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Obama escolheu a hora certa para apoiar casamento gay

Anúncio foi tiro certeiro no momento em que metade da população americana aceita a união, o que poderá atrair mais votos ao presidente que tenta reeleição

Por Gabriela Loureiro
20 Maio 2012, 12h38

“Barack Obama tem agora um problema de entusiasmo. As pessoas não estão tão entusiasmadas com ele como há quatro anos. Estamos vendo uma tentativa de tentar recuperar isso.”

David A. Schultz, especialista em política

Desde que Barack Obama se tornou o primeiro presidente dos EUA a apoiar publicamente o casamento gay, há pouco mais de uma semana, os homossexuais e simpatizantes dividiram-se em dois grupos: o dos esperançosos que festejam a declaração e o dos céticos que reconhecem o avanço mas suspeitam de segundas intenções. E ambos estão corretos. A comemoração é válida, pois se trata sim de um momento histórico para o país, mas também é preciso enxergar que o discurso emotivo de Obama foi, na verdade, motivado por razões puramente racionais. A começar pelo momento exato escolhido para divulgar seu posicionamento – um dia depois da publicação de uma pesquisa que diz que metade da população americana apoia esse tipo de união, no mesmo dia em que ganhava força nas redes sociais uma campanha que tenta revogar a lei que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Carolina do Norte e um dia antes de uma reportagem do jornal Washington Post revelar que o pré-candidato republicano e seu futuro rival, Mitt Romney, praticava bullying contra colegas homossexuais na adolescência. Timing perfeito.

E mesmo que um levantamento divulgado logo depois pelo jornal The New York Times mostre que 67% dos entrevistados acreditam que a atitude de Obama resulta mais de cálculo político do que de convicção pessoal, o presidente não demorou para começar a colher os bons frutos de sua declaração – em apenas uma hora e meia, os cofres da campanha democrata receberam 1 milhão de dólares em doações. E isso não foi uma surpresa, e sim o resultado já esperado de uma manobra cuidadosamente orquestrada de olho nos benefícios políticos e financeiros. “Eu não concordo com editoriais que tenho visto na imprensa falando que a decisão de Obama foi arriscada. Na verdade, acho que foi uma estratégia esperta considerando as tendências apresentadas pela opinião pública. E eu não acho que ele vai perder muitos votos, de forma alguma”, disse ao site de VEJA David A. Schultz, professor de direito e especialista em política da Universidade de Hamline, nos EUA.

Minorias – Quando foi eleito, em 2008, Obama era considerado um verdadeiro representante das minorias americanas, que viam nele um presidente revolucionário capaz de atender a todas as suas causas. Mas pouco dessa ambição foi transformada em prática e, conforme seu mandato aproximava-se do fim, ele foi sendo acusado de se inclinar para o centro e perder a coragem para enfrentar a oposição no Congresso. “Barack Obama tem agora um problema de entusiasmo. As pessoas não estão tão entusiasmadas com ele como há quatro anos. Ele decepcionou os eleitores por prometer que iria pressionar muito os republicanos em assuntos sobre os quais ele não se esforçou tanto depois. Estamos vendo uma tentativa de tentar recuperar isso”, analisa Schultz. Portanto, Obama queria – e precisava – fazer as pazes com esses eleitores o mais rápido possível, especialmente os homossexuais a quem ele havia prometido defender.

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Depois de abolir a lei discriminatória Don’t Ask, Don’t Tell (Não Pergunte, Não Conte, em tradução livre), que proibia militares de se assumirem gays, o presidente acabou voltando seus esforços a outros temas e deixou de lado a defesa dos direitos dos homossexuais. Por anos, ele relutou em se posicionar explicitamente sobre o casamento gay. E quanto mais ficava em cima do muro, maior era o risco de perder um valioso apoio para a reeleição, como enfatiza a reportagem especial publicada pela revista Newsweek sob o título O Primeiro Presidente Gay dos EUA. “Houve, é claro, frieza política por trás disso. Um em cada seis dos responsáveis por angariar fundos para a campanha de Obama é gay, e ele precisa do dinheiro deles”, diz o artigo assinado por Andrew Sullivan, blogueiro político e homossexual assumido. Além disso, completa Sullivan, alguns doadores gays já haviam ameaçado abandonar o democrata. Confira, na lista abaixo, as declarações dele sobre o tema ao longo dos anos:

Indecisos – Outro campo onde Obama pode angariar novos votos é no de eleitores indecisos – sempre determinantes nas eleições dos EUA, um país praticamente dividido ao meio quando o assunto é política. Pesquisas de opinião revelam que, proporcionalmente, a maioria deles seria a favor do casamento gay, o que vai beneficiar o atual presidente, uma vez que seu adversário, Mitt Romney, fez questão de reforçar sua posição contra o casamento entre homossexuais no mesmo dia em que o democrata se declarava a favor. “As pessoas que não vão votar em Obama por causa da sua posição sobre casamento gay já desconfiavam que ele se posicionaria assim e não votariam nele de qualquer forma”, pondera o especialista em política, acrescentando que, enquanto Obama conseguir direcionar os debates às questões sociais, estará em vantagem. “Se as pessoas olharem para as eleições como um referendo sobre a economia, ele pode perder. Mas, agora, ele praticamente fez da eleição um referendo sobre casamento gay – e se fortificou.”

E apesar de muito ter sido dito sobre uma possível pressão a que o presidente estaria sendo submetido depois que seu vice, Joe Biden, declarou-se a favor do casamento gay, Schultz acredita em outra hipótese: até a fala de Biden teria sido planejada, como um teste para avaliar a repercussão entre os eleitores sem queimar a imagem de Obama. “Estou convencido de que o apoio de Joe Biden foi o que chamamos aqui de um ‘balão de ensaio’, para ver como os EUA reagiriam. Se a reação fosse positiva, o presidente poderia fazer a mesma coisa”, sustenta o professor. Fato é que um líder com a força política de Obama não daria um passo em direção a um terreno tão escorregadio sem saber onde está pisando. Como bem definiu o blogueiro político Andrew Sullivan em seu artigo na Newsweek, esse caso permite definir o presidente como dois políticos em um: de um lado, o frio, calculista, implacável e com nervos de aço; do outro, aquele que, no fim, só quer fazer a coisa certa.

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