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Novos movimentos na guerra mostram Zelensky enfraquecido e Putin ganhando terreno

Ucrânia segue sob bombas — e elas só irão parar de cair se ficar tudo muito bem combinado com o russo

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 dez 2025, 08h00

Vestido de farda camuflada em um anúncio que de tão coreografado parecia até peça de teatro, Vladimir Putin exaltou, na segunda-feira 1º, a conquista de Pokrovsk, maior vitória militar da Rússia em quase dois anos de um conflito com a Ucrânia que já se arrasta há quase quatro, o mais longo desde a Segunda Guerra. A queda de cidade tão estratégica para as engrenagens de guerra do lado ucraniano, cortada por estradas e vias férreas, fez Putin estufar o peito: “Estamos na direção certa e vamos continuar avançando”, informou durante uma conferência em Moscou. Pode soar paradoxal tamanha exibição de força militar justamente agora que um acordo de paz vem mobilizando altos escalões de parte a parte, tudo liderado pelo governo Donald Trump e observado pelos europeus com mais distância do que gostariam. Pois o avanço na frente de batalha tem tudo a ver com as atuais tratativas. Enquanto a situação não ata nem desata, apesar dos variados movimentos no intrincado xadrez — o mais recente deles uma conversa de Steve Witkoff, o negociador oficial dos Estados Unidos, com Putin, no dia seguinte à conquista de Pokrovsk —, o russo vai ganhando território e melhores condições para tecer a trégua que depende sobretudo dele.

Para se ter uma ideia da complexidade do trato, esta é a sexta vez que Witkoff se despenca para Moscou, desta vez para tentar aparar as afiadas arestas de um plano apresentado por Trump para lá de favorável à Rússia — a ponto de não haver dúvida de que ali tinha dedo do Kremlin. A Ucrânia naturalmente rejeitou, o texto sofreu ajustes, mas segue ainda bastante vantajoso para os russos. A primeira versão dava garantias a Moscou de que a Ucrânia não entraria na Otan e que a aliança militar do Ocidente não caminharia na direção da fronteira russa. Também a nação comandada por Volodymyr Zelensky teria seu exército reduzido, e o Kremlin anexaria territórios para além do que já engoliu, na região do Donbass. “A pressão sobre meu país está em seu ponto mais intenso”, reagiu Zelensky, cuja margem de manobra é cada vez mais estreita diante da exaustão de Trump com o prolongamento de uma contenda que prometeu encerrar em 24 horas. Só não contava com a teimosia expansionista de Putin.

CACIFE BAIXO - Zelensky: cada vez mais pressionado pela Casa Branca
CACIFE BAIXO - Zelensky: cada vez mais pressionado pela Casa Branca (The Presidential Office of Ukraine/.)

O propósito do documento americano ao elevar a régua das demandas russas, segundo atentos observadores do conflito, seria baixá-la um pouco após as costuras diplomáticas, bem ao estilo Trump. E assim o documento de 28 tópicos recuou para 19, mantendo uma franca vantagem para Putin, mas tornando a virtual derrota ucraniana menos retumbante, embora ainda uma derrota clara. Por ora, ficaria em suspenso o debate sobre o ingresso do país na Otan, assim como seria adiado o acerto sobre quanto de terreno a Ucrânia cederia ao adversário. A única boa notícia para Zelensky seria um aceno de proteção no pós-guerra por parte dos Estados Unidos, tudo ainda muito vago e sujeito ao aval russo. Na quarta-feira 3, Dmitry Peskov, o porta-voz do Kremlin, adiantou: “Alguns pontos nós aceitamos, mas outros são inadmissíveis”.

Se os russos ainda não parecem suficientemente satisfeitos, um enfraquecido Zelensky tenta como pode angariar mais apoio, como na ida recente a Paris, onde se reuniu com o presidente Emmanuel Macron e conversou a seu lado com líderes europeus por telefone. Alguns países, temerosos de um avanço russo, até lançaram nos últimos dias programas de incentivo ao recrutamento militar, incluindo a própria França. Mas, com recursos limitados, eles vêm se resignando ao papel de coadjuvantes nas negociações encabeçadas pela Casa Branca e a toda hora se põem na mira da raivosa retórica movida a ameaças de Putin. “Não planejamos guerra com a Europa, mas, se quiserem, estamos prontos”, disparou o russo. Em meio a tantos obstáculos, Trump não esconde a impaciência com Zelensky — outro dia, teria depositado na lata de lixo mapas com as linhas de frente enviados por autoridades ucranianas. “A Ucrânia e a Europa não ousam hoje dizer um não a Trump”, afirma Nigel Gould-Davies, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, sediado em Londres.

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DEVASTAÇÃO - Pokrovsk, recém-conquistada: sob domínio inimigo
DEVASTAÇÃO - Pokrovsk, recém-conquistada: sob domínio inimigo (Russian Defense Ministry/Anadolu/Getty Images)

Para complicar a situação de Zelensky, seu governo anda enredado em um escândalo de corrupção que já custou a cabeça de dois ministros e, na semana passada, a de seu chefe de gabinete e braço direito, Andriy Yermak, que liderava as negociações. “O caso pode fazer com que aliados tenham menos boa vontade com a Ucrânia”, avalia Tetyana Malyarenko, especialista em segurança da Universidade Nacional de Odessa. Nos dois lados do ringue há sangria de recursos e baixas humanas, mas é evidente que para os ucranianos a equação é mais dura — os soldados estão escasseando, e Moscou vem colhendo vitórias às custas da devastação do vizinho. Prevista para este mês, uma cúpula da União Europeia poderá decidir os destinos de ativos russos congelados, o que seria para lá de bem-vindo para o começo dos trabalhos de reconstrução da Ucrânia. Mas o país segue sob bombas — e elas só irão parar de cair se ficar tudo muito bem combinado com o russo.

Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973

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