktu, no limite do deserto do Saara, foi um centro de ensino islâmico entre os séculos XIII e XVII, período em que abrigou a prestigiada Universidade Koranic Sankore e outras
madrasas, ou escolas religiosas. Os atrativos da cidade arqueológica são as três grandes mesquitas construídas nos tempos de glória da região: Djingareyber, Sankore e Sidi Yahia. A riqueza local ajudou em grande parte a atrair para a África toda sorte de exploradores e conquistadores.
O principal risco aos monumentos de Timbuktu é o fenômeno da desertificação. O local também foi tomado por grupos fundamentalistas islâmicos após o
golpe de Estado que derrubou o governo do Mali em 2012. Com os riscos à segurança, os trabalhos de manutenção e restauração foram suspensos. Segundo a Unesco, nove dos dezesseis mausoléus do sítio arqueológico foram destruídos, assim como dois mausoléus pertencentes à mesquita de Djingareyber. A porta da mesquita de Sidi Yahia também foi derrubada.
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5. Túmulo de Askia, Mali
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(Pascal Guyot/AFP) A estrutura piramidal de 17 metros de altura construída em 1495 guarda os restos do imperador Mohamed Askia, líder do império de Songhai, que floresceu nos séculos XV e XVI, apoiado em grande parte no comércio de ouro e sal. O monumento também evidencia a tradição de construções de barro da região do Sahel - a faixa de terra que se interpõe entre o deserto magrebino (o Saara) e o sul equatorial.
Além da tumba, o complexo inclui ainda duas mesquitas de telhado plano, o cemitério da mesquita, e um anfiteatro a céu aberto, construídos quando o imperador voltou de Meca e fez do Islã o religião oficial do império.
A ameaça à Tumba de Askia está concentrada no conflito armado que sucedeu o
golpe de estado de março de 2012. Em junho do mesmo ano, o país pediu às Nações Unidas que reconhecessem a ameaça aos locais históricos, pedido que foi acatado com a inclusão de Timbuktu e do Túmulo de Askia na lista de monumentos ameaçados.
A instabilidade no país fez com que equipes especializadas na restauração e manutenção deixassem a região, o que também deixa os monumentos sob risco de desabamento.
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6. Centro histórico de Aleppo, Síria
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(Hamid Khatib/Reuters/VEJA) Ponto de parada das rotas comerciais no segundo milênio antes de Cristo, Aleppo foi sucessivamente dominada por hititas, assírios, árabes, mongóis, otomanos. A cidadela do século XIII e a Grande Mesquita do século XII são dois dos principais pontos da cidade, uma das mais atingidas pelo confronto que se arrasta há mais de três anos na Síria.
Alepo foi transformada no principal reduto de rebeldes contrários ao regime de Bashar Assad e alvo tornou-se alvo onstante de
bombardeios. O mercado medieval foi completamente destruído pelo conflito armado. Não se sabe exatamente qual é a condição dos muitos monumentos da cidade.
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7. Centro histórico de Bosra, Síria
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(VEJA.com/Getty Images)
Bosra foi um importante ponto de parada na rota para Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos. Um teatro romano do século II, ruínas de uma basílica do século VI e várias mesquitas podem ser encontrados atrás de suas muralhas da cidade.
Entre as principais ameaças à Bosra estão a destruição deliberada de monumentos e a construção ilegal de edifícios nos sítios arqueológicos.
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8. Centro histórico de Damasco, Síria
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(AMC/AP) Fundada no terceiro milênio antes de Cristo, Damasco é uma das cidades mais antigas do Oriente Médio, destaca a Unesco. Na Idade Média, a cidade era um próspero centro manufatureiro, especializado na produção de espadas e bordados. A cidade velha de Damasco é considerada uma das mais antigas localidades continuamente habitadas do mundo.
A guerra civil síria, no entanto, deixou um rastro de destruição no país. A capital Damasco se tornou palco de incessantes conflitos armados entre forças governistas leais ao ditador Bashar Assad e rebeldes opositores. Bombardeios perpetrados pelo Exército e atentados terroristas destruíram diversos monumentos históricos da cidade,
incluindo áreas da mesquita de Umayyad.
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9. Krak des Chevaliers e Qalat Salah El-Din, Síria
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(VEJA.com/Getty Images) Originalmente construído em 1031 pelos emires de Alepo, o Krak foi conquistado pelo cavaleiro normando Tancredo, o regente da Antióquia, em 1110, durante a Primeira Cruzada. Em 1142, a fortaleza foi repassada para a Ordem dos Hospitalários, que construiu várias instalações de defesa, dando a forma atual do castelo. O local resistiu a vários ataques nos anos seguintes, um deles comandado por Saladino. A fortaleza só viria a ser conquistada em 1271 pelo sultanato do Egito. Baibars, o sultão, permitiu que os defensores cristãos deixassem o Krak em paz após a rendição.
O castelo é um dos mais bem preservados da região, mas foi alvo de ataques durante o atual conflito entre o regime de Bashar Assad e grupos rebeldes, que usaram suas muralhas como esconderijo. Um dos grandes perigos à preservação do local é sua proximidade a Homs, uma das cidades mais atingidas pela guerra civil.
Já o Qal’at Salah El-Din carrega as características do povo bizantino que o construiu no século X. Embora algumas de suas áreas estejam em ruínas, a fortaleza é um patrimônio histórico único para a humanidade.
Saiba mais: Exército sírio retoma famosa fortaleza do tempo das Cruzadas
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10. Sítio arqueológico de Palmira, Síria
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(DEA/C. SAPPA/De Agostini/Getty Images/VEJA) Em um texto publicado em abril deste ano, o jornal The New York Times ressaltou o risco das escavações ilegais para a localidade que fica a nordeste da capital Damasco. Palmira contém ruínas monumentais da importante cidade que existiu durante os séculos I e II, quando foi um importante centro cultural. Os danos provocados pelo atual conflito armado parecem ter sido menores do que o imaginado, apesar de o acesso de especialistas ao local seja restrito.
“Templos têm resistido há milhões de anos em Palmira, e habitações humanas remontam há um período ainda mais distante. Sucessivas civilizações incluem o breve domínio da rainha Zenóbia, no século III, que se revoltou contra os Romanos. Muitos moradores, incluindo muçulmanos, veem esta história como uma continuação de sua própria história”, relatou o NYT sobre a importância do sítio arqueológico (
leia a íntegra, em inglês)
Vídeo Mundo Livre: Tesouro em perigo no Oriente Médio
https://www.youtube.com/watch?v=ehern8CT7jQ
(Da redação)