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Obama não classificará massacre armênio de 1915 como genocídio

Mesmo com a oposição do Departamento de Estado, presidente americano optou por evitar a denominação para não criar atritos com o governo turco

Por Da Redação
22 abr 2015, 17h05

O presidente americano Barack Obama recuou de uma de suas promessas políticas e decidiu não classificar como genocídio o massacre de cristãos armênios cometido por soldados otomanos no início de 1915, quando a Armênia era parte do Império Turco-Otomano, governado a partir de Istambul. O tema foi discutido entre representantes da Casa Branca e lideranças armênias nos Estados Unidos por uma semana. A decisão de Obama teria o objetivo de evitar atritos com o governo da Turquia.

Historiadores estimam que o número de armênios mortos possa chegar a 1,5 milhão. Turcos muçulmanos reconhecem que muitas pessoas foram mortas pelas tropas otomanas, mas rejeitam a classificação de genocídio por não concordarem com os registros históricos. Durante o período em que foi senador e candidato à Presidência, Obama chegou a falar abertamente em genocídio e defendeu a responsabilidade dos Estados Unidos de reconhecê-lo como tal. Em 2008, o presidente prometeu que a Casa Branca passaria a tratar o massacre como genocídio, o que levou a atual embaixadora do país na ONU, Samantha Power, a gravar um vídeo de cinco minutos pedindo o voto de cidadãos americanos de origem armênia por ter a certeza de que Obama manteria sua palavra com relação ao assunto.

O presidente, contudo, nunca tratou do reconhecimento do genocídio desde que assumiu o poder. Em meio à guerra civil na Síria e ao combate aos terroristas do Estado Islâmico (EI) no Oriente Médio, a Turquia tem se mostrado um aliado estratégico para os Estados Unidos. O país também é integrante da Otan, e forçar uma queda de braço diplomática neste momento prejudicaria os interesses americanos na região. O jornal britânico The Guardian, no entanto, pontuou que a postura de Obama não foi bem aceita dentro de sua administração. Funcionários do Departamento de Estado e do Pentágono esperavam que o presidente fosse aproveitar as celebrações de 100 anos do massacre para reconhecer o massacre como genocídio.

Outro ponto que pode ter pesado para o recuo de Obama foi a reação desmedida do governo turco após o papa Francisco ter falado abertamente em genocídio armênio durante um sermão. Ancara não só condenou o pontífice por suas declarações como também afirmou que ele fazia parte de “uma frente diabólica” para desmoralizar a Turquia perante a comunidade internacional. “Quero lhe dar um aviso. Espero que ele não volte a cometer um erro desse tipo”, afirmou o presidente Recep Tayyip Erdogan na última semana, ao se dirigir ao papa durante um discurso.

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Entrar em rota de colisão com Erdogan no momento em que Obama se aproxima da reta final de seu mandato também seria uma prova de que a Casa Branca falhou na missão de estreitar os laços com os turcos. Os mandatários dos dois países nunca tiveram uma relação declaradamente boa e enfrentaram momentos de turbulência nos dois últimos anos, quando abusos contra os direitos humanos foram cometidos pelo governo turco contra manifestantes descontentes com as políticas de Erdogan.

Postura internacional – Após Francisco se tornar o primeiro papa a pronunciar publicamente a palavra “genocídio” em relação ao massacre, governos europeus seguiram e exemplo e já se manifestaram favoráveis ao reconhecimento. Na quarta-feira, o Parlamento da Áustria fez pela primeira vez na história um minuto de silêncio em memória aos mortos.

A cerimônia também contou com a redação, por parte dos seis grupos representados na Casa, de uma declaração conjunta reconhecendo o genocídio, mas que não foi votada por carecer de valor legal. A chanceler alemã, Angela Merkel, também apoiou um projeto de resolução que reconhece o genocídio, embora tenha advertido que isso poderá prejudicar o processo de reconciliação entre os governos de Turquia e Armênia.

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Definição – A palavra genocídio começou a ser usada com frequência depois do massacre de judeus na II Guerra Mundial. Mais de meio século depois, porém, sua definição continua a provocar discussões. Leis e correntes de estudiosos levam em conta, por exemplo, perseguições religiosas. Mas, segundo a própria origem da palavra, cometer genocídio significa tentar erradicar, por meio da violência, um grupo que possui os mesmos genes.

Desse modo, genocídio é o assassinato de pessoas baseado na sua herança genética, ou seja, suas características étnicas – importa menos, portanto, religião, classe social, nível educacional ou a crença política das vítimas. Além disso, uma característica dos genocídios é que os opressores não se satisfazem em matar apenas seus oponentes ativos, eles caçam e eliminam todos os homens, mulheres, crianças e bebês do grupo étnico transformado em alvo.

(Da redação)

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