Países do Conselho de Segurança divergem sobre admissão palestina
Comitê que avalia novos membros afirma ser incapaz de emitir recomendação unânime
O comitê de admissões de novos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas reconheceu, em relatório divulgado nesta sexta-feira, a falta de acordo sobre a admissão da Palestina na ONU. O documento destaca que o comitê foi “incapaz de emitir uma recomendação unânime ao Conselho de Segurança”.
O embaixador palestino nas Nações Unidas, Riyad Mansour, garante que os palestinos “estão absolutamente decididos” a continuar com seu processo de candidatura no organismo internacional. “Merecemos mais e merecemos ser um Estado membro da ONU”, afirmou. A expectativa que se tem, neste momento, é sobre o posicionamento de Grã-Bretanha e França. Ambos os países estão indecisos sobre a questão. Há a possibilidade que eles se abstenham de votar e, com isso, forcem os Estados Unidos a vetar a inclusão da Palestina no organismo.
Mansour disse que sua delegação decidirá em breve os próximos passos para conseguir seu reconhecimento como Estado membro, e reconheceu que já sabiam da desaprovação no Conselho de Segurança “por causa da oposição de um país poderoso”, em clara referência aos Estados Unidos.
Leia também
Leia também – Porta-voz de Israel na ONU: ‘Criação de estado palestino deve ser o fim, não o começo’
Entenda o caso
- • Diante do fracasso do acordo de paz com Israel, a Autoridade Nacional Palestina decidiu propor à Assembleia Geral da ONU votação a favor da criação de um estado palestino nas fronteiras antes de 1967, tendo Jerusalém Oriental como capital.
- • As negociações de paz entre israelenses e palestinos chegaram a ensaiar um retorno, por intermédio dos Estados Unidos, que defendem que só é possível criar um estado palestino realmente significativo a partir da retomada do diálogo – empacado diante da recusa israelense de parar assentamentos judeus em territórios palestinos ocupados.
A demanda palestina foi apresentada pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas, na 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro deste ano. Na ocasião, Abbas e o premiê israelense Benjamin Netanyahu fizeram discursos acalorados defendendo suas posições. Para o palestino, as contínuas negociações fracassadas no Oriente Médio e a insistência de Israel em construir assentamentos em suas terras justificam o pedido de interferência da ONU no reconhecimento do estado da Palestina. “Basta! É hora de os palestinos finalmente terem sua liberdade. A hora da independência chegou”, afirmou Abbas. “O apoio de tantos países ao estado palestino e à sua admissão na ONU é uma contribuição para a paz no mundo”, acrescentou.
Netanyahu, por sua vez, procurou convencer a Assembleia da ONU de que a criação de um estado palestino devia acontecer depois da assinatura de um acordo de paz e não antes. Um de seus principais argumentos foi o de que seria muito difícil garantir a segurança do estado judeu com um país inimigo logo ao lado. “Nosso território pode ser cruzado por um avião em três minutos. Podemos criar um estado exatamente ao lado que não esteja em paz conosco? Estaremos seguros?”, questionou. “Esses são problemas reais, questões de viva ou morte. Elas devem ser discutidas em um acordo de paz antes que o estado palestino seja criado e não depois. Primeiro eles devem nos dar paz, depois ter seu estado. Com isso, não seremos os últimos a dar as boas-vindas ao estado palestino, mas os primeiros”.
Leia também
Expectativas – Segundo um rascunho do informe do Conselho de Segurança obtido nesta semana pela imprensa, a entidade não chegou a uma decisão unânime. O que se sabe até então é que Brasil, China, Índia, Líbano, Rússia e África do Sul apoiam publicamente os palestinos, e, assim como Grã-Bretanha e França, a Colômbia também anunciou sua abstenção. Já os Estados Unidos, um dos cinco membros com direitos de veto entre os 15 que formam o Conselho de Segurança, prometeram bloquear uma eventual aprovação da demanda palestina.
Contudo, usar o poder de veto americano não é a saída sonhada por Barack Obama. A medida impopular pode complicar ainda mais a imagem do presidente americano – que vem amargando uma sequência de fracassos em sua luta contra a crise econômica – às vésperas das eleições presidenciais americanas, em que ele pretende pleitear a reeleição. A incoerência de Obama, que inicialmente discursou a favor da criação de um estado palestino segundo as fronteiras pré-1967 e depois voltou atrás apoiando os israelenses, já tem sido bastante criticada nos Estados Unidos e no mundo.
(Com agência France-Presse)