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O discurso racista de um diretor do banco central sacode a Alemanha

As ideias de Thilo Sarrazin foram transformadas em livro, que está sendo lançado no país

Por La Vanguardia
30 ago 2010, 18h52

A chanceler Angela Merkel qualificou as declarações de “inaceitáveis” e disse que espera uma reação do Bundesbank

Ex-ministro da economia da cidade-estado de Berlim durante nove anos, membro do partido SPD (social-democrata) e hoje na junta diretiva do Bundesbank (o banco central alemão), Thilo Sarrazin fez seu nome no ano passado com um discurso retrógrado contra os imigrantes. Sua plataforma é muito simples: a degeneração da nação alemã por causa do fluxo de imigrantes, segundo ele, “gente que não se adapta e de nível de inteligência baixo, que, para desgraça da nação, se reproduz a um ritmo muito superior ao dos alemães”.

“Quarenta por cento de todos os nascimentos são registrados nas camadas baixas”, o que diminui continuamente o nível de educação, em vez de elevá-lo”, declarou no ano passado à revista Lettre International, referindo-se à situação de Berlim. “Árabes e turcos são duas ou três vezes mais prolíficos que a média, e muitos deles nem querem, nem são capazes de integrar-se”, disse. Agora, Sarrazin transformou suas ideias em livro que será lançado hoje, com o título “A Alemanha Desmorona”. Sua tese é bem similar ao discurso nacionalista dos anos 1920 e 1930 na Europa, que na Alemanha teve sua pior e mais radical expressão ao desembocar numa ideologia racista exterminadora de judeus. “Os imigrantes custam mais do que aportam e, entre eles, os muçulmanos são piores por razões culturais”, disse.

No livro, Sarrazin insiste em que a Alemanha “está aceitando tornar-se menor e idiota” por causa da afluência de pessoas procedentes da “Turquia, Oriente Médio e África”. Ontem, em uma entrevista ao diário Welt am Sonntag, acrescentou uma frase sobre o determinismo genético dos povos: “todos os judeus possuem um determinado gene, os bascos dividem um gene particular que os distingue”, disse. Essa referência aos judeus foi a gota d’água, ainda que Sarrazin não seja anti-semita, e sim alguém contra a imigração e contra os muçulmanos. “Alguém que trata de definir aos judeus por suas características genéticas está dominado pelo racismo”, manifestou-se Stephan Kramer, representante do Conselho Central dos Judeus na Alemanha.

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Quando o membro da direção do Bundesbank desqualificou no ano passado a imigração turca, dizendo que sua única possível vantagem econômica foi o comércio de frutas e verduras, incluiu considerações sobre a bondade da população judia alemã anterior ao Holocausto, economicamente eficaz e empreendedora. “Queríamos uma imigração como aquela”, disse então. Na Alemanha vivem quase 2 milhões de imigrantes turcos, e o presidente da comunidade turca, Kenan Kolat, pediu publicamente no sábado que se destitua Sarrazin de posto no banco central alemão. Com a referência de ontem aos judeus, a proposta encontrou finalmente eco institucional.

“No debate político não cabem declarações que fomentem o racismo e o anti-semitismo”, disse o vice-chanceler Guido Westerwelle. O barão de Guttenberg, ministro da Defesa, disse também que com esse comentário sobre o gene judeu “Sarrazin cruzou a linha da provocação”, sugerindo que deve ser destituído.

A chanceler Angela Merkel qualificou as declarações de “inaceitáveis” e disse que espera uma reação do Bundesbank. Também o SPD “se dispõe a examinar o fato de tal personagem continuar no partido”, declarou sua secretária-geral, Andrea Nahles. O futuro de Sarrazin parece decidido, mas seu livro, à venda hoje, poderá ser um sucesso editorial.

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