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Pablo Escobar: o maior bandido do mundo

Uma carreira feita de sangue e pó

Por Acervo VEJA
Atualizado em 9 set 2016, 12h08 - Publicado em 2 set 2016, 08h05
Perfil publicado em 26 de junho de 1991, edição 1188.
Perfil publicado em 26 de junho de 1991, edição 1188. Veja mais no Acervo VEJA. (Reprodução/VEJA)

No início da semana passada, ele era o traficante mais procurado do mundo. Na quarta-feira, ao render-se à polícia colombiana, passou a ser um dos prisioneiros mais protegidos do mundo – nem tanto para evitar sua fuga, mas para impedir a vingança de seus inimigos. Completados seus primeiros dias de cárcere, ele ainda é o criminoso mais rico do planeta. Com essa notável sucessão de superlativos, o megatraficante de cocaína Pablo Emilio Escobar Gaviria, de 41 anos, alcançou um título incontestável: ele é dono da carreira criminosa mais fulminante da era contemporânea, um equivalente ilegal dos superyuppies que construíram fortunas fabulosas durante a década de 80 nos Estados Unidos com operações na bolsa efusões de empresas. Como um autêntico self made-man, o adolescente que começou roubando carros e, segundo a lenda, afanando lápides de mármore nos cemitérios até transformar-se no chefão do Cartel de Medellín tinha amealhado antes dos 40 anos uma fortuna calculada em 3 bilhões de dólares, segundo a revista americana Forbes, ou 6 bilhões, pelos cálculos que circulam na Colômbia (ninguém pode afirmar com certeza pois Escobar não faz declaração de renda) e virou um caso raríssimo. Não existe traficante, assassino ou mafioso capar de superá-lo na rapidez e na fartura com que enriqueceu distribuindo cocaína.

Coroa Iluminada – “Subi na vida usando a cabeça, os punhos e o revólver”, costuma dizer. Ele é mesmo um bandido que se fez sozinho e à base de muito sangue. Ao contrário de John Gotti, o chefão da “família” Gambino, considerado o maior mafioso dos Estados Unidos, Pablo Escobar não ganhou o controle de uma organização já estruturada – ele próprio construiu o império da droga. Filho de camponeses, também não era membro natural de um clã de gângsters – ele mesmo criou sua máfia, com uma legião de traficantes e assassinos de aluguel. E hoje é três vezes mais rico que o grande mafioso italiano Carmine Afieri, “o Raivoso”, que lidera setenta clãs da Camorra napolitana. Criado numa família de doze irmãos, Escobar conservou o fervor por Nossa Senhora Auxiliadora, cuja imagem sempre carrega consigo ao lado da pistola alemã Sauer, de 7.65 milímetros, e o jeitão de milionário caipira. Conta-se que as mais prestigiadas casas de moda do mundo lhe enviaram catálogos e propostas de desenhos exclusivos, mas ele sempre preferiu a moda de Medellín. Suas grandes paixões de consumo, além das mansões cinematográficas e dos animais selvagens do seu zoológico particular, o maior do mundo, são os automóveis (uma coleção de Rols-Royce) e camisas de seda de mangas curtas. Sua mulher Maria Victoria Eugenia Henao prefere sapatos – 700 pares, pelo menos. Comparada à coleção de Imelda Marcos, é até pouco.

Na carreira de crimes, Pablo Escobar agiu pela cartilha clássica. Violento e vingativo, os seus inimigos ainda vivos são aqueles que exilaram do país, como o presidente da Suprema Corte, Fernando Uribe Restrepo, que em 1987 trocou o cargo vitalício na Colômbia pela aposentadoria compulsória no Equador. A mesma sorte não tiveram as testemunhas da meia dúzia de crimes que a polícia conseguiu a muito custo relacionar no seu prontuário: antes de depor em juízo, elas apareciam barbaramente assassinadas. Só a DEA, o órgão americano que combate o narcotráfico, acusa Pablo Escobar de 240 assassinatos. Se fosse extraditado para os estados Unidos, o chefão do Cartel de Medellín enfrentaria julgamentos em Los Angeles, Miami e Atlanta. Foi a garantia de que não passaria o resto da vida numa prisão americana que levou Escobar – autor da frase segundo a qual os traficantes preferem “um túmulo na Colômbia a uma cela nos Estados Unidos” – a se entregar.

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Obcecado pela ideia de que o túmulo na Colômbia possa chegar antes do tempo, cavado por seus muitos inimigos entre os rivais do tráfico e a polícia local, Escobar cercou-se de uma espetacular parafernália de segurança. A cadeia de Envigado, a cidade de 100.000 habitantes onde passou a infância miserável, fica no alto de um morro, ao qual só se tem acesso de jipe, e a 500 metros da base militar de La Catedral, instalada pelo Exército para controlar toda a área do vale, por onde se distribuem metralhadoras e baterias antiaéreas. Toda a construção, de 700 metros quadrados, foi coberta com uma malha de aço para evitar que caso seja jogada uma granada sobre o telhado ela não venha a cair diretamente sobre os prisioneiros vips. À noite, quando os refletores instalados junto à cerca eletrificada se acendem, a prisão ganha o formato onírico de uma coroa iluminada no alto da serra, dominando a cidade de Medellín lá embaixo.

“Don Pablo, o Bom” – Escobar escolheu o local da prisão a dedo. Ao estilo de Al Capone, o gângster americano que chegou a gastar 12.000 dólares para distribuir 120.000 pratos de sopa aos miseráveis da Chicago dos anos 30, o traficante colombiano também cultivou a simpatia popular com o dinheiro fácil da droga. Fez de tudo um pouco para se firmar como líder populista. Construiu 300 casas populares, espalhou quadras de basquete, vôlei e até uma pista de patinação na periferia de Medellín. Aficionado pelo futebol, sustentava a equipe do Nacional, campeão da Taça Libertadores da América. Chegou a ser eleito suplente de deputado. Ganhou o título de “Don Pablo, o bom” e o apelido de “Robin Hood das massas”. Colheu os frutos depois que começou a ser caçado ostensivamente, a partir do assassinato do ministro Rodrigo Lara Bonilla, em 1984. “Esses quase sete anos de clandestinidade foram muito duros e difíceis, mas também interessantes”, disse ele numa entrevista ao jornal espanhol El Mundo, em maio. “Realizaram muitas operações contra minha pessoa, mas sempre contei com a solidariedade dos camponeses e dos habitantes das comunidades desprotegidas. ” Arvorado em herói dos descamisados, multibilionário e poderoso a ponto de ditar regras de sua rendição, ele só não se converteu no “grande criminoso” que merece até admiração, como dizia o poeta e filósofo francês Diderot. Faltou-lhe esse título.

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