Em artigo, Robert Skidelsky diz que a política de enfrentamento de Putin frente ao Ocidente provocará sanções que diminuirão o seu apoio entre a população
Por Robert Skidelsky
28 ago 2014, 19h06
O presidente russo, Vladimir Putin Ivan Sekretarev/Pool/Reuters
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Pode ser que Vladimir Putin tenha (ou não) 80% de apoio popular na Rússia devido à sua política na Ucrânia, mas ficou cada vez mais claro que ele abocanhou mais do que ele pode mastigar. A pergunta é: em que momento a sua posição como presidente se tornará insustentável?
Deixemos de lado os antecedentes geopolíticos e morais do imbróglio na Ucrânia. Os russos têm a justificativa, acredito, em sua postura de que o Ocidente se aproveitou da debilidade da Rússia pós-comunista para invadir o espaço histórico do seu país. A doutrina Monroe pode ser incompatível com o direito internacional contemporâneo, mas todas as potências com força suficiente para impor uma esfera estratégica de interesse o fazem.
Também acredito que se justifique a opinião de Putin de que um mundo multipolar é melhor do que um mundo unipolar se é para fazer avançar a causa da prosperidade humana. Nenhuma potência ou coligação é suficientemente sábia ou desinteressada para reclamar a soberania universal.
Dessa maneira, não deve ser nenhuma surpresa que a Rússia e outros países tenham começado a construir uma estrutura institucional para a multipolaridade. A organização de cooperação de Xangai, que inclui a Rússia, a China e quatro ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, estabeleceu-se em 2001. No mês passado, os cinco países do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – criaram o novo Banco de Desenvolvimento e Acordo de Reservas de Contingência para diversificar as fontes de crédito oficial aos países em desenvolvimento.
A política “não condicionada” dos membros dos Brics desafia explicitamente as condições impostas pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional aos solicitantes de crédito, embora a política ainda não tenha sido testada. Na verdade, é impossível imaginar os líderes chineses aprovando um crédito a um país que diz reconhecer Taiwan ou que aceita as reivindicações de independência tibetanas.
Mas o fato é que a Rússia é demasiado frágil para desafiar ainda mais o Ocidente, pelo menos da forma que o fez na Ucrânia. O PIB da Rússia é de aproximadamente dois trilhões de dólares e sua população de 143 milhões de pessoas está diminuindo rapidamente. Os Estados Unidos e a União Europeia têm um PIB combinado de aproximadamente 34 trilhões de dólares e uma população de 822 milhões, com a população dos EUA crescendo a níveis acelerados. Isto significa que o Ocidente pode causar muito mais danos à Rússia do que a Rússia pode causar ao Ocidente.
Nem a União Soviética no auge de seu poder era uma superpotência. Com uma economia de aproximadamente um quarto do tamanho da dos Estados Unidos, ela pôde manter o equilíbrio militar gastando quatro vezes mais do seu rendimento nacional em defesa, como os EUA fizeram – em detrimento do nível de vida dos cidadãos comuns do país.
Hoje, o equilíbrio de poder é ainda mais desigual. A economia da Rússia é menos dinâmica e seus armamentos estão deteriorados. Conserva uma extraordinária capacidade nuclear, mas é inconcebível que a Rússia a use para conseguir os seus objetivos na Ucrânia.
Assim, ficamos ante um final da crise em que Putin não poderá reter seu espólio – a Crimeia e o controle das áreas de língua russa na região oriental da Ucrânia – nem retroceder. A Rússia deverá devolver esses territórios como condição para normalizar as suas relações com o Ocidente. No entanto, é mais provável que Putin apoie os separatistas do leste da Ucrânia o maior tempo possível – talvez com assistência militar encoberta como ajuda humanitária – e se recuse absolutamente a entregar a Crimeia.
