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Os protagonistas de uma discussão que deu origem à Primavera Árabe

Por Por Cecile Feuillatre
13 dez 2011, 12h36

Um vendedor ambulante, uma policial e uma discussão. Assim começou, no dia 17 de dezembro de 2010 em Sidi Buzi, a revolução tunisiana, que desencadeou logo depois a chamada “Primavera Árabe”. Os protagonistas deste dia histórico foram atropelados pelos acontecimentos.

Quase um ano depois da revolução que derrubou o Zine Abidine Ben Ali, nesta terça-feira, o novo presidente tunisiano, Moncef Marzuki, prestou juramento perante a Assembleia Constituinte e logo depois se instalou no Palácio Presidencial de Cartago.

Naquele dia 17 de dezembro, pouco antes do meio-dia, ocorreu uma discussão entre Mohammed Buazizi, de 26 anos, vendedor ambulante não autorizado, e Fayda Hamdi, agente municipal de 45 anos, que confiscou suas mercadorias. Duas horas mais tarde, o jovem ateou fogo em si mesmo em frente à prefeitura de Sidi Buzid, e as primeiras manifestações tiveram início.

Atualmente, as lembranças se opõem e se misturam nesta cidade do centro-oeste do país, que continua atingida pelo desemprego e pela pobreza que iniciaram a revolução há um ano.

Fayda Hamdi voltou ao trabalho em outubro, na prefeitura de Sidi Buzid. Sentada em um escritório sem janelas, por onde passam geladas correntes de ar, permanece inativa, “sem fazer nada, como todos por aqui”.

O prédio foi saqueado depois do anúncio dos resultados das eleições de 23 de outubro e os agentes municipais já não saem para patrulhar.

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Acusada de ter batido em Buazizi – uma versão que não é mais lembrada atualmente em Sidi Buzid – Fayda Hamdi passou três meses e meio na prisão até ser absolvida em abril, depois da revolução.

“Fui detida no dia 28 de dezembro. Servi de bode expiatório. O governo queria aplacar o descontentamento das pessoas, mas isso não acalmou nada e todos me esqueceram na prisão de Gafsa”, conta.

Fayda possui um bonito rosto no qual se percebe certo cansaço. Seus olhos são negros e penetrantes. Cobre a cabeça com um véu cinza. Leva sempre em sua carteira duas coisas: o documento onde consta sua absolvição e uma foto sua vestindo uniforme.

“Gostava muito do meu trabalho. Fui castigada por ter cumprido com meu dever: aplicar a lei”, insiste esta mulher, que tinha a fama de ser uma funcionária dura e íntegra.

Não quer falar de Mohammed Buazizi, a única coisa que diz é que ficou muito “impressionada” quando disseram a ela que ele havia ateado fogo em si mesmo.

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Seu chefe intervém, raivoso. “Ela não é culpada por ele ter se queimado! O que foi escrito é uma história incorreta, uma verdadeira obra de teatro”, explica Mohammed Salah Missaudi.

Fayda Hamdi decidiu voltar as suas funções em Sidi Buzid, apesar de ter recebido outras propostas. “Se tivesse mudado de trabalho teriam dito que teria algo a me censurar”. Apesar de seus 100 mil habitantes, Sidi Buzid é uma pequena cidade atingida pelos rumores.

Nem mesmo os familiares de Mohammed Buazizi se salvaram das fofocas e, por isso, decidiram sair da cidade.

“Falaram muitas coisas falsas. Até disseram que a mãe de Buazizi havia recebido dinheiro, que estavam aproveitando a morte de seu filho. E também quiseram manchar a reputação dele”, suspira Mohammed Amri, um dos amigos do jovem vendedor morto.

Existem pessoas que fingem que ele jamais quis se imolar, que estava bêbado quando o fez. Ao ouvir estes comentários, Mohammed Amri se levanta como se tivesse sido golpeado: “isso é mentira! Ele era um rapaz sério, correto, seu único sonho era trabalhar, construir uma casa, comprar um automóvel”.

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