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“O euro vai acabar e a União Europeia vai ruir”, diz filósofo John Gray

De acordo com o filósofo, os primeiros sinais desse desmonte da Europa já são visíveis nas nações mais ao sul do continente, como Espanha, Itália, Portugal e, sobretudo, Grécia

Por Diego Braga Norte e Rita Loiola
7 jul 2015, 16h23

Em sua passagem pelo Brasil para o evento Fronteiras do Pensamento, o filósofo britânico John Gray fez valer sua alcunha de “profeta do apocalipse”, apesar de não concordar com ela. Nesta terça-feira, em uma palestra para jornalistas no auditório da Editora Abril, Gray não tergiversou e foi direto ao ponto ao ser questionado sobre o futuro da Europa: “O euro vai acabar e a União Europeia vai ruir”, disse sem meias palavras. O filósofo, porém, afirmou que essa ruptura não será radical, de uma hora para outra, mas “inevitavelmente virá”.

Gray explicou que “os processos de destruição de instituições e valores não são inteligentes e ordenados como as construções”. Ele acredita que o fim do euro vai ser um problema “enorme” para a Europa, assim como o esfacelamento gradual da União Europeia. “O futuro não será muito diferente do passado. E a Europa tem uma história de quedas”.

De acordo com o filósofo, os primeiros sinais desse desmonte da Europa já são visíveis nas nações mais ao sul do continente, como Espanha, Itália, Portugal e, sobretudo, Grécia. “Não dá para condenar metade ou um terço da Europa à margem, é insustentável”, avalia. Para o filósofo, a grave crise econômica está alterando as escolhas políticas em muitos países e influenciando a tomada de decisões.

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“O comunismo e a URSS, com todo aquele poder e influência, ruíram e é ingenuidade nossa crer que a União Europeia vai durar para sempre. Não vai, e não sou eu que falo isso, muitos outros economistas e historiadores também falam. A história nos mostrará que estamos provavelmente certos”, analisa Gray. Para ele, a ascensão de partidos radicais tanto de esquerda como de direita na França, Holanda, Espanha, Grécia e em outras nações não é um sintoma isolado, mas um novo padrão que representa novas aspirações da sociedade.

‘Profeta do apocalipse’ – Gray discorda de sua fama de pessimista e se considera como um estoico, fiel à linhagem filosófica de Michel de Montaigne, Sêneca e Marco Aurélio. “Podemos viver bem sem acreditar que o mundo vai necessariamente melhorar”, afirma. Gray considera que há uma confusão e uma má interpretação dos termos evolução e progresso, e os dois conceitos nem sempre caminham juntos ao longo da história da humanidade. Ele justifica sua postura afirmando que a “ciência e a tecnologia evoluem, mas o ser humano não” e, por isso, “conceitos éticos, morais e políticos” avançam e retrocedem de acordo com muitas variantes.

Árduo defensor das liberdades civis e das instituições democráticas, John Gray não vê com bons olhos ações e acontecimentos que considera como “derrotas” para nossos valores como seres humanos. “Avançamos, mas perdemos muito ao longo do caminho. A permissão da tortura e das prisões arbitrárias feitas pelo Estado é uma derrota que abala as nossas instituições”, avalia. Para ele, as ideologias, de esquerda e de direita, o populismo e o oportunismo danificam as instituições e suas consequências, mesmo que não se revelem no presente, são inevitáveis e imprevisíveis. “As instituições e nossos valores servem para nos proteger dos outros seres humanos. Mesmo com falhas, elas fazem ainda algo mais importante, resguardam os mais fracos dos mais fortes. Vale a pena lutar por isso e defendê-las”, conclui.

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Biografia – Professor e acadêmico com passagens pelas universidades de Oxford, Harvard e London School of Economics, Gray ganhou projeção global com uma obra classificada de pessimista e com suas incisivas críticas às utopias e às ideologias que moldaram o século XX e seguem nos influenciando no século XXI. Entre outras obras, ele é autor de livros como “Al Qaeda e o que Significa Ser Moderno”, “Cachorros de Palha”, “Missa Negra”, “A Busca da Imortalidade” e “A Anatomia de Gray”, todo editados no Brasil pela Record.

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