Isto conduzirá a uma nova escalada de sanções ocidentais: restrições às exportações de gás e às exportações em geral, suspensão da Organização Mundial do Comércio, a retirada da Copa do Mundo de Futebol da FIFA de 2018 e assim por diante. Isto, em conjunto com o endurecimento das sanções atuais, incluída a exclusão de bancos russos de mercados de capitais ocidentais, provocará escassez grave, declínio de padrões de vida e mais problemas para a classe dominante russa.
A reação natural dos russos será apoiar seu líder. Entretanto, o apoio a Putin, embora seja amplo, pode não ser intenso. É um respaldo que se dá antes que se tenham debatido os custos que terão as políticas de Putin. O controle estatal dos meios de comunicação e a repressão da oposição freiam essa discussão.
É natural e até mesmo correto pensar em possíveis acordos: a garantia de neutralidade da Ucrânia, uma maior autonomia regional, dentro de uma Ucrânia federal, uma administração internacional interina na Crimeia que supervisione um referendo sobre seu futuro e medidas similares. (Continue lendo o texto)
1/61 Idosa é acolhida após o prédio em que ela morava ser atingido por um bombardeio nos arredores de Donetsk, leste da Ucrânia (VEJA.com/Reuters)
2/61 Bombeiro tenta combater incêndio em uma casa que foi bombardeada em Donetsk, leste da Ucrânia (Maxim Shemetov/AFP)
3/61 Mulher caminha em hospital atingido por míssil em Donetsk, na Ucrânia (VEJA.com/Reuters)
4/61 Portões do Ministério de Defesa da Ucrânia em chamas durante protesto contra a dissolução do batalhão em Kiev (Valentyn Ogirenko/Reuters)
5/61 Membro do Ministério da Defesa da Ucrânia tenta prender membro do batalhão "Aydar", que adentrou o complexo do Ministério durante protesto contra a dissolução do batalhão em Kiev (Valentyn Ogirenko/Reuters)
6/61 Moradores deixam suas casas após bombardeio na cidade de Ienakiieve, na Ucrânia (Maxim Shemetov/Reuters)
7/61 Mulher chora ao ver casas atingidas pelos bombardeios na cidade de Ienakiieve, na Ucrânia (Maxim Shemetov/Reuters)
8/61 Mulher anda com carrinho de bebê em frente à cruzes postas no chão em homenagem aos mortos do bombardeio na cidade de Mariupol, Ucrânia, por combatentes pró-Rússia no último dia 24 de janeiro (Valentyn Ogirenko/Reuters)
9/61 Pelo menos 21 pessoas morreram e 46 ficaram feridas, num bombardeamento durante a manhã de sábado, em Mariupol, na zona leste da Ucrânia (Stringer/Reuters)
10/61 Pelo menos 13 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas após um morteiro atingir um trólebus em Donetsk, no leste da Ucrânia. Mais de 5.000 pessoas morreram na guerra travada desde abril de 2014 entre o Exército ucraniano e os separatistas pró-russos no leste do país (VEJA.com/Reuters)
11/61 Pessoas carregam uma vítima de um projétil que atingiu um trólebus, em Donetsk (Reprodução/TV/VEJA)
12/61 Imagem aérea tirada por drone no dia 15/01/2015 mostra edifício do Aeroporto Internacional Sergey Prokofiev danificado por bombardeios durante combate entre separatistas pró-Russia e as forças do governo ucraniano, em Donetsk, leste da Ucrânia (VEJA.com/Reuters)
13/61 Imagem aérea tirada por drone no dia 15/01/2015 mostra edifício do Aeroporto Internacional Sergey Prokofiev danificado por bombardeios durante combate entre separatistas pró-Russia e as forças do governo ucraniano, em Donetsk, leste da Ucrânia (Army.SOS/Reuters)
