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‘Obama nos deu um novo senso de esperança e orgulho’

Diretora de ong que incentiva a participação política de mulheres negras explica por que vai votar em Hillary Clinton e discute o legado de Barack Obama

Por Diogo Schelp, de Washington D.C.
Atualizado em 4 nov 2016, 17h19 - Publicado em 4 nov 2016, 17h17
Nobel
Wainkinya Clanton, diretora executiva nacional da National Organization of Black Elected Legislative Women (Nobel), com sede em Washington, D.C. (Foto: Leandro Badalotti/VEJA) (Leandro Badalotti/VEJA)

Waikinya Clanton é diretora executiva nacional da Nobel Women (acrônimo em inglês para Organização Nacional de Mulheres Negras Legisladoras Eleitas), um entidade com sede em Washington, D.C, cujo objetivo é incentivar a maior participação política de mulheres negras americanas, em especial em cargos legislativos em todos os níveis. Com 259 integrantes de 43 dos 50 estados americanos, a Nobel Women é uma organização sem fins lucrativos e bipartidária, mas Waikinya não titubeia em declarar-se eleitora de Hillary Clinton. Se fosse diferente, seria um ponto absolutamente fora da curva estatística: apenas 1% dos eleitores de Donald Trump são negros e 39% são mulheres. Ela concedeu a seguinte entrevista a VEJA em seu escritório em Washington D.C.:

Washington D.C. e Maryland são as duas unidades da federação nas quais Hillary tem a maior vantagem sobre Trump. Qual  é a explicação para isso?

Eu gosto de dizer para as pessoas que, se você vive na área de Washington D.C., você vive no lugar mais seguro e também no mais perigoso do mundo. E isso porque as bases do nosso governo estão bem aqui, dentro de 26 quilômetros quadrados. Isso significa que nós levamos segurança e proteção muito a sério, e nós não nos importamos particularmente em antagonizar as pessoas, particularmente pessoas de outros países, e também de dentro do próprio país. Para nós, é uma responsabilidade ser uma parte engajada nesse processo, e temos que ter certeza de que estamos fazendo a decisão mais instruída a respeito de quem nós queremos que seja o líder do nosso país. Além disso, o presidente dos Estados Unidos é também o líder do mundo livre. Trata-se, portanto, de uma grande responsabilidade, pois é uma decisão que afeta não apenas os milhões de americanos, mas também os bilhões de habitantes do mundo. É por isso, provavelmente, que você vê a secretária Clinton (referência ao último cargo público exercido pela candidata, de secretária de Estado) indo muito bem nessa região em particular. Os moradores daqui valorizam uma escolha segura e confiam nela para fazer esse trabalho.

Então essa campanha tem mais a ver em dar um voto anti-Trump para a Hillary ?

Eu não sei se isso é verdade. Há pessoas que realmente acreditam no que Trump está dizendo, assim como há pessoas que realmente acreditam na secretária Clinton e no que ela vai fazer pelo país. No caso dos indecisos, isso pode ser verdade. E isso acontece porque, infelizmente, nossa democracia tornou-se um sistema de dois partidos. Os votos podem ir para o Partido Independente, o Partido Libertário, o Partido Verde, o Partido Livre ou vários outros, mas que geralmente não ganham muita projeção nas eleições. Na falta de uma terceira opção viável, portanto, muitos indecisos acabam dando votos anti-Trump ou anti-Clinton. Mas isso apenas mostra, em essência, que as pessoas realmente se importam com o país e que estão prestando atenção no que os candidatos estão dizendo. Elas querem garantir que estão sendo o mais responsáveis possíveis com seus votos.

Quando se pensa em eleitoras mulheres, e sobretudo em eleitoras mulheres negras, nunca houve uma divisão demográfica tão grande nos EUA. É muito difícil achar uma mulher negra que vote no Trump. Por quê?

É uma porcentagem realmente muito pequena. A primeira razão é que Trump não está falando sobre nossos problemas. As mulheres negras sempre formaram um eleitorado muito ativo, muito reflexivo, então nós conseguimos ver além dos espelhos embaçados. Quando estão em jogo as questões centrais — a economia, a educação, o sistema de saúde e a justiça criminal, que afeta muito nossas famílias — Donald Trump simplesmente não tem apelo, ele não fala sobre nossos problemas. Eu acho que ele faz generalizações em relação às pessoas. Ele considera que todos, especialmente os negros, são pessoas pobres com baixa educação, o que é realmente insultante. Além de insultante, isso reflete o quanto ele é ignorante.

Você acha ele racista?

Eu acho que ele tem muitas tendências raciais e racistas, e o que ele tem promovido nessa eleição tem sido o ódio. Trump se acha um ser superior. “Classista” talvez seja a maneira melhor de definir o que Donald Trump é. Mas é fato que ativou um aspecto muito racialmente carregado da base republicana, o que não é nada saudável para o país. Não é saudável para o que somos como pessoas. Esse não é o país no qual vivemos, e isso é criminoso, porque leva a outras coisas.

O fato de que, nos últimos anos, ocorreram protestos relacionados a crimes policiais, aumentou esse sentimento racial negativo das pessoas que pensam como Trump?

As pessoas estão cansadas, sabe. Os afro-americanos, particularmente homens afro-americanos se tornaram alvo, e nós estávamos sendo submetidos a uma cultura muito tóxica nesse país. No momento em que achamos que estávamos deixando isso para trás, aconteceu uma explosão de violência desnecessária, porque as pessoas estão bravas e nervosas. Há muita ansiedade sendo mal direcionada. Quando aparece um líder como Donald Trump, tudo fica ainda pior. O que as pessoas fazem quando elas se sentem constantemente oprimidas?

Quais foram os resultados da presidência de Brack Obama para a população negra do país?

A presidência de Obama nos deu um novo senso de esperança e orgulho, pois permitiu que as pessoas negras em particular se vissem sob outra luz. Nós sempre soubemos que eramos ótimos, mas isso nos deu uma nova escala de grandeza. É muito bom quando você consegue se ver em posições diferentes, isso dá às nossas crianças algo em que se inspirar. Elas percebem que não precisam ser só assistentes, elas podem ser líderes. A presidência de Obama nivelou o jogo de muitas maneiras, deu a todos os americanos uma chance de serem ótimos e uma chance de ter o sonho americano. Nós queremos fazer todo o possível para preservar esse legado.

Então o benefício foi mais psicológico do que objetivo?

Foi um pouco dos dois. Definitivamente foi psicológico, porque você tem crianças pequenas que nem sabiam que isso era possível. Uma criança que agora têm 8 anos não conheceu outro presidente na vida além de Obama. Isso dá uma perspectiva diferente à sua vida. Em termos de políticas públicas, o melhor que ele fez foi reformar o sistema de saúde no país e igualar os direitos para todos os americanos.

Se Hillary Clinton for eleita, que impacto isso terá para as mulheres americanas?

Eu acho que a presidência da secretária Clinton vai mudar o jogo para todo mundo, não só para os Estados Unidos, mas para o Mundo. Os Estados Unidos são vistos frequentemente como líderes. O fato de que podemos ser capazes de colocar alguém como ela nesse posto, além das questões de gênero, é impactante. Isso permite um novo olhar para as mulheres no mundo, que garotas e mulheres são tão competentes quanto homens e meninos. As mulheres geralmente têm que pensar em todos, como esposa e como mãe. Elas geralmente pensam em si mesmas por último. Ter alguém nessa posição de liderança mundial, que pense em todo mundo antes de si mesma, vai servir de grande inspiração.

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