La Paz, 23 jul (EFE).- O senador opositor boliviano Roger Pinto, refugiado há dois meses na embaixada brasileira em La Paz, afirmou nesta segunda-feira que o presidente Evo Morales, ao negar um salvo-conduto para garantir sua transferência ao Brasil, comete um ‘abuso’ de poder.
‘Pode me negar um salvo-conduto e, com isso, me privar da liberdade de movimento, mas não poderá me impedir de ser autenticamente livre (…) O senhor presidente abusa do poder, mas deve saber que há coisas muito mais importantes que não poderá conseguir mesmo com toda sua força’, assinala a carta que o senador opositor enviou hoje a Morales e acabou sendo divulgada pela oposição.
O Brasil concedeu asilo político ao parlamentar, que está refugiado na embaixada brasileira desde 28 de maio, mas o Governo boliviano alega que não pode dar um salvo-conduto para o senador deixar a Bolívia porque possui diversos processos judiciais em andamento.
Em carta, o senador voltou a alegar que é ‘perseguido’ pelo governo boliviano por ter denunciado casos de corrupção e vínculos de funcionários governamentais com o tráfico de drogas.
Segundo Pinto, ‘o Estado vive uma quebra moral e ética’ e, por isso, vários bolivianos tiveram que se refugiar em países vizinhos ‘pelo crime de pensar diferente’, sendo que outros encontram-se em prisões sem sentença, enquanto criminosos estrangeiros sentenciados vivem livremente e, muitas vezes, protegidos em nosso solo’.
O opositor propôs a Morales uma ‘agenda inadiável’ que inclua a adoção de uma política contra o tráfico e a delinquência e ‘anistia’ para os ‘perseguidos políticos’.
O caso do senador chegou a causar certa tensão nas relações bilaterais após o embaixador brasileiro Marcel Biato, segundo a imprensa local, ter defendido o pedido de salvo-conduto do senador para evitar problemas maiores e mais delicados.
Em resposta, a ministra de Comunicação, Amanda Dávila, deplorou a suposta ‘pressão’ feita por Biato, que ainda foi acusado de assumir um papel ‘de porta-voz político’ de Pinto.
Neste sentido, o deputado governista Roberto Rojas declarou hoje que ‘a embaixada do Brasil parece ter se transformado em uma carceragem para anti-sociais’ e que Biato ‘é defensor do senador Pinto’.
Desde que Morales chegou ao poder em 2006 dezenas de dirigentes da oposição já buscaram refúgio no Brasil, Paraguai, Estados Unidos, Peru e Espanha, entre outros países, após acusá-lo de perseguição política e argumentando que não teriam um julgamento justo na Bolívia, que, segundo eles, não possui uma justiça confiável.
Por outro lado, pelo menos 654 refugiados políticos vivem na Bolívia, segundo o chefe de missão da Organização Internacional para Migrações (OIM), Walter Arce, citada pela agência local ‘Gaia’. EFE