14/61 Imagem aérea tirada por drone no dia 15/01/2015 mostra edifício do Aeroporto Internacional Sergey Prokofiev danificado por bombardeios durante combate entre separatistas pró-Russia e as forças do governo ucraniano, em Donetsk, leste da Ucrânia (VEJA.com/Reuters)
15/61 Imagem aérea tirada por drone no dia 15/01/2015 mostra edifício do Aeroporto Internacional Sergey Prokofiev danificado por bombardeios durante combate entre separatistas pró-Russia e as forças do governo ucraniano, em Donetsk, leste da Ucrânia (VEJA.com/Reuters)
16/61 Imagem aérea tirada por drone no dia 15/01/2015 mostra edifício do Aeroporto Internacional Sergey Prokofiev danificado por bombardeios durante combate entre separatistas pró-Russia e as forças do governo ucraniano, em Donetsk, leste da Ucrânia (Army.SOS/Reuters)
17/61 Vista geral do aeroporto em março de 2014 (Google/Reprodução)
18/61 Fumaça no Aeroporto Internacional de Sergey Prokofiev danificada por bombardeios durante a luta entre os separatistas pró-russos e forças do governo ucraniano, em Donetsk - 12/11/2014 (VEJA.com/Reuters)
19/61 Fumaça no prédio administrativo do Aeroporto Internacional de Sergey Prokofiev após o bombardeio entre separatistas pró-russos e forças do governo da Ucrânia, em Donetsk - 09/11/2014 (VEJA.com/Reuters)
20/61 Mulher em seu apartamento, após recente bombardeio em Donetsk, na Ucrânia - 05/11/2014 (VEJA.com/Reuters)
21/61 Pássaros voam perto da torre de controle de tráfego do Aeroporto Internacional de Sergey Prokofiev, danificada por bombardeios durante combates entre separatistas pró-Rússia e forças do governo ucraniano na semana passada, em Donetsk, na Ucrânia oriental - 9/10/2014 (Shamil Zhumatov/Reuters)
22/61 O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, durante visita à base militar da região fronteiriça de Kiev, em 7/10/2014 (Valentyn Ogirenko/Reuters)
23/61 Rebelde pró-Rússia se prepara para tomar posição perto do Aeroporto Internacional de Sergey Prokofiev, durante os combates com as forças do governo ucraniano, na cidade de Donetsk, na Ucrânia oriental - 4/10/2014. Apesar do cessar-fogo decretado na região, ambos os lados combatentes creem um longo conflito (Shamil Zhumatov/Reuters)
24/61 Manifestantes ultranacionalistas ucranianos protestam contra a concessão de auto-governo nas áreas sob o controle dos rebeldes pró-Rússia nas regiões de Donetsk e Lugansk, em frente à Presidência em Kiev - 17/09/2014 (Sergey Dolzhenko/EFE)
25/61 O parlamentar Vitaly Zhuravsky foi atirado dentro de uma lata de lixo por manifestantes ucranianos (Reprodução/Ukraine Today/VEJA)
26/61 Ativistas do grupo Femen protestam em frente ao Mosteiro de Pechersk Lavra em Kiev. O grupo protestava contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou, que apoia a intervenção russa na Ucrânia - 11/09/2014 (Valentyn Ogirenko/Reuters)
27/61 O presidente ucraniano, Petro Poroshenko visitou à cidade costeira de Mariupol em demonstração de solidariedade aos cidadãos em apuros e prometeu defendê-los dos separatistas pró-Rússia - 08/09/2014 (Vasily Fedosenko/Reuters)
28/61 Alunos da Escola de Cadetes durante o primeiro dia na academia militar de Kiev, Ucrânia - 01/09/2014 (Tatyana Zenkovich/EFE)
29/61 Pedaço de projétil fotografado no meio da estrada para o aeroporto de Donetsk, Ucrânia - 01/09/2014 (Maxim Shemetov/Reuters)
30/61 No primeiro dia de curso, aluno da Escola de Cadetes, de Kiev, mostra um desenho em que aparecem as banderias da Ucrânia e da Rússia - 01/09/2014 (Tatyana Zenkovich/EFE)
31/61 Alunos prestigiam a cerimonia que marca o começo ano escolar em Slaviansk, Ucrânia - 01/09/2014 (Gleb Garanich/Reuters)
