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Os três candidatos com chances reais de enfrentar Trump

Com mais de vinte pretendentes, o Partido Democrata inicia primárias em janeiro

Por Kátia Mello
Atualizado em 13 set 2019, 09h57 - Publicado em 13 set 2019, 06h30

Ainda falta mais de um ano para o dia 3 de novembro de 2020, quando os americanos irão às urnas para decidir se reelegem Donald Trump ou põem um democrata na Presidência dos Estados Unidos. Mas a máquina já está girando. Pelo lado republicano, Trump, 73 anos, declarou formalmente em junho que é, sim, candidato ao segundo mandato; três (até agora) correligionários competem com ele, sem chance alguma. Do lado democrata, a briga é muito maior: duas dezenas de esperançosos disputam a vaga de candidato do partido. Destes, metade comprovou recursos e apoio suficientes para participar do debate da quinta-­feira 12, e não mais que três contam com resultados consistentes nas pesquisas — neste momento, é sempre bom lembrar — para formar o pelotão de frente dos pré-­candidatos: Joe Biden, 76 anos, vice do ex-presidente Barack Obama; Bernie Sanders, 78 anos, senador por Vermont que também disputou a indicação com Hillary Clinton em 2016; e a caçula da turma, Elizabeth Warren, 70 anos, senadora por Massachusetts.

A partir de agora, eles serão alvo de toda a atenção e de todos os torpedos que costumam explodir em campanhas eleitorais. Aquele que emplacar a vaga no Partido Democrata terá de lidar com a vantagem natural que Trump detém na largada — com a máquina na mão, só um ultradesgastado George H.W. Bush naufragou na tentativa de reeleição à Casa Branca nas últimas quatro décadas. É verdade que as pesquisas têm castigado o atual dono da cadeira: a mais recente, conduzida pelo jornal Washington Post junto com a emissora ABC e divulgada na terça-feira 10, mostra que 56% dos americanos desaprovam a gestão Trump — entre outros motivos, pelo estilo presidencial de fuzilar aliados sem cerimônia e via Twitter, sempre o Twitter, como fez ao defenestrar seu secretário de Segurança, John Bolton (leia). O desempenho econômico, que tem catapultado o republicano até este momento, por registrar baixo desemprego e elevação na renda, encontra-se equilibrado sobre um terreno movediço. Há o temor de uma recessão à vista, indicam levantamentos recentes. E, como já ensinou um antigo assessor de Bill Clinton, é sempre “a economia, estúpido”.

O jogo ainda se mostra embaralhado, embora aos poucos as peças do tabuleiro comecem a se posicionar mais nitidamente. “Biden, Sanders e Warren de fato se separaram do resto dos pré-candidatos democratas”, diz Darrell West, vice-presidente do Brookings Institution, em Washington. West destaca a ascensão de Warren, uma relativa recém-chegada à política, que entrou no Senado em 2013 e está embolada com Sanders nos principais levantamentos. O favorito entre os democratas, com cerca de 30% das preferências, continua sendo o veterano Biden. Com pinta de bom sujeito, apesar do passado escorregadio nos quesitos racismo e sexismo, é o candidato dos moderados e dos democratas para os quais seu partido está bom como está. Carrega a vantagem de ser hoje o pré-candidato com mais chance de derrotar Trump — o cálice sagrado da cruzada presidencial democrata. Esse é, inclusive, o mote da campanha do ex-vice-­presidente. “Acho muito importante que Donald Trump não seja reeleito”, costuma repetir a quem lhe pergunta por que está competindo.

Sanders segue arrebatando os eleitores jovens, entusiastas de seus discursos anti-establishment. Todos os recursos de sua campanha são levantados entre pequenos doadores (ele não aceita contribuição de grandes empresas e milionários), e o resultado é surpreendente: em apenas seis dias, Sanders conseguiu arrecadar 10 milhões de dólares só entre a garotada com menos de 30 anos. Mas ele é hoje, como foi na campanha anterior, um socialista radical, sobretudo para os padrões americanos, pregando estudo superior gratuito e um programa de assistência médica de alcance universal que arrepia o alicerce antiestatizante, sobre o qual o país foi construído. Em um debate com Trump, dizem os analistas, provavelmente deixaria horrorizado o chamado “Estados Unidos do meio”, a porção tradicionalista, conservadora, e acabaria favorecendo o adversário.

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‘FRIENDS’ – Sanders e Elizabeth Warren: disputa pelo eleitorado mais radical (Justin Sullivan/Getty Images)

A maior novidade da trinca democrata é Elizabeth Warren, ex-professora de direito da Universidade Harvard. Especialista em falências e questões financeiras, ela migrou de apoiadora das grandes corporações para a denúncia das desigualdades — plataforma que esbarra na de Sanders, mas que vem sendo apresentada de forma mais calma e didática, de permanente bom- senso. De óculos sem aro e roupa preta com blazer colorido por cima, firmou uma imagem de progressista pragmática, escorada em muito estudo, o que causa boa impressão. Chega aos palanques anunciando que tem vinte propostas, entre elas o desmembramento de grandes conglomerados, como Google e Amazon. “Warren cresce porque é clara e muito específica em suas posições”, avalia John Pitney, professor de política americana. Contra si ela tem, tal qual Sanders, a má vontade com que democratas encaram mudanças nos princípios do partido e também uma arrastada polêmica com Trump sobre sua suposta (e não comprovada) origem indígena. A senadora caiu direitinho na lábia do presidente, que a apelidou de Pocahontas, e acabou desagradando a todo mundo, inclusive os nativos americanos. Ela pediu desculpas, mas o apelido de Pocahontas continua sendo uma sombra em seu prestígio. Neste momento das pesquisas, qualquer um dos três democratas vence Trump na eleição de 2020. Mas, como ficou escancarado no pleito de 2016, as aferições da opinião pública não são lá muito confiáveis. O que importa: as eleições americanas serão animadas.

Publicado em VEJA de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652

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