Subir ao 26º andar do Trump Tower em Nova York é como entrar em um parque temático cujo assunto, único e soberano, é Donald Trump, o senhor do edifício de Manhattan que dá o toque dourado à Quinta Avenida. A primeira imagem que se vislumbra lá de cima é o retângulo verde do Central Park. O anfitrião chegou com o topete em riste, o sorriso fixo, o peito estufado: “Gostou? Tenho a melhor vista de Nova York!” O mármore cor de rosa que cobre as paredes do prédio também é o melhor, explicou. Foi escolhido a dedo por ele, em viagem a Itália. “Olhei, amei, mandei vir de lá.” Por nada lembrava o nome da cidade italiana onde comprou as pedras.
Esse foi só o começo do passeio pela Disney de Trump, que fiz em 19 de fevereiro de 2014, para uma entrevista de Páginas Amarelas de VEJA. Cercado de assessores, ele me conduziu a seu escritório cheio de bibelôs com histórias. O capacete foi dado pelo astro do futebol americano Tom Brady (Trump jura que teve seu voto; Gisele Bündchen, a esposa, não confirma). O cinto é de Mike Tyson, o “maior”, ele define. Conhecido pela obsessão em ter as mãos limpas – em entrevista a Larry King apertou a mão do apresentador e depois pediu uma toalha – ele não pareceu muito incomodado ao manusear um tênis tamanho família do ex-astro da NBA Shaquille O’Neal.
Mas o melhor, melhor mesmo, está nas paredes. Tema da exposição? Donald Trump. Capas e capas de revista exibem o dono da sala em etapas diferentes: o começo como construtor de arranha-céus; o começo, o meio e o fim como celebridade. “Supero qualquer supermodelo”, gabou-se. De todas as capas, sua preferida é aquela em que posou para a Playboy, bem mais topetudo aos 43 anos do que aos 70. “O engraçado é que, mesmo sendo um homem na capa, essa foi uma das edições que mais venderam em toda a história da revista”, falou. Será que faria sucesso hoje?
Sim, claro. À época da entrevista a VEJA, estava à frente do programa O Aprendiz. Contou que era só descer os vinte e seis andares que o separavam da rua para causar alvoroço em um dos pontos mais pulsantes de Manhattan. “I lo-ve” (pronunciava assim mesmo, enrolando a língua e enfatizando cada sílaba). Além de popularidade, dinheiro e poder, listou, o programa lhe trazia a admiração das mulheres – “as do Brasil são deslumbrantes”. Calma aí! O homem que coleciona duas separações barulhentas e outros tantos enroscos parou e teve um momento: “Não quero problema para o meu lado…” Lembrou-se subitamente da ex-modelo eslovena e agora primeira-dama Melanie Trump, 46 anos, com quem está casado desde 2005. Trocam ideias em inglês. “Não sei uma palavra de esloveno”, gargalhou.
Admirando Nova York do topo, ele já falava, naquele fevereiro de 2014, do sonho-mor: a Casa Branca, “um lugar especial” e …. “um lugar especial”. Terá de ficar mais longe agora do mármore cor de rosa de que tanto gosta, dos dourados que emolduram suas janelas e da penthouse onde vive com Melanie e Barron, o filho de 10 anos, nos três andares que coroam o Trump Tower, um ícone do capitalismo nos anos 80. Estilo do apartamento? Louis XIV, o monarca francês que se auto apelidou “Rei Sol” e dizia: “O Estado sou eu.”
Ao fim de uma hora de entrevista, Trump, diante da dúvida sobre a autenticidade de seu topete, desafiou: “Quer puxar?” Puxei. Pareceu firme. Em seguida, posou com a sua vista ao fundo, despediu-se com um aperto de mão (nenhuma toalha à vista) e deixou todos os dentes à mostra em sorriso largo. Já no térreo, uma pequena Trump Store vendia camisas e gravatas com sua grife. Em destaque na prateleira, A Arte de Fazer Negócios, que ele escreveu e mantém na cabeceira. É o único livro que realmente lhe prende a atenção.
Fim do tour.