32/61 Gato anda entre escombros de casa destruída em recente bombardeio em Ilovaysk, leste da Ucrânia - 31/08/2014 (Maxim Shemetov/Reuters)
33/61 Na imagem, uma coluna de fumaça preta sobre o fogo é vista na pequena cidade de Novoazovsk, na região de Donetsk, ao sul da Ucrânia, em 27/08/2014. O país solicitou ajuda da OTAN depois de relatar que um grande comboio de tanques e armamentos russos estava se movendo ao sudeste das fronteiras ucranianas (Alexander Khudoteply/AFP)
34/61 Fogo consome uma escola no centro de Donetsk, cidade controlada pelos rebeldes no leste da Ucrânia, depois de ser atingida por um bombardeio (Francisco Leong/AFP)
35/61 Membros do batalhão de defesa nacional são vistos durante uma marcha em frente ao escritório da Administração Presidencial, em Kiev, como forma de apoio aos soldados que cumprem missão no leste da Ucrânia (Valentyn Ogirenko/Reuters)
36/61 Soldado ucraniano em posto de controle perto da cidade de Donetsk, a maior do leste da Ucrânia (Anatolii Stepanov/AFP)
37/61 Mulher chora após conflito entre rebeldes e militares ucranianos ter deixado mortos nos arredores de Donetsk, ao leste do país (Sergei Karpukhin/Reuters)
38/61 Novos voluntários do batalhão de defesa ucraniano Azov, são vistos em frente a Catedral de Santa Sofia, antes do juramento de fidelidade ao país, em Kiev; Os voluntários partirão em seguida para a Ucrânia oriental (Valentyn Ogirenko/Reuters/VEJA)
39/61 Membro da força-tarefa especial da polícia ucraniana Kiev-1 patrulha a aldeia ucraniana de Semenovka perto Sloviansk (Gleb Garanich/Reuters/Reuters)
40/61 Soldados ucranianos inspecionam um tanque destruído usado por rebeldes pro-Rússia, em Slaviansk na Ucrânia (Maxim Zmeyev/Reuters/VEJA)
41/61 O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, com os membros do esquadrão especial da polícia nacional, na cidade de Slaviansk; O Governo da Ucrânia mantém pressão militar contra os rebeldes pró-Rússia, exigindo que os separatistas deponham as armas (Gleb Garanich/Reuters/VEJA)
42/61 Soldados do governo ucraniano assumem posição em um campo do girassol cerca de 20 km ao sul de Donetsk; A ação integra parte de uma campanha para cercar a cidade e a vizinha, Lugansk, que também é controlada por separatistas pró-Rússia (Dominique Faget/AFP/VEJA)
43/61 Forças ucranianas se deslocam para o norte da região de Donetsk para participar de uma operação anti-terrorista contra os rebeldes pró-Kremlin (Genya Savilov/AFP/VEJA)
44/61 As Forças Armadas da Ucrânia começaram na madrugada desta sexta-feira (2) uma operação militar em Slaviansk, no sudeste do país, para retomar o controle da cidade (AFP/VEJA)
45/61 Ao menos 40 pessoas morreram em combates entre tropas ucranianas e milícias no Aeroporto de Donetsk, na Ucrânia (Ivan Sekretarev/AP/VEJA)
46/61 Homem é observado por membros das forças de segurança durante um comício fora do edifício sindical ucraniano que pegou fogo ontem (2) em Odessa, na Ucrânia (Gleb Garanich/Reuters/VEJA)
47/61 Imagem do líder bolchevique Vladimir Lenin é vista em frente à barricada no centro de Slovyansk, na Ucrânia (AP/VEJA)
48/61 Forças Armadas da Ucrânia cercam posto de controle perto de cidade controlada por separatistas (Vasily Maximov/AFP/VEJA)
49/61 Observadores da OSCE detidos desde sexta-feira (25), participam de uma coletiva de imprensa do líder separatista pró-Rússia e auto-proclamado "prefeito do povo" na cidade ucraniana de Slavyansk (Vasily Maximoc/AFP/VEJA)
