Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O indesejado amigo do presidente

Os protestos contra uma premiação a Bolsonaro nos EUA são resultado das diatribes nas redes sociais, a arte aprimorada por Donald Trump

Por Lúcia Guimarães, de Nova York
Atualizado em 10 Maio 2019, 07h00 - Publicado em 10 Maio 2019, 07h00

Todos os anos, em setembro, Nova York, como sede da ONU, amarga um desfile de ditadores, cleptocratas vitalícios e genocidas vocacionais. Eles circulam pela metrópole com tanta proteção, presos a veículos blindados, que mal percebem os protestos convocados por dissidentes e exilados. Manda a etiqueta política que se tolere de tudo — esse padrão foi rompido uma única vez, recentemente, em 1995, quando o então prefeito, o republicano Rudolph Giuliani, pediu a saída do líder palestino Yasser Arafat do Lincoln Center, com a Nona Sinfonia de Beethoven prestes a começar.

O presidente Jair Bolsonaro esbarrou na ira de outro prefeito, o democrata Bill de Blasio, que foi ao Twitter para espinafrar a presença do brasileiro numa noite de gala no Museu Americano de História Natural, na qual receberia o título de Pessoa do Ano concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Bolsonaro desistiu da viagem. Em entrevista ao programa de Luciana Gimenez, ele resumiu a ópera: “Ir para sua casa para ser maltratado eu não vou”. De Blasio, candidato a candidato à Presidência dos EUA, apesar da popularidade no chão, celebrou quando soube da desistência: “Seu ódio não é bem-vindo aqui”. Costura-se, agora, uma visita de Bolsonaro ao Texas.

Há, por trás da pressão que encurralou o presidente, o feitiço virando contra o feiticeiro. Tendo se aliado a Donald Trump, que governa por meio de tuítes, num moto-perpétuo de insultos e conflagração, Bolsonaro experimentou do veneno. Os diretores do Museu de História Natural receberam mensagens ácidas reclamando da postura torta de Bolsonaro em relação ao meio ambiente e aos índios. A Glaad, entidade pioneira na defesa da comunidade LGBT, entrou na briga. “Nos bastidores, fizemos sucessivos contatos com o museu”, disse a VEJA Zeke Stokes, diretor de programas da Glaad. “Explicamos as posições extremistas de Bolsonaro e sua retórica violenta.” A ONG procurou também patrocinadores do evento: a companhia aérea Delta, o jornal Finan­cial Times e a consultoria Bain & Company, que acabaram se desligando da homenagem. Outro adversário da visita foi o senador estadual Brad Hoylman. Militante gay, ele deflagrou um abaixo-assinado eletrônico que já passa de 78 000 adesões.

“Não temos nada contra a Câmara de Comércio”, afirma Stokes. “Nosso problema é com o tributo a Bolsonaro.” Com tantos protestos, a gala foi transferida do Museu de História Natural para o hotel Marriott, mas sem Bolsonaro. Continua com inúmeros patrocinadores, como Itaú, Bradesco, Morgan Stanley e Citigroup, mas suas marcas sumiram da página da internet que anuncia o evento. A vida de Bolsonaro para além do alto escalão dos EUA está dura mesmo. Em março, quando se encontrou com Donald Trump na Casa Branca, foi recebido com protestos: “Not him”.

Publicado em VEJA de 15 de maio de 2019, edição nº 2634

Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.