ONU considera irregular afastamento de diretor que vazou documento sobre abusos
Anders Kompass repassou a autoridades da França relatório que denunciava abusos de tropas do país contra crianças no continente africano
Um tribunal de apelações da ONU julgou “irregular” a suspensão de Anders Kompass, responsável pelas operações terrestres do Alto Comissariado para os Direitos Humanos que vazou um documento com denúncias de que tropas da França estupraram crianças na África. A decisão, segundo o jornal britânico The Guardian, configura uma dura derrota para altos funcionários da ONU que defenderam o afastamento de Kompass. A alegação era de que o diretor havia infringido uma série de protocolos ao divulgar informações confidenciais para autoridades externas. Em sua defesa, o delator disse que tentou alertar a ONU sobre as acusações, mas resolveu consultar a polícia francesa ao julgar que a organização não havia se empenhado em tomar providências sobre os abusos.
Por meio de uma nota enviada ao tribunal que analisou o caso, Kompass disse que informou seu chefe em julho do ano passado sobre o vazamento das denúncias para as autoridades francesas. O afastamento ocorreu nove meses depois, no dia 17 de abril, sob a justificativa de que ele havia vazado, entre outras informações sigilosas, o nome das vítimas e dos funcionários da organização que as entrevistou. A ONU nega as acusações de que tenha tentado acobertar o problema.
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Kompass voltará a exercer suas funções em Genebra, mas uma revisão interna do caso ainda terá andamento na ONU. Thomas Laker, o juiz que emitiu a decisão, disse que havia dúvidas com relação à “substantiva legalidade” do afastamento. Ele atestou que, caso a suspensão não fosse cancelada, a carreira de Kompass poderia sofrer danos irreparáveis.
O relatório afirma que soldados franceses em missão na República Centro-Africana exploraram menores sexualmente. As acusações foram feitas por seis crianças com idades entre 9 e 13 anos. O Ministério da Defesa francês afirmou que Paris abriu sua própria investigação sobre as denúncias. Catorze militares suspeitos foram afastados da corporação.
Os abusos descritos no documento ocorreram antes da implementação da missão da ONU na República Centro-Africana e foram investigados pelo Gabinete de Direitos Humanos da ONU em Bangui, no final do segundo trimestre do ano passado. A França enviou tropas para o país africano em dezembro de 2013, depois de um golpe que derrubou o presidente François Bozizé.
(Da redação)