Eric San Juan.
Manila, 23 dez (EFE).- As autoridades das Filipinas informaram nesta sexta-feira que chega a mais de mil o número de desaparecidos nas enchentes que ocorreram há quase uma semana no sul do país, e que até o momento deixaram 1.080 mortos.
De acordo com o Centro Nacional de Prevenção de Desastres, a revisão do número de desaparecidos, que subiu de 51 para 1.079 em um dia, foi feita por equipes enviadas às cidades afetadas para colher informações com pessoas que ainda buscam por parentes.
No entanto, o diretor do órgão, Benito Ramos, disse em entrevista à rádio ‘DZBB’ que deu instruções para interromper a apuração de desaparecidos até que todos os corpos fossem identificados.
‘Não queremos criar alarde entre a população. É possível que alguns dos corpos não identificados sejam de pessoas dadas como desaparecidas’, afirmou.
A Cruz Vermelha filipina, que fez uma apuração paralela, calcula em 841 o número de mortos e em 919 o de desaparecidos.
‘Só contamos o que pudemos confirmar, os mortos e desaparecidos que possuem nomes e sobrenomes. É muito provável que estes números sejam maiores, pois aumentam à medida que obtemos mais informações’, disse à Agência Efe o presidente desta organização humanitária, Richard Gordon.
As equipes de resgate continuam encontrando corpos que foram arrastados até o mar, alguns próximo ao litoral de Bohol e Cebu, ilhas situadas a cerca de 100 quilômetros das cidades mais afetadas, Iligan e Cagayan de Oro.
Nestes locais, os sepultamentos começaram a ser feitos em valas comuns à medida que os corpos são identificados.
‘Ontem sepultamos 44 e hoje serão várias dezenas, de acordo com o que disserem os legistas. Enquanto isso, estão todos dentro de um hangar próximo ao aeroporto’, explicou o prefeito de Cagayan de Oro, Vicente Emano.
Das 674.472 pessoas desabrigadas pelas enchentes, 48.980 estão amontoadas nos 45 centros de apoio onde as condições de higiene são precárias.
As autoridades sanitárias mobilizaram recursos para prevenir surtos de doenças infecciosas que podem gerar epidemias diante do quadro de insalubridade e pela falta de água potável nos povoados mais atingidos.
‘Por enquanto não há casos de infecções e só foram diagnosticadas diarreias, principalmente entre as crianças. Instalamos um sistema de filtragem da água com capacidade para 40 mil litros por dia em Cagayan de Oro e outro de 3 mil litros por hora em Iligan’, declarou Gordon.
Outro perigo é a propagação do tétano, pois muitos dos 1.979 feridos sofreram golpes e cortes de telhados de alumínio e as vacinas são escassas.
O presidente da Cruz Vermelha explicou que entre os sobreviventes há ainda o mal-estar por conta da perda dos parentes.
‘Outro dia encontramos um sobrevivente jogado no meio da estrada que não queria mais comer, dizia que não fazia sentido viver. Perdeu sua casa, sua esposa e seus oito filhos na enchente. Nunca vi um desastre assim’, relatou.
A tempestade tropical ‘Washi’ atingiu a região norte de Mindanao e as ilhas Visayas entre a madrugada de sexta-feira e a manhã de sábado, destruindo 13 províncias.
Os danos causados pela tempestade ultrapassam US$ 23 milhões, principalmente em estradas, pontes, hospitais e escolas.
Cerca de 9,5 mil casas ficaram totalmente destruídas e outras 18,6 mil foram parcialmente danificadas.
O presidente filipino, Benigno Aquino, declarou na terça estado de calamidade nacional e anunciou a criação de um fundo especial de US$ 26,6 milhões.
A ONU solicitou na quinta-feira que seus países membros doem um total de US$ 28,6 milhões nos próximos três meses, enquanto a União Europeia (UE) divulgou uma ajuda de 3 milhões de euros e mais 900 mil euros só da Espanha.
Os especialistas apontam a favelização como o principal fator para o alto número de mortos e também o mal estado de conservação das infraestruturas, segundo as agências internacionais.
O desmatamento sem controle também influencia nas enchentes e deslizamentos, frequentes durante a estação chuvosa, que vai de maio até novembro. EFE