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Países desenvolvidos lançam novos programas de imigração para brasileiros

Mudanças demográficas, falta de mão de obra especializada e necessidade de fomentar novos negócios impulsionam essa boa iniciativa

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 13h27 - Publicado em 9 jul 2021, 06h00

“Dai-me seus fatigados, seus pobres, suas massas amontoadas ansiosas por respirar liberdade”, diz parte do poema gravado na Estátua da Liberdade, em Nova York. Não se sabe se os Estados Unidos, e as nações desenvolvidas que compartilham do mesmo credo, ainda querem os oprimidos e cansados, mas, com certeza, elas estão interessadas no talento, na força de trabalho e na capacidade de investimento de estrangeiros, contanto que atendam às exigências de seus respectivos governos. Seja por causa da grande extensão territorial pouco povoada, seja pelo envelhecimento acelerado da população ou pelo efeito colateral da pandemia, diversos países estão abrindo suas portas para a imigração, gerando oportunidades para quem quer deixar a própria pátria e mudar de vida.

O Canadá é um dos que encabeçam a lista de interessados em receber gente para fixar residência. Por meio de uma diretriz que reconhece o déficit populacional, os canadenses pretendem admitir mais de 1,2 milhão de moradores permanentes até 2023. Trata-se de uma forma de ajudar a acelerar a recuperação econômica depois da crise do novo coronavírus que paralisou parte das atividades. Além disso, a extensão territorial — uma dádiva no que se refere a recursos naturais — torna-se um problema quando não há indivíduos para preenchê-la: dono do maior território do mundo, atrás apenas da Rússia, o Canadá conta com apenas 38 milhões de habitantes, menos do que a população do estado de São Paulo. Em outras palavras, falta mão de obra.

arte imigração

Pouco tempo atrás, a brasileira Maria Carolina Maron decidiu se mudar e conhecer esse país que prometia tratar tão bem seus imigrantes. Mãe de uma filha pequena, ela descobriu que o governo canadense estava oferecendo um programa em que, ao fim do curso, poderia requisitar residência permanente. Em seu primeiro semestre na província de Quebec, Maria engravidou do então marido e se viu em uma terra estrangeira à espera da segunda filha. Com uma criança de colo e o visto de estudante prestes a vencer, ela achou que ficaria desamparada se não partisse, mas não foi o que aconteceu: Maria recebeu apoio local e federal.

Para atingir o contingente almejado pelo governo, o Canadá elaborou mais de sessenta programas, com admissões até novembro deste ano, que abarcam diversos perfis de profissionais e talentos, incluindo indivíduos sem experiência profissional. Como atrativos, o país conta com um dos melhores índices de qualidade de vida do mundo e salários médios mensais de 8 000 reais. Além disso, algumas províncias oferecem incentivos financeiros para estudar francês, a língua oficial do país, junto com o inglês. Para o brasileiro interessado em pedir residência permanente, é preciso ter morado lá por no mínimo 1 095 dias nos últimos cinco anos, além de passar por um teste de elegibilidade.

Os Estados Unidos, que por um lado enfrentam uma disparada de casos de imigrantes ilegais vindos da América Central pela fronteira sul, reduziram, na outra ponta, as exigências financeiras para a obtenção do visto EB-5, específico para investidores estrangeiros que desejam morar no país. O valor caiu de 1,8 milhão de dólares para 900 000 em investimentos em grandes metrópoles, e de 900 000 para 500 000 dólares em áreas menos desenvolvidas. É uma forma conhecida de atrair estrangeiros que têm condições de gerar postos de trabalho para americanos e outros imigrantes. O país tem hoje 3,2 milhões de empreendedores de outras nacionalidades empregando 8 milhões de pessoas. Na verdade, atualmente um em cada cinco donos de negócios é estrangeiro.

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NA FINLÂNDIA - Helsinki Business Hub: o país quer atrair talentos estrangeiros -
NA FINLÂNDIA – Helsinki Business Hub: o país quer atrair talentos estrangeiros – (Reprodução/Twitter)

Entrar para investir na economia americana não é, necessariamente, o que alimenta o desejo de emigração de milhares de brasileiros, empreendedores ou não. A maioria dos interessados diz querer viver em um país seguro, no qual andar nas ruas é tranquilo. O interesse vem também da boa educação que o país oferece aos filhos de imigrantes, da simplicidade da legislação trabalhista — em oposição ao massacrante regime burocrático e tributário brasileiro que prejudica empregados e empregadores — e, como não poderia deixar de ser, do desejo de ficar longe da corrupção endêmica e da impunidade. Muitos brasileiros que viajam a lazer ou a negócios para os Estados Unidos acabam se familiarizando e criando um vínculo com a nova morada. A advogada Ana Paula Dias Marques, especialista em imigração, explica que, na hora de partir, o que conta mais são as políticas que facilitam a entrada. “Brasileiros estão sempre antenados, procurando oportunidades para emigrar, olhando o país no qual se encaixam melhor”, diz Ana Paula. “Quase sempre o sonho de fazer isso começa ainda na adolescência.”

