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O Evangelho verde de Francisco

Na encíclica 'Laudato Si' (Louvado Sejas), o papa põe a Igreja Católica no centro de uma das questões unânimes de hoje — a preocupação com o ambiente

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 jun 2015, 22h51

Não espanta que o primeiro papa a emprestar o nome de São Francisco de Assis, o frade de sandálias que pregava com os pássaros e cantava para o irmão Sol e a irmã Lua, dedique uma encíclica aos cuidados com o ambiente. É o caso, na leitura das 192 páginas da Laudato Si, Louvado Sejas, de Francisco, o jesuíta habituado às armadilhas do peronismo argentino, de entendê-la de modo um pouco menos ingênuo. A encíclica de Mario Jorge Bergoglio é uma peça política. Sua intenção primeira, além de atrair simpatia por meio de um tema quase unânime, os desmandos do ser humano na antessala do aquecimento global, é tacar fogo na Conferência sobre o Clima de Paris, em dezembro próximo, da qual sairá um documento para substituir o Protocolo de Kyoto, caducado depois de dez anos, e que estipulava as metas de emissão dos gases que provocam o chamado efeito estufa. Os Estados Unidos não o assinaram, mas vão pôr sua rubrica agora, sobretudo porque Barack Obama, em fim de mandato, nada mais tem a perder. “As encíclicas não são feitas no vácuo”, diz o arce¬bispo de Miami, Thomas Wenski. “Elas têm longa tradição de aplicar os ensinamentos morais do catolicismo a problemas sociais contemporâneos.” As primeiras encíclicas de um papado, longas meditações sobre algum tema de extrema relevância, costuma ser considerada programática para o resto do pontificado. A Laudato Si é a carta de intenções de Francisco. Diz dom Sergio da Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: “A importância deste texto vai muito além da Igreja”.

“A desigualdade não afeta apenas os indivíduos, mas países inteiros, e obriga a pensar numa ética das relações internacionais (…). O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da Terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das cultivações. (…) A dívida externa dos países pobres transformou-se num instrumento de controle, mas não se dá o mesmo com a dívida ecológica.”

Não há, nas palavras de Francisco divulgadas com pompa e circunstância na semana passada, a virulência contra o livre mercado de seus dias inaugurais como Vigário de Cristo. Em sua exortação apostólica, a Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), de 2013, ele afirmou que “enquanto os problemas dos mais pobres não forem radicalmente resolvidos através da rejeição da absoluta autonomia dos mercados e da especulação financeira, e atacando as causas estruturais da desigualdade, não encontraremos solução para os problemas do mundo”. Agora não, Francisco foi menos incisivo, mais cauteloso, nitidamente sensato. A Laudato Si poderia ter sido escrita pelos cientistas que compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vencedor do Nobel da Paz, embora depois tenham mergulhado em sucessivos escândalos de malversação de estatísticas a serviço de uma causa nobre.

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