Cairo, 1 jul (EFE).- A oposição síria deu neste domingo novas mostras de divisão quanto à proposta de uma coalizão de potências internacionais sobre a formação de um governo transitório que inclua figuras do regime de Damasco, na véspera do início de uma reunião no Cairo que buscará aproximar posturas.
O principal órgão da oposição no exílio, o Conselho Nacional Sírio (CNS), que nesta segunda-feira participará do encontro de dois dias auspiciado pela Liga Árabe, criticou o chamado Grupo de Ação para a Síria por querer incluir membros do regime no gabinete em questão.
Formado pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Rússia, Estados Unidos, França e Reino Unido), Turquia, Liga Árabe, ONU e União Europeia (UE), o grupo sugeriu neste sábado, numa reunião em Genebra, a participação do regime sírio e da oposição em um governo transitório que conduza o país a eleições livres.
Em declarações à Agência Efe, o porta-voz do CNS Emad Hosari classificou como ‘surrealista’ a criação de tal gabinete já que, em sua opinião, os sírios seguem se opondo ao regime de Bashar al Assad enquanto continuam os massacres no país.
No entanto, o Conselho de Coordenação Nacional (CCN), principal grupo da oposição interna na Síria, demonstrou aceitar um governo de unidade com a presença de membros do regime desde que não sejam pessoas que tenham cometido crimes violentos.
‘Nossa postura sempre foi a favor de um governo nacional formado pela oposição e homens do Estado cujas mãos não estejam manchadas nem de sangue nem de corrupção’, disse à Agência Efe o ativista Saleh Mohamed, vice-coordenador-geral do CCN.
As autoridades sírias ainda não deram uma resposta oficial à proposta, mas jornais ligados ao regime Assad já divulgaram neste domingo manifestações de repúdio ao acordo por não levar em conta a opinião dos cidadãos.
Segundo um editorial do jornal estatal ‘Al Zaura’, voz credenciada do regime de Bashar al Assad, a reunião de sábado do grupo em Genebra foi um fracasso por não ter apresentado novidades e porque ‘ignorou a presença de grupos armados’ no país.
Opinião parecida foi divulgada pelo jornal ‘Al-Baath’, propriedade do partido governista homônimo, que comparou o encontro de sábado com as reuniões do Conselho de Segurança da ONU, onde as posturas de seus integrantes, segundo o periódico, ‘permanecem iguais’ – uma alusão ao respaldo que Damasco recebe de Rússia e China.
‘Nenhuma resolução da crise terá êxito se não for baseada na opinião dos sírios e na lei’, indicou o ‘Al-Baath’, que destacou que o povo sírio é ‘capaz de iniciar um diálogo nacional em que não haja espaço para países vizinhos’.
A iniciativa do Grupo de Ação para a Síria ocorre após o relativo fracasso dos esforços de mediação do enviado especial da ONU e da Liga Árabe para o país, Kofi Annan, devido ao recrudescimento da violência.
Diante desta situação, mais de 200 representantes dos grupos da oposição tanto de dentro como de fora da Síria, entre eles o CNS e o CCN, estão convidados para a reunião de segunda e terça-feira – auspiciada pela Liga Árabe – para superar as divisões a respeito da estratégia a seguir.
O porta-voz do CNS destacou que os opositores reunidos na capital egípcia devem tratar um ‘documento de acordo nacional’ que inclua um projeto de transição após a queda do regime Assad na Síria.
Este plano incluirá pontos como a separação entre a religião e o Estado, a alternância do poder, a igualdade de direitos para todos os cidadãos e as liberdades públicas.
Além disso, os opositores tentarão abrir novas vias para que flua a ajuda humanitária à Síria desde os países limítrofes por meio de organizações como a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho.
Para esta reunião, que começará nesta segunda-feira às 10h locais (5h de Brasília) em um hotel nos arredores do Cairo, também estão convidados os ministros das Relações Exteriores do Iraque, Catar, Kuwait, Egito, Tunísia, Turquia e França, segundo um comunicado da Liga Árabe.
Neste sábado, o secretário-geral adjunto da Liga Árabe, Ahmed ben Heli, indicou que o objetivo da conferência é que os diversos opositoras cheguem a ‘uma visão comum para que tenham uma postura clara, realista e prática sobre a forma de trabalhar na próxima etapa’.
Apesar das tentativas para solucionar o conflito na Síria, os grupos de ativistas opositores denunciaram neste domingo a morte de mais de 20 pessoas pelos bombardeios das forças governamentais, que atingiram sobretudo a periferia de Damasco e as cidades de Hama e Homs. EFE