Alemanha, Chile e Reino Unido têm programas similares aos dos Estados Unidos, e até o vizinho Uruguai discute agora benefícios fiscais para atrair estrangeiros, mas talvez nenhum esteja mais preocupado com mão de obra do que a Finlândia, considerada pela ONU “a nação mais feliz do mundo”. Assim como o Canadá, o país nórdico tem uma população em rápido processo de envelhecimento: cerca de 40% da força de trabalho está acima dos 65 anos.

Maria Carolina e suas duas filhas em Quebec -
Maria Carolina e suas duas filhas em Quebec – (//Arquivo pessoal)

“O que me fez continuar no Canadá é o grande suporte que Quebec oferece a estrangeiros residentes. Os governos local e federal pagam uma quantia significativa por criança todo mês, e a comunidade está sempre disposta a ajudar. Além disso, acredito que, no Canadá, minhas filhas poderão viver uma vida decente: comer bem, morar bem, viajar e ter tudo o que provavelmente não teriam no Brasil.”
Maria Carolina e suas duas filhas em Quebec

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Com 5,5 milhões de habitantes, ela precisa dobrar a imigração para manter os serviços públicos em funcionamento e cobrir o déficit previdenciário. Sem jovens, não há como financiar o sistema de aposentadorias. A tarefa de atração não é fácil: além do alto custo de vida, da língua complexa e do frio na maior parte do ano, a Finlândia apresenta certo sentimento xenófobo, o que muitas vezes atrapalha a contratação de estrangeiros. Por isso mesmo, como forma de atrair profissionais especializados, o governo criou um programa especial chamado Talent Boost, com o objetivo de tornar o país mais interessante no âmbito internacional. Um de seus mecanismos se baseia em um sistema de recrutamento para arrebatar trabalhadores qualificados. A agência Helsinki Business Hub, por exemplo, oferece ao estrangeiro a oportunidade de passar noventa dias na capital. A ideia é fazer com que ele conheça melhor o país durante a estada e acabe optando por fixar residência. Na última década, mais trabalhadores entraram do que saíram da Finlândia, deixando um saldo positivo de 15 000. O ritmo precisa ser acelerado para que se cumpram as metas do governo.

Como os finlandeses parecem mais interessados nos vizinhos, as opções naturais para o brasileiro talvez sejam Portugal e Itália, devido aos laços culturais formados pelas famílias que imigraram em massa para cá até meados do século passado. Em 2020, o número de brasileiros residentes em Portugal cresceu pelo quarto ano consecutivo, chegando a 184 000 — uma alta de 21,6% em comparação com o ano anterior. Empresas portuguesas estão especialmente interessadas em prestadores de serviços digitais, inclusive em empresários com produtos tecnológicos para implantar na Europa. Empreendedores do programa brasileiro Jovem Exportador têm desembarcado em Lisboa para rodadas de negociação e apresentação à livre­-iniciativa portuguesa.

EM PORTUGAL - Brasileiros do Programa Jovem Exportador: busca por especialistas digitais -
EM PORTUGAL – Brasileiros do Programa Jovem Exportador: busca por especialistas digitais – (cacb.org.br/.)

Na Itália, algumas cidades vêm oferecendo pagamento a trabalhadores que fazem home office para que se mudem para lá. Com a intenção de aumentar a população ativa, as comunas de Santa Fiora, na Toscana, e Rieti, em Lazio, oferecem 200 euros mensais de gratificação. Se a família tiver um bebê, o bônus é de 1 500 euros. E quem abrir uma pousada ou hotel para fomentar o turismo pode receber crédito de 30 000 euros.

Para quem está pensando em se aventurar fora do país, é recomendável ter em mente que nenhuma nação rica escancara as suas portas a quem for chegando. A regra de ouro da economia também vale para a imigração: os candidatos precisam ter recursos disponíveis ou alguma qualificação. Com isso, não haverá limites para o sonho de morar no exterior.

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Publicado em VEJA de 14 de julho de 2021, edição nº 2746

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