50/61 Na Geórgia, manifestantes realizam ato contra a cooperação do país com a Rússia e o envolvimento de Moscou na Ucrânia (Vano Shlamov/AFP/VEJA)
51/61 Forças armadas da Ucrânia planejam lançar Operação anti-terrorista contra os separatistas pró-Rússia elevando os riscos de um confronto militar com Moscou (Shamil Zhumatov/Reuters/VEJA)
52/61 Homem armado representando as forças especiais da Ucrânia monta guarda em frente a um prédio público ocupado anteriormente por manifestantes pró-Rússia (Olga Ivashchenko/Reuters/VEJA)
53/61 Trabalhadores limpam barricada construída por separatistas pró-Rússia em frente ao prédio administrativo de Carcóvia, na Ucrânia (Anatoliy Stepanov/AFP/VEJA)
54/61 Deputados se agridem no Parlamento ucraniano (YURIY KIRNICHNY / AFP/VEJA)
55/61 Observado por policiais ucranianos, homem mascarado balança bandeira russa diante de prédio da administração regional de Donetsk, no leste da Ucrânia (Alexander Ermochenko/AP/VEJA)
56/61 Ativistas pró-Rússia tomam prédio administrativo da cidade de Donetsk, no leste da Ucrânia (Alexander Khudoteply/AFP/VEJA)
57/61 Ativistas pró-Rússia montam uma barricada em frente a um edifício das forças de segurança de Donetsk, leste da Ucrânia (AFP/VEJA)
58/61 Manifestantes pró-Rússia levantam barricada diante de prédio público na cidade de Kharkiv, leste da Ucrânia (Reuters/VEJA)
59/61 Ativistas pró-Moscou aplaudem durante votação improvisada no prédio do governo regional de Donetsk, no dia 7 de abril, quando o grupo declarou a criação de uma ‘república independente’ (Reuters/VEJA)
60/61 Homens que ocuparam o prédio principal da administração regional improvisam votação pela criação de uma ‘república popular’ em Donetsk, no leste da Ucrânia (Alexander Khudoteply/AFP/VEJA)
61/61 Grupos pró-Moscou entram em conflito com manifestantes favoráveis à manutenção da integridade territorial da Ucrânia em Kharkiv, no leste do país (Reuters/VEJA)
A questão não é em que medida Putin estaria disposto a aceitar esse tipo de pacote, mas se lhe ofereceriam algum. O Ocidente já não acredita em nada do que ele diz. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o acusou publicamente de mentir. A chanceler alemã, Angela Merkel, que era quem mais o apoiava na Europa, supostamente disse que ele está fora de juízo (aparentemente a gota d´agua foi a sua tentativa de culpar o governo ucraniano pela queda do voo MH-17 da Malaysia Airlines).
Todos os líderes mentem e dissimulam em certa medida, mas a escala de desinformação que sai do Kremlin é enorme. Então, uma pergunta deve ser feita: o Ocidente está preparado para fazer as pazes com Putin?
Os líderes cujas aventuras de política externa acabam em derrota geralmente não sobrevivem muito tempo. Mecanismos formais são usados para destroná-los – como ocorreu, por exemplo, na União Soviética, quando o Comitê Central forçou Nikita Kruschev a deixar o poder em 1964 – ou ainda, mecanismos informais entram em jogo. A elite do poder de Putin começará a fraturar-se – na verdade, é possível que esse processo já tenha começado. Crescerá a pressão para a sua retirada. Será dito que não é necessário que seu país caia junto com ele.
É provável que um cenário assim, inimaginável há apenas alguns meses, já esteja se configurando à medida que a crise na Ucrânia se aproxime de seu fim. A era Putin poderia terminar mais cedo do que nós pensamos.
Robert Skidelsky é membro da Câmara dos Lordes da Grã-Bretanha e professor emérito de política econômica na Universidade de Warwick.